Dias depois de manifestar abertamente oposição ao pleito de Suécia e Finlândia de ingresso na Otan, o presidente da Turquia, Recep Tayyp Erdogan, conversou neste sábado (21) com os líderes dos dois países nórdicos.
Estocolmo e Helsinque oficializaram o pedido de entrada na aliança militar nesta semana, abandonando décadas de neutralidade, como resposta à ação russa que deu inicio à Guerra da Ucrânia. Os turcos, que mantêm relação próxima com os dois lados do conflito e integram a Otan, alegam que os nórdicos abrigam pessoas ligadas a grupos tidos como terroristas. A indicação de veto mobilizou líderes ocidentais, que aumentaram a pressão sobre Ancara.
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A agência turca Anadolu informou que Erdogan disse à primeira-ministra sueca, Magdalena Andersson, que espera medidas concretas em relação a suas preocupações com as organizações que Ancara considera terroristas. De acordo com essa versão, o país abriga militantes do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK) e seguidores do clérigo Fethullah Gulen, a quem o líder turco acusa de orquestrar uma tentativa de golpe de 2016.
Outra exigência citada por Erdogan seria o fim de um embargo de exportação de armas imposto em 2019. Andersson comentou o telefonema em um tuíte, dizendo que espera fortalecer as relações bilaterais em temas como "paz, segurança e a luta contra o terrorismo".
Do lado finlandês, o presidente Sauli Niinistö disse que teve uma conversa "aberta e direta" com Erdogan. "Afirmei que, como aliados da Otan, Finlândia e Turquia se comprometerão com a segurança uma da outra e que nosso relacionamento ficará mais forte", disse, em um tuíte. "A Finlândia condena o terrorismo em todas as suas formas e manifestações. O diálogo continua."
Segundo comunicado de Ancara, o líder turco repetiu a Niinistö o que disse à sueca Andersson: fazer uma espécie de vista grossa ao fato de o país abrigar o que chamou de "terroristas perigosos" não condiz com a postura de um postulante a entrar na aliança ocidental.
Mesmo com o discurso dos últimos dias de Erdogan, pressionado por aliados da Ucrânia como o americano Joe Biden e o britânico Boris Johnson, as partes se diziam confiantes em uma resolução diplomática. A expectativa entre analistas, de toda forma, é a de que a Turquia vá vender caro o apoio aos nórdicos, exigindo talvez deportação de ativistas exilados ou declarações mais incisivas.
A formalização do processamento do pedido de Suécia e Finlândia deverá ocorrer até a cúpula da Otan, no fim de junho, em Madri.
A Rússia tem mantido sobre esse assunto um tom comedido, depois de ameaças iniciais que incluíam a sugestão de posicionar armas nucleares em áreas próximas aos dois vizinhos nórdicos –no caso finlandês, há uma fronteira de 1.300 km entre os países, enquanto no sueco, o domínio de atrito é o mar Báltico.
Putin afirmou que haveria reação contra ambas as nações, que não são vistos como uma ameaça, mas que ela seria proporcional à militarização que a eventual adesão à Otan traria.
Uma primeira indicação dessa reação se deu já neste sábado, com a suspensão do fornecimento de gás russo a Helsinque. A informação foi confirmada pela Gasum, principal empresa finlandesa do setor, e pela russa Gazprom.
A justificativa oficial de Moscou é que o vizinho não aceitou fazer o pagamento pelo produto em rublos –o que já levou ao corte para Bulgária e Polônia, em abril. A Gasum, que também atua na Suécia e na Noruega, já havia dito que o risco de as importações serem cortadas era provável e acrescentou que vai buscar suprir a demanda doméstica por meio do gasoduto Balticconnector, que liga a Finlândia à Estônia.
O gás natural representa apenas 6% da energia consumida por Helsinque, segundo dados de 2020, mas a maior parte dele vem da Rússia. O país nórdico, que vê a energia renovável avançar, tem como principal fonte a biomassa –um quarto da energia nacional. O petróleo ainda ocupa a fatia de 21%.
No front neste sábado, a Rússia reivindicou de forma oficial a conquista da cidade de Mariupol e intensificou a ofensiva na região de Lugansk. Segundo o porta-voz da Defesa, o ministro Serguei Choigu informou a Putin "o fim da operação e a libertação total do complexo de Azovstal e da cidade de Mariupol". A batalha pela região da siderúrgica, que durou meses, é um passo importante no objetivo de Moscou de controlar o sul e o leste ucranianos, criando uma ponte por terra com a Crimeia, anexada em 2014.
Na noite de sexta (20), a Rússia alegara que tinha "liberado totalmente" o complexo de Azovstal. "Ao todo, 2.439 nazistas do [Batalhão] Azov e militares ucranianos que estavam na siderúrgica se renderam. Hoje, o último grupo de 531 combatentes se entregou", disse o porta-voz da Defesa, Igor Konachenkov. "Os túneis do local, onde se escondiam os combatentes, passaram ao controle completo das forças russas."
A Ucrânia não comentou oficialmente as alegações de Moscou. O presidente Volodimir Zelenski voltou a exortar um caminho diplomático e disse que as conquistas russas no Donbass e na Crimeia serão temporárias.
Além de aparentemente ter intensificado a ofensiva em Severodonetsk, na região de Lugansk, Moscou disse ter destruído instalações militares ucranianas em Jitomír que abrigavam armas fornecidas por aliados ocidentais. A informação não pôde ser verificada de forma independente, bem como a de ataques a depósitos de combustíveis na região de Odessa.
Em Seul, o presidente dos EUA, Joe Biden, sancionou neste sábado um pacote de US$ 40 bilhões (R$ 195 bilhões) em ajuda à Ucrânia. A proposta, apresentada pelo democrata no mês passado em valor um pouco menor, foi aprovada pelo Congresso com apoio inclusive de parlamentares republicanos.
É o maior auxílio de Washington até o momento e vai incluir assistência militar, econômica e humanitária.
Zelenski recebeu ainda o apoio do português António Costa, que viajou à Ucrânia e se disse solidário ao país, chamando a ação de Moscou de uma agressão bárbara.
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