A Rússia fez um amplo ataque com mísseis de cruzeiro e balísticos contra a infraestrutura energética da Ucrânia nesta segunda (31), dando continuidade à sua tática de pressionar o vizinho com blecautes e falta de água enquanto o inverno do Hemisfério Norte se aproxima.
Segundo o governo ucraniano, houve explosões relatadas em pelo menos dez cidades. A Força Aérea relatou ter interceptado 44 de 50 projeteis, mas a conta não fecha com o número de alvos atingidos –principalmente centrais ligadas a hidroelétricas e centros de distribuição de energia. Algumas regiões estão sem luz.
Na capital, Kiev, uma grande explosão foi filmada. Moradores se esconderam no metrô da cidade durante a ação, ocorrida no começo da manhã, a hora do rush (madrugada no Brasil). O governador da região homônima, Oleskii Kuleba, afirmou haver ao menos um morto.
Os mísseis de cruzeiro foram lançados de bombardeiros estratégicos Tu-160 e Tu-95 voando em espaço aéreo russo sobre o mar Cáspio e a região de Rostov.
Nesta nova fase da guerra iniciada há oito meses, o governo de Vladimir Putin tem buscado degradar a rede energética do vizinho, como tática de desmoralizar suas forças e dificultar a montagem de novas contraofensivas: o sucesso da retomada de Kharkiv e as ameaças contra linhas russas em Kherson e Donetsk deram lugar ao longo deste mês a uma disputa mais estática.
A tentativa de estabilização da frente nas quatro regiões que Putin anexou em setembro foi acompanhada pela mobilização de 300 mil reservistas, completada na sexta (28). Segundo o Ministério da Defesa russo, 80 mil já foram enviados para a Ucrânia. Não há como verificar isso de forma independente, nem avaliar o grau de treinamento desses soldados.
Seja como for, autoridades em Moscou ouvidas pela Folha de S.Paulo na semana passada afirmam que os reforços já se fizeram sentir, e que a destruição da infraestrutura ucraniana é apenas o começo de uma guerra mais brutal.
A nova tática foi implementada a partir da cereja do bolo das más notícias de setembro e outubro, o ataque contra a ponte que liga a Crimeia ao território continental russo, obra de 2018 que coroou a anexação promovida por Putin quatro anos antes como reação à destituição do governo aliado da Rússia em Kiev.
"Não foi eu quem deu um golpe em 2014", disse o presidente na quinta (27), em encontro com analistas internacionais, deixando claras a visão dos fatos e a linha do tempo que ele usa para descrever os eventos que levaram à invasão.
Neste fim de semana, a tensão mais ampla do conflito foi elevada com o ataque a navios da Frota do Mar Negro em sua base crimeia, em Sebastopol.
Ao menos um caça-minas foi danificado, mas imagens quase de videogame de um drone marítimo se aproximando de uma fragata sugerem que a nau-capitânia local, a Almirante Makarov, possa ter sido atingida. Seu antecessor no posto de navio principal da frota, o cruzador Moskva, foi afundado perto da costa ucraniana em abril.
A Rússia acusou diretamente o Reino Unido de montar a ação e fez uma alegação ainda mais grave: Londres estaria por trás das explosões que danificaram 3 dos 4 ramos do sistema de gasodutos russo-alemão Nord Stream.
Os britânicos negaram, mas a retaliação imediatada de Moscou foi suspender o acordo de escoamento de grãos ucranianos a partir de seus portos remanescentes no mar Negro. Os russos inclusive sugeriram que drones possam ter sido lançados de navios civis da iniciativa, que já logrou enviar 8 milhões de toneladas de produtos ao exterior.
Até aqui, contudo, não foi retomado um bloqueio naval. Nesta segunda, 12 cargueiros deixaram a Ucrânia pelo corredor marítimo e, até aqui, não tiveram problemas. Isso sugere uma porta aberta para negociação, elevando as demandas, até porque o acordo atual mediado pela Turquia e pela ONU expiraria em 19 de novembro.
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