Era 1988 e na televisão de Ulisses Matarozzi, em Santos, litoral de São Paulo, uma propaganda mostrava os encantos de uma ilha quase inexplorada e com sede de "progresso". Dentre os atrativos, daquela Aruba, o mar azul piscina, sol e belezas naturais, apenas. Foi o suficiente para despertar no "aventureiro" Ulisses a esperança de conhecer aquele cenário. " Sempre fui louco pelo mar, e vi aí uma oportunidade. Comprei uma passagem como turista e como a cidade estava quase toda sendo estruturada, apareciam muitas oportunidades de emprego. Eu andava na rua e todos perguntavam se eu queria trabalhar, não importava minha qualificação." Assim, o educador físico, formado no Brasil,  conseguiu a chance de começar em um restaurante e prosperar em três anos, passando de assistente de cozinha a administrador, com faturamento do negócio com média de mais de 500 mil dólares. 

Começando a se estabilizar em Aruba, Ulisses foi crescendo profissionalmente, assim como Aruba se consolidava como ilha voltada para o turismo. Renata, a esposa de Ulisses,  chegou aos 19 anos e enfrentou as dificuldades de não ter família próximo, amigos ou um lugar para ser acolhida. "Aruba não era o que é hoje, não tínhamos muitas opções,  éramos jovens e queríamos crescer. Batalhamos e vinte e seis anos depois podemos dizer que é um outro país. Hoje temos facilidades, o lugar pode ser pequeno, mas te proporciona muitas coisas", enfatizou. 

Ao viver em Aruba,Ulisses e Renata desfrutam de qualidade de vida. (Foto: Diana Verbicaro/DOL)

O casal conta que teve que se unir em vários momentos para não sofrer com as mudanças, acredita que fez a escolha certa. "Vamos  ao Brasil duas vezes por ano, minha mãe mora lá, é o meu país, mas depois de dez dias você já sente falta do seu cotidiano, depois que você está fora, fica dificil de aceitar certas posturas dos brasileiros. Não dá pra tolerar, essa cobrança absurda de impostos, falta respeito com o próximo e entre as pessoas, não dá pra aceitar as pessoas querendo se passar a perna. O  brasileiro  está adotando uma postura individualista. Ao  contrário do estrangeiro, que leva as coisas com mais responsabilidade. Falta união no Brasil, mas por causas mais coletivas. Não dá mais pra tolerar corrupção, violência, mortes etc e nada ser feito para mudar.  Amo o Brasil, mas queria que ele estivesse diferente", disse Ulisses. 

"Em Aruba, quase não temos violência, é muito difícil sabermos de que alguém foi morto ou assaltado. Lá no Brasil, isso já virou comum. Os brasileiros não podem permitir isso", comentou, Renata. Questões salariais também diferenciam as realidades. "Em Aruba, uma família ganha em média 5 mil florins, cerca de 3,5 mil dólares e estou falando de nível profissionalizante, pessoas com mais qualificação ganham muito mais e aqui em os profissionais definem o seu preço e não o mercado que impõe quando pode te pagar", afirmou o ex- militar.

Ulisses ficou dez anos prestando serviços em restaurantes começou no ramo de restaurantes. Depois decidiu parar de trabalhar para os outros e apostou em si para deslanchar no mundo dos negócios.  Nesse período de mudanças, Ulisses contava com o apoio de Renata e teve um filho, que fez questão de criar como brasileiro, apesar de ter nascido em Aruba. 

Com o tempo, Ulisses foi recebendo outras propostas de emprego, lecionou em escola por mais de 5 anos como educador esportivo e uniu o gosto pelo mergulho com o lado empreendedor. "Sempre fiz mergulho e percebi que a costa do litoral estava ficando cheia de lixo dos turistas que visitavam os resorts. Tive a ideia de montar uma empresa que ajudasse o meio ambiente. Hoje fazemos a limpeza de praticamente toda a orla", disse. Ulisses também continua lecionando nas horas vagas. "Tenho também uma empresa de esportes aquáticos. Fazemos aulas de canoagem, snorkeling, SUP e outros".

Renata também abriu uma academia de ginástica. "Apesar de tudo que passamos, conseguimos tudo o que temos com muito trabalho, prosperamos junto com Aruba e hoje podemos dizer que fizemos a escolha certa. Seguirmos nesse barco ancorados um pelo outro e temos Aruba como nossa casa, já não saberíamos mais viver sem ser aqui", finalizou. 

(Diana Verbicaro/DOL)

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