Andar na ponta dos pés é uma condição comum, que pode atingir até 24% dos bebês e crianças com desenvolvimento neuropsicomotor normal. A origem da marcha em pontas é desconhecida, por isso é chamada de idiopática.
Entretanto, nos últimos anos, os especialistas têm sugerido que andar na ponta dos pés pode estar relacionado a déficits no processamento das informações sensoriais do sistema tátil.
Algumas crianças desenvolvem respostas negativas ou até mesmo aversivas a algumas situações que demandam o tato.
Sensações desconfortáveis
Segundo a fisioterapeuta Walkíria Brunetti, especialista em fisioterapia neurológica, a marcha na ponta dos pés costuma aparecer quando a criança aprende a andar.
“A partir dos primeiros passos, o bebê começa a sentir as sensações que são captadas pelas solas dos pés. Com isso, uma parte dessas crianças pode apresentar reações de hipersensibilidade às texturas, temperatura e outras sensações táteis”, explica.
“A solução que essas crianças encontram para reduzir esse desconforto é elevar os pés. Com isso, há redução da área de contato com a superfície, que fica concentrada nos dedos. Essa sensibilidade pode ser maior ou menor, dependendo do piso. Areia, lama, grama ou tapetes mais ásperos, por exemplo, podem agravar o desconforto”, comenta Walkíria.
Primeiros passos
Normalmente, a criança começa a andar na ponta dos pés quando está aprendendo a caminhar. A condição pode persistir após os dois anos de idade. Além disso, a marcha em pontas ocorre em crianças com desenvolvimento psicomotor normal.
“Essas crianças, portanto, são capazes de realizar o apoio da planta do pé no chão por completo, mas não o fazem. É importante entender que essa condição é diferente da marcha equina, ligada a doenças neurológicas, como a paralisia cerebral”, comenta Walkíria.
Outra característica importante é que a criança anda na ponta dos dois pés, ou seja, é bilateral. Para o diagnóstico, é preciso ainda que tenha uma duração superior a três meses.
Marcha precisa ser corrigida
Mesmo sendo uma condição benigna, é preciso corrigir a marcha. “Andar na ponta dos pés pode ser potencialmente perigoso para a saúde musculoesquelética. Nem sempre se resolve sozinho. A avaliação de um especialista é fundamental”, alerta a especialista.
“O problema reside na repetição do movimento. A marcha constante na ponta dos pés pode causar dores nas pernas e pés, aumentar as quedas e tropeços e dificultar a prática de atividades físicas e esportes”.
“A posição incorreta do calcanhar durante a marcha pode levar ao encurtamento do tendão de Aquiles, dos músculos da parte de trás do joelho e da cadeia muscular da coluna. A criança também vai desenvolver um padrão de marcha que leva o tronco para frente e isso altera a postura”, diz Walkíria.
Terapia de integração sensorial
A marcha na ponta dos pés pode ser tratada de várias maneiras. Atualmente, a terapia de integração sensorial é uma das mais usadas nesses casos. A terapia consiste na correção da marcha a partir da criação de estímulos para que a criança comece a processar as sensações de forma organizada.
“Podem ser usados diversos recursos para essa finalidade, como cama elástica, rampas, balanços, túneis de tecido e escorregadores. Também são usadas diferentes superfícies para incentivar a adaptação da marcha”, comenta Walkíria.
Incentivos em casa
Além das sessões de terapia de integração sensorial, os pais podem trabalhar com algumas técnicas em casa para ajudar no processo.
Em casa, é possível criar algumas brincadeiras com grãos de arroz, areia, sagu, tapetes, toalhas etc. A ideia é colocar cada um desses materiais em um pedaço de papelão ou caixa de sapato, por exemplo, para a criança pisar em uma espécie de circuito.
Outra atividade interessante é a pintura com os pés em uma cartolina, deixando pegadas na superfície. O lúdico é a melhor maneira de aprendizado na infância. A partir da brincadeira, os pais dão continuidade à terapia.
Por último, após o banho, os pais podem massagear os pés da criança com um creme, de forma suave.
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