Centenas de milhares de pessoas foram às ruas de Teerã nesta segunda-feira (6) para o funeral do general Qassim Suleimani, no mesmo dia em que aumentaram os pedidos para que o país se vingue dos EUA pela morte do general.

Tanto seu substituto no comando da Força Quds, unidade de elite da Guarda Revolucionária do Irã, quanto o presidente Hasan Rowhani voltaram ao assunto e fizeram referência a uma possível ação contra Washington.

Na última sexta (3), um ataque de drone ordenado pelo presidente americano, Donald Trump, matou Suleimani e outras nove pessoas no aeroporto de Bagdá.

O general Esmail Ghaani, escolhido como sucessor do morto no comando da força de elite, prometeu prosseguir com a causa de Suleimani e "livrar toda a região dos Estados Unidos".

"Deus todo poderoso prometeu que terá sua vingança e Deus é o maior vingador", afirmou ele a TV estatal. "Com certeza ações serão tomadas".

Em um discurso também transmitido pela TV estatal, Zeinab, filha do comandante morto, também disse que ação contra seu seu pai terá consequências.

"A América e o sionismo [referência a Israel] deveriam saber que o martírio do meu pai levará a um despertar no front da resistência e trazer um dia escuro para eles e demolir suas casas. Trump louco, não pense que tudo está terminado com o martírio do meu pai", afirmou.

Já o presidente Rowhani usou as redes sociais para responder o presidente americano. "Nunca ameace a nação iraniana", escreveu.

No fim de semana, Trump disse que iria responder militarmente caso o Irã atacasse os EUA e que poderia atingir 52 alvos, alguns de "muita importância para o Irã e para a cultura iraniana".

O número faz uma referência aos 52 americanos feitos reféns na embaixada do país em Teerã após a Revolução Islâmica em 1979. Rowhani, porém, respondeu na mesma moeda.

"Quem se refere a 52 deveria lembrar também do número 290", escreveu ele em uma rede social, fazendo referência ao número de mortos na queda de um avião civil iraniano em 1988 -a aeronave foi derrubada por um navio militar americano.

O corpo de Suleimani, que era considerado um herói nacional, chegou nesta segunda a capital do Irã depois de fazer um tour por outras cidades do país e do vizinho Iraque.

O cortejo fúnebre continuará até terça (7), quando o general será enterrado em Kerman, sua cidade natal, o colocará fim aos três dias oficiais de luto no país. O líder supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei, prometeu já tinha prometido uma "vingança implacável" contra os EUA após o período de luto.

Segundo a polícia, milhões de pessoas participaram dos atos na capital, os maiores no país desde o funeral do aiatolá Ruhollah Khomeini, em 1989. As ruas de Teerã foram completamente tomadas de pessoas vestidas de preto aos gritos de "morte a América".

Carregando cartazes com o retrato do general, as pessoas se reuniram nos arredores da Universidade de Teerã, onde o líder supremo presidiu as cerimônias e orações pelo general.

Próximo de Suleimani, o tradicionalmente sisudo Khamenei chorou copiosamente durante a homenagem.

​Cercado por Rowhani, pelo presidente do Parlamento, Ali Larijani, do comandante da Guarda Revolucionária do Irã, general Hossein Salami, e por outras autoridades, o aiatolá fez uma oração pouco depois das 9h30 (3h em Brasília), em frente ao caixão de Suleimani.

O caixão de do general foi então envolto pela bandeira iraniana e levado, de mão em mão, sobre as cabeças da multidão.

A ação que matou Suleimani fez a tensão na região aumentar drasticamente, o que levou o secretário-geral da ONU, António Guterres, a afirmar nesta segunda que o mundo vive seu momento mais delicado neste século.

O general era um dos principais adversários dos EUA na região, responsável por comandar as ações secretas do Irã em países como Líbano, Síria, Iêmen e Iraque. De acordo com a conta feita pro Washington, o militar iraniano foi indiretamente responsável pela morte de ao menos 700 militares americanos em todo o mundo.

Os EUA confirmaram que a ação foi autorizada pessoalmente pelo presidente Donald Trump e anunciaram que vão mandar outros 3.000 soldados para o Oriente Médio para ajudar na segurança.

Estados Unidos e Irã romperam as relações diplomáticas em 1979, mas passaram por uma reaproximação durante o governo de Barack Obama. Isso culminou com a assinatura do acordo nuclear em 2015, do qual participavam também o Reino Unido, a França, a Alemanha, a China e a Rússia, com apoio da ONU.

​Em 2018, os EUA, sob comando de Trump, deixaram o acordo, e a partir daí a tensão entre os dois países foi aumentando, com trocas de acusações entre os líderes dos dois países.

O governo iraniano anunciou neste domingo (5) que o país vai deixar de cumprir as exigências do acordo de 2015, colocando assim um ponto final no pacto. Na prática, isso significa que o Irã não limitará mais o grau de enriquecimento de urânio que pode utilizar e nem o número de centrífugas que tem direito.

Foto: Reprodução / Twitter

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