Um dos maiores temores de quem usa redes sociais e  aplicativos de mensagens é ter seus dados e conversas vazadas, por mais inofensivas que sejam. O medo geralmente vem em razão de uma quebra de confiança que estaria guardado sob a tão falada criptografia que as empresas oferecem. Contudo, tudo isso pode ter um preço.

Ken McCallum, chefe do MI5, uma das agências de inteligência britânicas, acusou o Facebook de dar um ‘passe livre’ para terroristas e abusadores de crianças com seu plano de implantar a criptografia de ponta a ponta no Instagram e no Messenger.

McCallum afirmou que esse tipo de decisão é capaz de impactar a segurança digital das pessoas ao redor do mundo. Por isso, disse que o que se discute nas salas de diretoria das gigantes do Vale do Silício na Califórnia passou a ter efeito direto no trabalho do serviço secreto tanto quanto as decisões tomadas por grupos radicais no Afeganistão ou na Síria. O chefe do MI5 deu as declarações em uma entrevista feita na última quinta-feira (20) à Times Radio.

Ele falou também que os planos do presidente executivo do Facebook Mark Zuckerberg, permitiriam aos terroristas planejar ataques pelo Messenger e pelo Instagram sem serem visíveis aos serviços de segurança:

“Se você tem criptografia de ponta a ponta sem absolutamente nenhum meio de decodificar essa criptografia, você está, na verdade, dando a terroristas e abusadores um passe livre com o qual eles sabem que ninguém poderá ver o que estão fazendo.”

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McCallum fez uma comparação com o que acontece na vida real. Ele disse que se o serviço secreto descobre que há alguém construindo uma bomba ou filmando um vídeo de tortura em sua casa, as autoridades podem solicitar um mandado judicial para entrar na casa e averiguar o que está acontecendo.

Segundo ele, é fundamental que o mesmo aconteça no mundo online: “se nós podemos com um mandado entrar naquela casa e verificar se uma bomba está de fato sendo construída, precisamos ter essa capacidade no mundo online também.”

O chefe nacional de contraterrorismo do Reino Unido, Neil Basu, que acompanhava McCallum na entrevista, enfatizou: “pessoas podem morrer e criminosos podem abusar de crianças sem sofrer as consequências se o Facebook continuar com seu plano de colocar a privacidade antes da segurança.”

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McCallum garantiu que não pretende construir um “estado de vigilância” com "uma câmera na sala de todos”. Ele explicou que só espera que o Facebook mantenha o conteúdo visível para ser repassado, se necessário: “é essencial que, nas raras ocasiões onde exista uma preocupação muito embasada e onde um juiz decida que o acesso a essas informações seja necessário e proporcional, possamos ter uma parceria com as empresas para acessar o conteúdo dessas comunicações trocadas por suspeitos perigosos.”

Após a entrevista do chefe da agência do serviço secreto, o Facebook se manifestou através de nota. Confira:

“A criptografia forte é essencial para manter todos protegidos contra hackers e criminosos e já é a tecnologia de segurança líder usada por muitos serviços.

Não toleramos terrorismo ou exploração infantil em nossas plataformas e estamos criando fortes medidas de segurança, incluindo o uso de informações como padrões de comportamento, para combater tais abusos.

Continuaremos a trabalhar com especialistas do setor, agências de segurança pública e de segurança para combater a atividade criminosa e manter as pessoas seguras em todas as nossas plataformas.”

Os planos do presidente executivo do Facebook Mark Zuckerberg, permitiriam aos terroristas planejar ataques pelo Messenger e pelo Instagram sem serem visíveis aos serviços de segurança. Foto: Nicolly Vimercate/TechTudo

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