A queda da taxa de câmbio volta a refletir nesta sexta-feira (1º) o apetite do mercado pelo Brasil. Às 16h, o dólar chegava a R$ 4,67. Após fechar em alta na quarta-feira (30), a moeda americana rondava as cotações do início da pandemia de Covid-19, em março de 2020, e caminhava para fechar com uma queda trimestral de aproximadamente 15%, a maior desde junho de 2009.
Assim como ocorreu na véspera, o dólar perde valor nesta quinta contra quase todas as moedas de países emergentes. A alta frente ao real na quarta (30) foi exceção.
A fraqueza da divisa americana demonstra o interesse de investidores internacionais em faturar com os juros altos que economias em desenvolvimento estão pagando enquanto os títulos do tesouro de nações economicamente desenvolvidas, principalmente os dos Estados Unidos, oferecem retorno negativo em relação à inflação.
O real garantia nesta sessão o quarto melhor retorno de juros, atrás apenas do peso argentino, do rublo russo e da lira turca, nessa ordem. Atualmente a taxa básica de juros brasileira (Selic) é de 11,75% ao ano, com expectativa de chegar a 12,75%, frente a uma inflação na casa dos 7%. Ou seja, os juros reais estão perto de 6% ao ano.
O apetite de investidores estrangeiros pelos juros pagos pela renda fixa de países emergentes nesta sessão pode ter respaldo também no plano americano para frear a inflação global com um despejo de petróleo no mercado. Como subir juros é a resposta mais elementar dos bancos centrais à alta de preços, um ataque à principal causa da inflação reduz expectativas sobre aumentos acima do esperado das taxas de crédito.
PETROBRAS E VALE SUSTENTAM IBOVESPA
Na Bolsa de Valores do Brasil, a alta do setor de commodities sustentava ligeiro avanço de 0,05% do Ibovespa, a 120.500 pontos.
As ações mais negociadas da Petrobras subiam 1,39%. Os papéis da estatal brasileira lideravam a lista dos ativos mais movimentados, apesar da queda do petróleo. A mineradora Vale também aparecia nessa lista, com um ganho de 0,27%.
PETRÓLEO CAI COM PLANO DE BIDEN PARA LIBERAR RESERVAS DOS EUA
A administração de Joe Biden está avaliando um plano para liberar aproximadamente um milhão de barris de petróleo por dia das reservas estratégicas dos Estados Unidos, disseram fontes ligadas à gestão do presidente americano à agência de notícias Bloomberg.
Até 180 milhões de barris poderiam ser liberados durante alguns meses. O plano é usar as reservas para combater a inflação dos combustíveis, que foi acelerada pela forte valorização da matéria-prima a partir do início da invasão da Rússia à Ucrânia.
É a maior liberação de estoques de petróleo da história, segundo informação atribuída à RBC Capital pelo The Wall Street Journal.
Com a medida, o governo Biden conseguirá colocar um milhão de barris por dia no mercado, segundo Ilan Arbetman, analista da Ativa Investimentos.
Os americanos também planejam liderar outros países na liberação das suas reservas estratégicas, o que ampliaria de forma maciça a oferta e pressionaria a queda dos preços.
Com isso, os preços do petróleo mergulhavam 4,72% nesta quinta-feira (31). O barril Brent era negociado a US$ 108,09 (R$ 512,04).
A valorização da commodity no último mês, atingindo as cotações máximas desde 2008, é um dos principais sintomas sobre a visão do mercado de que as sanções à Rússia, um dos principais exportadores de petróleo e gás natural, podem reduzir a oferta por um longo período, dando fôlego para a alta da inflação global.
A Alemanha ativou seu plano de emergência para garantir o abastecimento de gás diante das ameaças de suspensão do fornecimento russo.
Pelo segundo dia seguido, a Bolsa de Frankfurt fechou em queda. O índice DAX, referência do mercado alemão, cedeu 1,31%. O dia também foi de queda nos mercados de Londres e Paris, que perderam 0,83% e 1,21%, respectivamente.
Nos Estados Unidos, o indicador de referência para ações negociadas em Nova York, o S&P 500, recuava 0,58% neste último dia de março. A baixa trimestral se encaminhava para 3,9%, no primeiro tombo para um fechamento de trimestre desde março de 2020. Na ocasião, porém, o mercado americano havia afundado 20% devido ao início da pandemia.
Também fraquejavam nesta quinta o Dow Jones, que recuava 0,54%, e a bolsa de tecnologia Nasdaq, com perda de 0,55%.
Desde o início deste ano o mercado acionário americano está devolvendo ganhos acumulados ao longo da pandemia. A retomada das atividades econômicas gerou a maior inflação em 40 anos e obrigou o Fed (Federal Reserve, o banco central do país) a encerrar um programa de estímulos que injetava dinheiro no mercado por meio da compra de títulos imobiliários e do Tesouro.
Neste mês, o Fed também elevou os juros de referência do país pela primeira vez desde 2018, tirando as taxas do zero e indicando mais ajustes até o fim deste ano.
O aumento foi de 0,25 ponto percentual e, inicialmente, o mercado avaliava que os próximos ajustes seriam na mesma medida. A pressão inflacionária ampliada pela guerra na Ucrânia, porém, tem levado analistas a cogitar que o Fed apertará o crédito de forma mais agressiva.
Elevações robustas nos juros americanos podem provocar fuga do capital alocado em países emergentes para a segurança dos títulos do Tesouro dos Estados Unidos, o que só não está ocorrendo neste momento devido aos juros elevados oferecidos por economias em desenvolvimento, como é o caso do Brasil.
ALTA DO CÂMBIO NA VÉSPERA REFLETE AJUSTE DA PTAX
Nesta quarta-feira (30), o índice de referência da Bolsa de Valores conseguiu sustentar ligeira alta de 0,20%, a 120.259 pontos, apoiado principalmente no setor de commodities. Com isso, o Ibovespa manteve o patamar de 120 mil pontos alcançado na véspera.
O dólar, porém, fechou em alta de 0,58%, cotado a R$ 4,7850. A desvalorização da moeda brasileira foi na contramão dos ganhos apresentados pelas principais moedas de países desenvolvidos e de emergentes frente à divisa americana.
Participantes do mercado disseram à agência Reuters que a alta do dólar na última sessão está principalmente relacionada à aproximação do último dia do mês e do primeiro trimestre, quando o Banco Central calcula a Ptax. Trata-se de uma taxa de câmbio que serve de referência para liquidação de derivativos.
No fim de cada mês, agentes financeiros costumam tentar direcioná-la para níveis mais convenientes às suas posições, e, nesta quarta-feira, os comprados em dólar -que apostam na valorização da moeda americana- prevaleceram.
O economista Igor Lucena também atribuiu a alta do dólar nesta quarta a um movimento momentâneo de investidores estrangeiros rumo a ativos ligados à moeda americana, que oferecem maior segurança em períodos de aumento dos riscos globais, como é o caso dos títulos do Tesouro dos Estados Unidos.
Com a continuidade da guerra pressionando a inflação, o potencial de retorno desses papéis cresce devido à necessidade de elevação dos juros para a contenção da alta dos preços.
"Apesar de uma tendência de baixa [do dólar frente ao real] desde o início do ano, em alguns momentos, temos esses movimentos de subida. Isso ocorre quando, por exemplo, investidores percebem que a guerra não vai acabar tão cedo e, com isso, fogem para papéis ligados à inflação e a moedas", comentou.
Um dia após negociações entre representantes de Rússia e Ucrânia criarem expectativas sobre uma trégua na guerra devido a alguns avanços em negociações realizadas na terça-feira (29), a esperança do mercado sobre a redução dos riscos econômicos gerados pelo conflito desvaneceu.
Apesar das promessas de "redução drástica" da atividade militar russa em Kiev e Tchernihiv, autoridades ucranianas relataram ataques nos arredores das duas cidades e em outros pontos do país. Bolsas da Europa e dos Estados Unidos fecharam em baixa.
Em Nova York, o índice S&P 500, referência para as ações americanas, caiu 0,63%. Os indicadores Dow Jones e Nasdaq perderam 0,19% e 1,21%, respectivamente.
Na Europa, o indicador que acompanha as 50 maiores empresas da zona do euro perdeu 1,08%. As Bolsas de Paris e Frankfurt caíram 0,74% e 1,45%, nessa ordem. Londres subiu 0,55%.
"Nós estamos céticos quanto à esperança", disse Lisa Shalett, diretora de investimentos do Morgan Stanley, para a rede de televisão Bloomberg, após Dmitry Peskov, porta-voz do Kremlin, ter afirmado que ainda falta muito trabalho antes de um acordo com a Ucrânia, reforçando as dificuldades para alcançar o cessar-fogo.
Apesar dos sinais de recuperação dos últimos dias do mercado americano, revelando o desejo de investidores de "comprar na baixa" após um processo de correção das altas de 2021, o risco para os investimentos é uma realidade diante de um problema geopolítico, segundo Shalett.
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