O Kremlin retirou de sua programação uma visita que Nicolás Maduro faria ao presidente Vladimir Putin na próxima terça-feira (12). Inicialmente, o ditador voaria neste domingo (10) para Moscou.
A viagem, afirmam pessoas com conhecimento das tratativas, está mantida ainda para este mês. Ela vinha sendo costurada há meses e foi acertada na visita do chanceler venezuelano, Yván Gil Pinto, à Rússia no mês passado, quando o plebiscito de Essequibo já estava marcado.
O adiamento ocorreu antes da conversa de Maduro com o presidente Lula (PT), no sábado (9). O Itamaraty fez chegar à diplomacia venezuelana o mal-estar que a revelação da viagem na véspera, feita pela Folha de S. Paulo, causou no governo brasileiro.
Para o Planalto, a ida a Putin escalaria a tensão na região, já que o russo é adversário dos Estados Unidos, que demonstraram apoio à Guiana fazendo um sobrevoo com aviões militares na quinta-feira (7). Os americanos têm interesse no país caribenho, onde a ExxonMobil é a principal operadora de campos de petróleo no litoral da região disputada.
Com o anúncio, também no sábado, do encontro entre Maduro e o presidente guianense, Irfaan Ali, na próxima quinta (14), a viagem do ditador à Rússia deverá ficar para depois, mas não há confirmação disso ainda.
Ela irá acontecer, dado que a Venezuela é aliada da Rússia desde os anos de Hugo Chávez, mentor e antecessor de Maduro, no poder. Caracas fez diversos projetos conjuntos com a estatal russa Rosneft para exploração de petróleo e virou um grande cliente militar de Moscou, comprando de blindados a caças avançados.
Extraoficialmente, pessoas envolvidas com a viagem disseram que houve incompatibilidade de agendas dos dois líderes, mas não afirmam quais.
Nesta crise, contudo, os russos adotaram até aqui cautela. O Ministério das Relações Exteriores em Moscou pediu que tanto a Venezuela quanto a Guiana adotem a diplomacia e evitem "ações" sobre Essequibo. O recado público não deu apoio automático a Maduro, como seria esperado.
Diplomatas com experiência na região dizem, contudo, que é preciso esperar para entender a posição russa. Eles não descartam um certo teatro do ditador, com apoio de Moscou, para forçar a ideia de negociações sobre Essequibo.
O território é objeto de uma contestação desde o século 19, mas que tem na Corte Internacional de Justiça o fórum de discussão aceito pela ONU, que não reconhece o plebiscito de Maduro -que, de forma ilegal, determinou soberania sobre 70% do território de um país vizinho.
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