Com o primeiro caso suspeito do coronavírus (Covid-19) em Belém, divulgado por meio de nota oficial na sexta-feira (28), pela Secretaria Municipal de Saúde (Sesma), quem transita pela cidade teme que a doença prolifere.

O engenheiro alemão Pedro Unkhoff, de 55 anos, trabalha durante meses em países da Europa e Ásia para conseguir poucas semanas com a esposa e os filhos em Abaetetuba, no Baixo Tocantins. Ele conta que desde dezembro do ano passado não viaja sem a máscara na mala, a usa no rosto durante as viagens e nos países onde há casos confirmados, como Alemanha e Malásia.

Na noite de sexta-feira (28), ele embarcava de Belém para Frankfurt, com escala em Lisboa. Segundo ele, iria evitar ao máximo o contato com as pessoas. “No avião é complicado, mas fico sempre com a máscara, que não é grande coisa diante do que já está sendo utilizado, na própria China mesmo, para evitar o contato físico. Mas, quando eu chegar na Alemanha, meu carro já estará no aeroporto. Vou evitar o transporte público”, contou. Pedro relatou que acompanha diariamente as atualizações sobre o avanço da doença no mundo e compartilhou que em outros continentes, o problema está sendo tratado com a relevância necessária, principalmente no que diz respeito ao diagnóstico rápido.

“Há igrejas em algumas cidades da Alemanha mesmo em que a orientação é não se dar as mãos e que se mantenha distância um do outro de um metro, pelo menos. Também é comum em outras regiões da Ásia, como Cingapura, e até mesmo da Europa, o teste imediato: assim que a pessoa desembarca no aeroporto, apontam uma pistola para a testa para checar a temperatura do passageiro. Se tiver com febre, a pessoa já é isolada e vários exames são feitos. Há um medo mundial, pois a taxa de mortalidade é grande. É uma doença extremamente séria”, avalia.

O alemão acredita que, a exemplo de outras cidades do mundo, Belém poderia ter adotado as formas de diagnóstico rápido. “Todos os dias chegam pessoas de várias partes do país e de fora dele, uma grande chance de ser multiplicador da doença. E, se medidas não forem tomadas imediatamente, isso vai se proliferar e se disseminar rapidamente”, alerta.

PRECAUÇÃO

O servidor público Vitor Gomes, de 26 anos, e a esposa Stefane Nobomosa, de 27 anos, também funcionária pública, viajaram de férias pelo Nordeste e Sul do Brasil nos últimos 15 dias. O casal mora na cidade de Paragominas, sudeste paraense, e passou pelo Terminal Rodoviário de Belém na sexta-feira (28). Na mala, um objeto indispensável é o álcool em gel, como forma mais rápida e acessível de tentar evitar a contaminação com a doença. “Foram 15 dias de preocupação com tudo. Quando chegávamos nos aeroportos, percebemos que 10% das pessoas estavam com máscaras ou tomavam alguma precaução. A nossa é álcool. A precaução ainda é a melhor medida”, comentou Vitor.

Mesmo quem não vai sair da cidade prefere se prevenir

Mesmo para quem não saiu da capital este ano, os cuidados não são diferentes. Locais onde há grande fluxo de pessoas e, principalmente os fechados, podem facilitar o contágio. O taxista Ricardo Rodrigues, de 41 anos, não esconde o receio diário devido ao contato direto com os clientes. Ele também optou pelo álcool em gel e disponibiliza o produto aos passageiros. “A gente está muito apreensivo. Procuro formas de me proteger ao máximo da contaminação e disseminação. Fico atento às informações que são atualizadas pela imprensa. Não dá para brincar com essa doença”, desabafou.

PALESTRAS

De acordo com a comerciária Olga Bentes, de 50 anos, os funcionários da empresa onde trabalha, no bairro do Reduto, em Belém, recebem orientações sobre os cuidados contra a doença por meio de palestras. Algumas práticas ela já adotou, inclusive dentro de casa. “No trabalho, álcool em gel direto e evitar levar as mãos diretamente à boca. Em casa, a lavagem das mãos com mais frequência. Infelizmente, já existia a possibilidade de a doença chegar aqui a qualquer momento, principalmente porque o paraense viaja bastante”. A atendente de guichê Gerusa de Souza, de 27 anos, trabalha no Terminal Rodoviário de Belém e conta que procura se proteger. “Aqui eu falo diretamente com as pessoas. E toda hora chega e sai gente de todo lugar, não sei se estão doentes...Hoje pela tarde [sexta-feira], vi apenas uma senhora usando uma máscara. Mas, por isso, evito me aproximar tanto do vidro de onde existe a troca de informações, estou sempre com um lenço umedecido na bolsa e passei a usar o álcool em gel”, detalhou.

Pedro Unkhoff mostra a máscara que leva nas viagens. Vitor Gomes não abre mão do álcool em gel. Foto: Olga Leiria/Diário do Pará

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