Com 16 anos, Ana (nome fictício), está internada na Santa Casa de Misericórdia do Pará, em Belém, grávida de gêmeos. Ela integra um percentual preocupante do hospital: de 12% a 15% das grávidas que passam pela Santa Casa durante o ano são adolescentes. A situação de vulnerabilidade social, a falta de educação sexual e de planejamento familiar estão entre alguns dos fatores para que elas se tornem mãescada vez mais cedo.
Ana lembrou da época em que descobriu a gravidez. “No início foi péssimo. Meu pai não aceitou muito bem na época, mas hoje todos estão bem e meu pai também está feliz”, afirmou. Ela disse ainda que, desde quando soube que estava grávida, o então companheiro, que também tem 16 anos, não a procurou mais.
O relato retrata um pouco o cenário das jovens mães que chegam de diversos municípios paraenses em busca de atendimento no hospital que é referência no atendimento a grávidas no Estado. A obstetra, ginecologista e gerente da obstetrícia da Santa Casa, Marília Gabriela, observa que a falta de informação é um importante fator que contribui para o número de jovens mães.
“Essa menina vem, na maioria das vezes, de uma família com poucos recursos financeiros e um nível de escolaridade baixo. A maioria chega com um adulto responsável e buscamos aconselhá-los para que essa gestação traga o mínimo de prejuízos a essa menina”, explica.
Ao longo de todo o ano de 2019, dos 10.133 partos realizados na Santa Casa, 1.868 foram em pessoas com idade até 18 anos. Marília também apontou que, com o choque pela gravidez não planejada, muitas adolescentes começam o pré-natal de forma tardia. “Muitas começam o pré-natal tardiamente, já que muitas não aceitam e até tentam esconder a gravidez, o que aumenta o risco de algumas complicações. O acesso ao pré-natal tanto para adolescente quanto adulto jovem não é difícil, a questão é a qualidade. O número de consultas e exames mínimos nem sempre é atendido”, observa.
ATENDIMENTO
As adolescentes que dão entrada na Santa Casa contam com acompanhamento de uma equipe multidisciplinar, sendo acolhidas por médicos, enfermeiros e assistentes sociais, que buscam também identificar se essa adolescente foi vítima de violência sexual.
Além desse atendimento, a instituição começou um projeto buscando favorecer o planejamento familiar da adolescente e seus parentes. Marília Gabriela também afirmou que existem casos de meninas que chegam ao hospital, grávidas, e que foram vítimas de violência sexual. Em situações desse tipo, elas contam com atendimento do polo ParáPaz, que funciona dentro do hospital, oferecendo atenção integral e especializada para a redução dos danos físicos e psíquicos causados antes do atendimento hospitalar na Santa Casa. “Quando recebemos esta adolescente, ela já chega com laudo e exames. O Pará vem criando um contexto mais favorável a essas meninas, mas ainda existe essa questão de violência que nem sempre a família consegue enxergar”, relatou.
Marília apontou a educação como a principal ferramenta de prevenção da gravidez na adolescência. “É preciso ter um trabalho nas escolas e comunidades. Com isso todos serão educados e entenderão como funciona a sexualidade e a prevenção da gravidez na adolescência”, finalizou.
A adolescente Ana, que está no sétimo mês de gestação, conta com o apoio da mãe que a acompanha no hospital e vislumbra o melhor aos dois filhos que estão para nascer. “Espero dar um futuro muito bom para eles. Vou continuar meus estudos e vou contar com o apoio dos meus pais para dar o melhor para eles”, completou.
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