Sob intensa pressão de Israel, o líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah, afirmou que o Estado judeu aplicou um "golpe sem precedentes" ao promover o mortífero ataque com explosivos plantados em pagers e walkie-talkies de membros do grupo libanês, que apoia o palestino Hamas em sua guerra conta Tel Aviv.
Ele disse ter mobilizado "todas as armas e combatentes" do Hezbollah, mas não indicou uma escalada imediata no atrito em curso na fronteira entre Líbano em Israel. Prometeu uma "vingança justa" pela ação e disse que, se Tel Aviv invadir o sul de seu país, "dará uma oportunidade histórica" ao grupo.
"Isso é um estado de guerra, eles ultrapassaram todas as linhas vermelhas", afirmou, sem fazer uma declaração mais incisiva acerca de um conflito, que observadores temem poder ser inevitável após a escalada israelense. "Eles tentaram matar matar 4.000 pessoas de uma só vez. Isso é uma operação grande? É um genocídio? É um massacre?", questionou.
Sua esperada fala manteve, apesar da retórica inflamada, um certo comedimento. Enquanto discursava na ao vivo na TV, caças israelenses fizeram sobrevoos supersônicos a baixa altitude sobre a capital libanesa, assustando os moradores e lembrando o estado das coisas.
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Mais cedo, as forças de Israel bombardearam posições do Hezbollah no sul do país, no primeiro ataque aéreo após a engenhosa ação que matou 37 pessoas e feriu mais de 3.000.
Foram empregados caças e artilharia contra seis pontos. Na véspera, o ministro da Defesa, Yoav Gallant, havia dito que Israel estava à beira de uma nova fase na guerra contra seus adversários, e que deslocaria recursos para a fronteira norte do país com o Líbano.
Nesta quinta, o Estado-Maior das Forças de Defesa de Israel afirmou ter aprovado planos para ações militares no norte, sem dar detalhes.
O atual conflito no Oriente Médio começou há quase um ano, em 7 de outubro passado, quando o grupo terrorista palestino Hamas atacou de surpresa Israel, matando 1.170 pessoas e fazendo 251 reféns, a maior ação contra o Estado judeu em 50 anos.
A reação contra o Hamas, que é aliado do Hezbollah e também bancado pelo Irã, já matou segundo os palestinos 41.727 pessoas. Os libaneses apoiam os palestinos com ataques fronteiriços, mas até aqui evitaram ações maiores para não disparar uma guerra destrutiva no Líbano.
Isso está em xeque agora, embora haja dúvidas se Israel está dobrando a aposta militar para pressionar o Hezbollah a recuar para a fronteira estabelecida pela ONU, acima do rio Litani, deixando uma área tampão no sul do Líbano sem armamentos capazes de atingir a fronteira.
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Nasrallah está encurralado. Sua fala admitiu de forma rara a vulnerabilidade do Hezbollah, que é o mais poderoso dos prepostos do Irã na região, com um arsenal de talvez 160 mil mísseis e foguetes.
"Não há dúvidas de que nós fomos submetidos a um grande golpe militar e de segurança, sem precedentes na história da resistência [contra Israel] e do Líbano", disse.
Ao plantar explosivos em aparelhos rudimentares destinados a dificultar a localização de seus militantes pela inteligência israelense, que triangulava ligações entre celulares, o serviço secreto de Tel Aviv expôs uma falha brutal nos controles do rival.
A própria ideia de um ataque maciço como represália fica prejudicada, não só moralmente: as comunicações do Hezbollah estão desarranjadas. Nasrallah buscou minimizar isso, dizendo que toda sua estrutura de comando está intacta, e que líderes não usavam os aparelhos explodidos.
Segundo relatos da mídia libanesa e de agências de notícia estrangeiras no país, o clima é de medo e desconfiança. A Reuters citou moradores de Beirute que jogaram fora seus celulares, com medo de algum tipo de ação israelense, e o governo baniu pagers e walkie-talkies em voos.
O ataque com os pagers ocorreu na terça (17), deixando 12 mortos. Outras 25 pessoas morreram no dia seguinte, o mais mortífero até aqui na atual rodada de hostilidades entre Israel e o Hezbollah.
O governo libanês, que não tem poder sobre o grupo, assiste à crise. O premiê Najib Mikati pediu que a reunião de sexta (20) sobre os ataques no Conselho de Segurança da ONU tome medidas para acabar com a "guerra tecnológica" contra o país.
Já o presidente francês, Emmanuel Macron, instou todos os atores regionais a acalmar o ânimo. O Líbano foi controlado por Paris de 1920 a 1943, e a metrópole deixou fortes traços culturais e linguísticos.
Israel não admitiu oficialmente as ações, embora ninguém duvide de sua autoria. Na terça, Netanyahu voltou a prometer que o retorno dos 80 mil moradores deslocados do norte do país devido à crise é uma prioridade militar.
Nasrallah falou sobre isso, dizendo que nem uma "guerra total" fará a região ser segura para seus moradores. "Vocês não conseguirão trazer as pessoas do norte de volta. Nenhuma escalada militar, assassinato ou guerra total pode trazer de volta os moradores à fronteira", ameaçou.
Também nesta quinta, as forças de Israel mataram três palestinos num entrechoque na Cisjordânia. Além disso, o governo anunciou que prendeu um israelense no mês passado que teria sido cooptado pelo Irã para tentar matar o primeiro-ministro, o ministro da Defesa e o chefe do Shin Bet, o serviço de segurança interna do país.
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