O líder do Partido Trabalhista, Keir Starmer, 61, é o novo primeiro-ministro do Reino Unido após vitória acachapante nas eleições gerais, quebrando um domínio de 14 anos dos conservadores no poder.
À frente da legenda desde 2020, Starmer teve êxito em se adaptar ao centro político, atuando nos últimos meses para afastar de seu partido propostas e lideranças de esquerda. A estratégia, segundo analistas, foi eficaz para que os trabalhistas angariassem o apoio de eleitores indecisos.
O provável futuro novo premiê é advogado especializado em direitos humanos vindo da classe média. Antes de ganhar destaque na política, chegou a assumir a Procuradoria-Geral. No cargo, decidiu não processar criminalmente os policiais envolvidos no assassinato, em 2005, do brasileiro Jean Charles de Menezes no metrô de Londres.
As propostas do futuro premiê nada têm de radicais: estabilidade econômica com regras rígidas de gastos; redução do tempo de espera do sistema de saúde, com mais 40 mil consultas noturnas e aos fins de semana; criação de uma empresa pública de energia limpa; reforço das polícias de bairro e contratação de 6.500 novos professores, que seriam pagos com o fim de isenções fiscais para escolas particulares.
Sobre migração, tema que mais mobiliza os britânicos, Starmer prometeu enterrar o plano do atual premiê, Rishi Sunak, de enviar solicitantes de asilo para Ruanda, que tem sido muito criticado por organizações de direitos humanos. Para o trabalhista, o dinheiro gasto com o traslado poderia ser investido em aumento de segurança nos pontos de entrada de migrantes e em um sistema que reencaminhe rapidamente a seus países pessoas em situação irregular.
Apesar de ter sido contrário ao brexit, Starmer tem buscado se alinhar ao eleitor médio que defendeu a saída do país da União Europeia. Ele descarta a princípio trabalhar por um novo referendo, restringindo-se a dizer que o arranjo feito pelo ex-premiê Boris Johnson é "muito frágil" e que seu partido buscará um acordo comercial "muito melhor" com o bloco em uma revisão, a ser feita em 2025.
"Tenho uma ambição para o país e um plano prático para realizá-lo. Mudei o Partido Trabalhista e o coloquei novamente a serviço dos trabalhadores", afirmou Starmer no primeiro debate na TV com Sunak, no início de junho. Ele tem insistido no ponto de que a legenda hoje é diferente do passado. E o motivo é se distanciar das ideias de seu antecessor, Jeremy Corbyn.
Uma vez à frente dos trabalhistas, Starmer escanteou os nomes de esquerda, entre eles Corbyn, que mais tarde deixaria o partido. A guinada ao centro também foi um rompimento com seu próprio passado.
Starmer foi membro dos Jovens Socialistas do Partido Trabalhista em East Surrey e editor da Socialist Alternatives, uma revista trotskista. Seu pai trabalhava como ferramenteiro, e a mãe era enfermeira do NHS, o sistema de saúde britânico que inspirou o SUS (Sistema Único de Saúde) brasileiro. Starmer foi o primeiro da família a ir para uma universidade, em Leeds, onde cursou direito.
Por seu trabalho no Ministério Público, foi condecorado com o título de sir em 2014, uma tradição para os que desempenharam a função, mas incomum para um trabalhista. Entrou para a política institucional e foi eleito pela primeira vez em 2015, aos 52 anos, como representante (deputado) de Holborn e St. Pancras, um distrito de profissionais liberais no centro de Londres, onde vive há anos com a família. É vegetariano e torcedor fanático do Arsenal, sendo facilmente encontrado nas arquibancadas do Emirates Stadium.
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