
Com o fim das celebrações de Santo Antônio, no dia 13 de junho, os olhos e os festejos populares se voltam para o próximo santo do mês: São João Batista. Ele é o homenageado do dia 24 de junho e figura como um dos personagens mais reverenciados nas festas juninas.
Mas, afinal, quem foi São João? E por que seu nome está tão enraizado nas tradições religiosas e culturais do Brasil?
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De acordo com os relatos bíblicos, João Batista foi o homem que batizou Jesus Cristo. Considerado primo de Jesus — já que suas mães, Isabel e Maria, seriam parentas — João nasceu cerca de seis meses antes do Messias cristão. Sua missão, segundo a fé cristã, foi a de preparar o caminho para aquele que viria depois dele.
“Ele é o profeta que anuncia a chegada do Cordeiro de Deus. Uma figura com forte influência na época, conhecido como a voz que clama no deserto e testemunha da luz, que é Jesus”, explica o padre Felipe Cosme Damião Sobrinho, professor de teologia da PUC-SP.
Longe de qualquer rivalidade com Cristo, João Batista sempre se colocou como precursor. “Quando Jesus inicia sua pregação, João se retira. Sua missão era anunciar e preparar. Toda a sua pregação era sobre conversão, e quando o Messias chega, ele entende que seu papel foi cumprido”, pontua o padre Fábio Enrique de Souto, da Universidade Católica de Brasília.
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Martírio e datas litúrgicas
João Batista teve um fim trágico. Foi preso por ordem de Herodes Antipas e decapitado a pedido de Salomé, filha do governante. A morte, segundo a tradição, teria ocorrido em 29 de agosto do ano 29. No entanto, a data comemorativa dedicada a São João ocorre em 24 de junho, quando se celebra o seu nascimento.
Isso o torna um caso raro: entre os santos católicos, é um dos poucos com duas datas litúrgicas — uma para o nascimento e outra para a morte. “A Igreja o reconhece como o precursor de Jesus, tanto no nascimento quanto na missão e na morte. Por isso, a data de nascimento também é motivo de festa”, diz Sobrinho.
Além disso, o fato de, supostamente, João ter nascido seis meses antes de Jesus — que, pela tradição, teria vindo ao mundo em 25 de dezembro — ajudou a estabelecer a celebração em 24 de junho. Essa convenção, entretanto, só foi firmada por volta do século IV.
Festa junina tem origem pagã
Antes de ser um marco religioso, o dia 24 de junho já era celebrado na Europa por coincidir com o solstício de verão do Hemisfério Norte — um período associado à fartura da colheita. Eram festas pagãs, posteriormente absorvidas pelo calendário católico, especialmente entre os séculos XII e XIII.
“A Igreja incorporou essas celebrações dentro do calendário litúrgico. São festas que já ocorriam por causa da agricultura e do solstício. A Igreja cristianizou esses rituais”, explica Valéria Rocha Torres, doutora em Ciências da Religião pela PUC-SP.
Com a chegada dos portugueses ao Brasil, essas tradições foram trazidas para cá. “Os portugueses celebravam as chamadas festas joaninas, e aqui elas foram adaptadas. Ganhamos as festas juninas, com forte influência da cultura indígena na alimentação, como os pratos à base de milho, e elementos europeus, como as quadrilhas”, completa Enrique de Souto.
Tradição viva no Brasil
As festas de São João se fortaleceram especialmente no interior do Nordeste, onde o catolicismo popular encontrou terreno fértil. No sertão, o mês de junho se tornou tempo de fé, colheita, celebração e resistência cultural.
Fogueiras, balões, danças e simpatias fazem parte do imaginário popular. “A fogueira é símbolo forte de São João. Ela representa a luz anunciada por João Batista e tem também um lado simbólico ligado à tradição: Isabel, mãe de João, teria acendido uma fogueira para avisar Maria que estava prestes a dar à luz”, relata Souto.
Assim, João Batista não apenas é lembrado como o precursor de Jesus na tradição cristã, mas também se transformou em ícone cultural. Mais do que uma celebração religiosa, São João representa um pedaço vivo da memória afetiva de milhões de brasileiros — e uma das maiores festas populares do país.
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