As três testemunhas civis de acusação, que estão presas acusadas de participação na Chacina do Guamá prestaram depoimento ontem (29) no processo que investiga a participação dos policiais militares no crime. Durante a audiência de instrução do processo penal militar, elas afirmaram terem falado sob coação e sido torturadas na Polícia Civil durante a fase do inquérito policial, quando detalharam com riqueza de detalhes a operacionalidade e a gestão do crime, ocorrido em 19 de maio passado num bar do Guamá e que resultou no assassinato a tiros de 11 pessoas.

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“Ocorre que hoje essas testemunhas negaram o que disseram no seu depoimento no inquérito policial, afirmando que teriam sido torturadas pelos delegados que, segundo elas, teriam os ameaçado colocar numa cela junto com outros milicianos e dizer a eles que estavam traindo o grupo para que fossem mortas”, diz o promotor militar Armando Brasil, que conduziu a audiência iniciada às 11h da manhã de ontem e encerrada apenas às 17h no prédio da Justiça Militar.

A quarta testemunha civil que está presa, cuja alcunha é “Diel”, se recusou a prestar depoimento. Segundo o promotor, é bastante comum testemunhas em processos de crimes militares se desdizerem. “Por isso que nesses processos a prova maior é a técnica, que precisa estar robustecida nos autos. Isso ocorre porque as pessoas se sentem intimidadas de acusar agentes públicos na frente de agentes públicos, principalmente quando esses agentes são policiais militares e os 4 réus acusados estavam presentes na audiência”.

NOVAS OITIVAS

Das 12 testemunhas arroladas, compareceram 6 de defesa e 4 de acusação. O promotor militar vai insistir na oitiva das duas testemunhas de acusação que não compareceram. Uma nova audiência foi marcada para novembro para tentar ouvi-las. Novas diligências também serão solicitadas pela promotoria, que acredita que o julgamento ocorra ainda esse ano.

A filha da proprietária do “Wanda’s Bar”, onde ocorreu a chacina, era namorada do cabo Wellington Almeida Oliveira, um dos PMs acusados e deu um depoimento inocentando o militar. Ela disse que no dia do ocorrido o policial estava no bar mas foi embora antes da ação e disse não acreditar que ele tenha envolvimento com o crime. Uma outra testemunha, que atuava como “vj” no bar, afirmou na audiência que cabo Wellington frequentava bastante o local e que, geralmente, permanecia no bar até às 19h quase todos os dias.

Acompanharam Wellington Almeida Oliveira na audiência os outros 3 policiais militares acusados de serem os autores únicos dos disparos que mataram as 11 vítimas: José Maria da Silva Noronha, Pedro Josimar Nogueira da Silva e Leonardo Fernandes de Lima. “Estranhamente no dia dos crimes o militar foi embora antes. O que a namorada do cabo não explicou foi porque ele, mesmo sendo amigo e sabendo dos crimes, sequer retornou ao local para se solidarizar com a família da namorada. Simplesmente desapareceu”, diz o promotor.

Armando Brasil ressaltou que a qualquer momento os réus podem procurar a promotoria militar para fazer uma colaboração premiada, o que ainda não aconteceu até ontem, mais de 5 meses dos crimes ocorridos.

Polícia Civil

A Polícia Civil do Estado do Pará informou, em nota, que concluiu o inquérito e encaminhou para a Justiça Militar em tempo hábil e que compete ao Poder Judiciário e ao Ministério Público do Estado dar seguimento ao processo na esfera criminal. Em relação a denúncia de excessos cometidos por policiais civis, a PC irá instaurar um procedimento para apurar as denúncias relatadas assim que for oficializada.

Armando Brasil informou que processo de investigação do crime continua Foto: Celso Rodrigues

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