Sentado na mesa da cozinha da casa onde mora, Bob Fllay aguarda o almoço. Enquanto as panelas estão no fogo, ele bola alguma ideia para publicar para seus milhares de seguidores no Facebook. Em segundos, a publicação terá outras milhares de interações.
Ele, que não gosta de revelar seu verdadeiro nome - é conhecido como Bob desde criança - é daquelas pessoas que nem precisam abrir a boca para contar piada. Só de olhar dá vontade de rir. E foi assim durante a vida toda.
Nascido e criado no bairro Júlia Seffer, em Ananindeua, Região Metropolitana de Belém, Bob mora há sete anos na Cidade Nova, onde trabalha como vendedor de uma loja de departamentos. Se mudou com a esposa, a quem chama carinhosamente de princesa, e um casal de filhos, em busca de uma vida melhor.
De fala rápida e elétrica, ele conta que sempre fez os outros rirem. “Rapaz, só pra ti ter uma ideia, nos tempos de escola eu era conhecido como Diabo Loiro. Eu perturbava os colegas e arrancava gargalhadas até mesmo dos professores e diretores”, conta.
Bob Fllay e mais quatro produtores de conteúdo que se conheceram através da internet criaram a Panelinha 2.0 e ficaram conhecidos pelos vídeos de humor com uma linguagem bem paraense.
Hoje, o grupo consegue ganhar renda com as visualizações dos vídeos e com publicidades, mas nem sempre foi assim.
A nova profissão de Bob começou despretensiosamente. Um dia a esposa de Bob pegou o celular e filmou um treinamento de vendas ministrado por ele à equipe de trabalho, via WhatsApp.
Ao chegar na empresa, no dia seguinte, Bob pôde ouvir as gargalhadas do lado de fora. “Lembro que perguntei ‘o que vocês estão rindo?’. E um deles me disse ‘Tá todo mundo se espocando com teu vídeo de ontem no grupo’, desde aí todo mundo me pedia pra fazer treinamento daquele jeito engraçado”, diz. Foi nesse dia que a ideia de produzir vídeos na internet surgiu.
O mundo digital estava ali, na palma de sua mão, e lhe oferecia recursos para mudar de vida com aquela que sempre foi sua principal característica: a alegria. Foi quando criou um canal no YouTube.
Seu primeiro vídeo, antes de criar a Panelinha 2.0, foi uma paródia de um candidato político chamado Sincerônimo. A gravação ultrapassou a marca de um milhão de views em menos de uma semana, confirmando as expectativas sobre seu talento que todos, desde criança, diziam que ele tinha. “Minha vida mudou da noite pro dia, eu dormi anônimo e acordei famoso com esse vídeo. No outro dia quando fui no supermercado várias pessoas me reconheceram, quase não consegui fazer as compras, fiquei até assustado. Percebi que o vídeo tinha tido um alcance enorme, além do esperado”, relembra.
Confiante com os milhões de acessos e compartilhamentos que obteve logo na estreia, o paraense decidiu entrar de cabeça no crescente negócio. A monetização dos vídeos (o YouTube e o Facebook pagam por visualização) e a publicidade atraíam Bob.
A revolução digital abriu espaço para pequenos e médios anunciantes que antes não tinham possibilidade de anunciar na TV, e que hoje, anunciando em canais como a Panelinha 2.0, alcançam um público maior. Ganhar dinheiro com a internet passou a ser relativamente simples, basta viralizar.
O ESQUADRÃO
Bob já tinha ouvido e lido algo sobre ganhar dinheiro com vídeos na internet, mas ainda não sabia ao certo como fazer para começar.
Após o sucesso de seu primeiro vídeo, era preciso buscar mais pessoas que pudessem somar ao projeto.
Um dia buscou no Google as palavras “youtubers paraenses”. Queria encontrar um pessoal como ele, para unir forças e criar uma fonte de humor 100% paraense na internet.
Bob achou o nome de Esdras Amorim, um produtor de conteúdo morador do bairro do Satélite, em Belém, entrou em contato, e em seguida mais três pessoas – os produtores Hélio Oliveira (Sucuritube), Malaco do Bem e Farley Vidal - se juntaram ao time. Estava criada a Panelinha 2.0, um “verdadeiro esquadrão dos X-Men", como Bob gosta de chamar.
O negócio dos rapazes que se conheceram graças a internet era promissor. O setor de marketing e publicidade digital é o único dos meios de comunicação que registra crescimento contínuo nos últimos dez anos, tendo movimentando mais de R$ 16 bilhões em 2018, segundo o último estudo da IAB Brasil. Mais da metade da população mundial está conectada e muitos passam mais tempo no Facebook ou no Instagram do que vendo TV. Tudo isso fazia a imaginação de Bob ir longe. As ideias pipocavam na sua cabeça e era preciso ajuda para conseguir profissionalizar e rentabilizar o canal no competitivo setor da internet.
A linguagem escrachada e repleta de gírias regionais atraiu um público carente de conteúdo local, que não se via retratado nas produções a nível nacional. Perceber isso foi a grande sacada dos cinco membros da Panelinha 2.0.
O grupo foi trabalhando até encontrar uma estética próxima a do canal Porta dos Fundos, mas com o toque paraense.
Vídeos como “Recrutando um paraense para a 3ª Guerra Mundial”, “O naufrágo paraense”, “Cinco desvantagens de ser um malaco”, “Adão e Eva paraenses”, “Tipo de pipeiros nas férias do mês de julho” e “brincadeiras de infância” fizeram o público se apaixonar pelo canal.
A fanpage da Panelinha 2.0 no Facebook tem mais de 200 mil seguidores, e os vídeos totalizam mais de 100 milhões de visualizações. “É assim: gravamos e rapidinho os vídeos já estão rolando pelo Facebook e pelos grupos de WhatsApp por aí”, diz Bob, que hoje não consegue andar na rua e nem trabalhar sem ser reconhecido.
PRÓXIMOS PASSOS
Após o papo, Bob checa o celular. Sua postagem, feita há poucos minutos, tem mais de 5 mil interações. Na imagem, Bob aparece com uma colher tomando água dentro de uma vasilha. “Janeiro, dia 475, chibé sem farinha” é o título da brincadeira que diverte milhares de pessoas instantaneamente.
Sobre o futuro, Fllay diz que pretende deixar o emprego de vendedor para se dedicar exclusivamente à produção de conteúdo. “Este ano queremos nos ver mais e produzir mais. Nós moramos cada um em um bairro diferente e, muitas vezes, só nos vemos nos dias de gravações. Cada um tem seu emprego, mas aos poucos todos estão percebendo que é possível viver do nosso canal”, diz.
Para quem começou com uma simples brincadeira no WhatsApp, o menino do Júlia Seffer já foi longe. A panela de pressão apita. É hora do almoço.
Reportagem: Igor Wilson
Multimídias: Vicente Crispino e Gabriel Caldas
Edição: Antonio Santos
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