"Eles aceitaram", respondeu o vice-premiê britânico Oliver Dowden à BBC, sobre o convite feito à China para um encontro mundial sobre inteligência artificial. Ele acontece nesta quarta (1º) e quinta em Bletchley Park, perto de Londres, no mesmo local em que o matemático Alan Turing e outros decodificaram a máquina alemã Enigma, em 1941.
Os Estados Unidos também aceitaram o convite, mas devem enviar a vice Kamala Harris. O porta-voz do primeiro-ministro chegou a ser questionado se Rishi Sunak se sentia "esnobado" por Joe Biden e outros líderes ausentes, e a resposta foi "de jeito nenhum". A China deve enviar uma comitiva encabeçada pelo vice-ministro de ciência e tecnologia, Wu Zhaohui.
Entre outras organizações multilaterais, estará presente o secretário-geral da ONU, António Guterres, que estabeleceu dias atrás um grupo de especialistas para tratar de IA. Sunak havia adiantado que apoiaria no encontro a criação de um órgão para o tema, como o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, formado em 1988 pela ONU.
As atenções no encontro, sem Biden e outros políticos, como o francês Emmanuel Macron, devem se voltar para empresários como Elon Musk, da Tesla, que vem defendendo maior regulação de IA, e Sam Altman, da OpenAI, que disparou a febre sobre a questão ao lançar o ChapGPT, um ano atrás. Também devem participar Brad Smith, da Microsoft, e Nick Glegg, da Meta.
Também estarão cientistas considerados fundamentais para o desenvolvimento de IA, como o francês Yann LeCun e o canadense de origem francesa Yoshua Bengio, ambos vencedores do prêmio Turing, voltado para avanços em ciência da computação. LeCun vem questionando os cenários apocalípticos sobre IA traçados por, entre outros, Musk.
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Entre os chineses, estão programados Yi Zeng, da Academia Chinesa de Ciências, que deve encabeçar uma mesa sobre ferramentas que podem "desenvolver capacidades perigosas inesperadamente", Andrew Yao, da Universidade Tsinghua, e Ya-Qin Zhang, ex-diretor de tecnologia da Baidu, que lançou o Ernie Bot, um chatbot comparado ao ChatGPT.
Tanto Pequim como Washington correram com suas primeiras diretrizes para inteligência artificial antes do encontro, buscando adiantar-se a ele e disputando primazia.
A China apresentou no Fórum Cinturão e Rota, há duas semanas, sua Iniciativa de Governança Global de IA, defendendo "desenvolver normas e padrões baseados num amplo consenso". Em coletiva na segunda (30), o porta-voz do ministério do exterior afirmou que, com isso, Xi Jinping "demonstrou o papel de liderança da China na governança global de IA".
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Também na segunda, Biden assinou ao lado de Kamala Harris um decreto com normas e princípios destinados a garantir que os EUA "abram caminho" na regulação. É mais do que fez "qualquer governo em qualquer lugar do mundo", disse o presidente. "É a América que pode construir consenso, como nenhum outro país", acrescentou a vice.
A China saiu um pouco à frente ao editar em agosto medidas temporárias enquanto prepara legislação como determinar que produtos de IA sejam revisados pelo governo antes de chegarem ao mercado. O decreto americano cobra algo parecido, o acesso aos testes de segurança feitos pelas empresas. E ambos exigem privacidade e proteção à segurança nacional.
Mas a expectativa é que, com Musk e outros, o evento britânico não se prenda a questões práticas imediatas, voltando-se aos riscos de longo prazo da inteligência artificial, aos cenários extremos. Sunak anunciou uma live com o empresário, via X, na noite de quinta, terminadas os trabalhos. O temor é que Musk sequestre a narrativa do encontro.
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