Mesmo sem uma data certa para voltarem a ocorrer, os bailes de debutantes, como tantos outros eventos que precisaram ser adiados este ano, ainda carregam a promessa do reencontro e de ser um momento inesquecível. “Interferir, [a pandemia] interfere, mas eu penso que vai ser mais divertido do que seria. A gente vai estar saindo de um momento muito difícil e acredito que será um dia para esquecer um pouco isso. No início, quando soube [do adiamento], imaginei que não teria graça, por não ser no dia do meu aniversário. Mas agora acredito que vai ser ainda mais especial”, diz Ana Luísa Rodrigues.

Já com seus 15 anos completos, ela estava com a festa toda organizada para o último dia 25 de abril, mas, assim que o novo coronavírus chegou a Belém, dia 18 de março, a cerimonialista recomendou o adiamento.

Ana Luísa conta que mantém contato com outras 45 debutantes por um grupo no WhatsApp, meninas que iam debutar no primeiro e segundo semestres de 2020, entre elas, muitas amigas. “Todas ficaram meio loucas porque não queriam que nenhuma data coincidisse. Por sorte, a gente conseguiu organizar para que todas tivessem uma data diferente e pudessem participar uma da festa da outra”, diz.

A cerimonialista que atende à Ana Luísa e demais meninas, Edila Porto, conta que até agora não houve nenhum cancelamento de suas pupilas. “Não se fala em cancelamento, todas foram remarcadas, como ocorreu com os demais eventos que a gente organiza, como os casamentos. Mas, claro, a ansiedade é muito mais das meninas de 15 anos que das noivas, que têm mais maturidade sobre a situação. Algumas foram para o segundo semestre e outras para o primeiro semestre de 2021”, diz.

Ver que tem sido possível a reabertura das atividades em outros países tornou-se um caminho para acalmar a ansiedade. “A gente procura conversar, mostrar o tempo que levou para o processo de reabertura gradual em outros países. Mostramos que não é ‘Belém’, o mundo passa por isso. Claro, tem eventos que eram no final de março, início de abril, remarcados para agosto, e que já tiveram que ser remarcados pela segunda vez. Mas é assim, a gente vai trabalhando, conversando, sempre nesse intuito de mostrar que o sonho não acabou, só adiamos; e vai ser ainda mais intensamente comemorado”, diz Edila.

NOS BASTIDORES

Organizar uma festa de debutante leva tempo, ainda mais uma em grandes proporções, como é o caso da festa de Ana Luísa, pensada para 500 convidados. “É muito emocionante, um sonho desde que eu era bem criança de ter uma festa de princesa. A gente vinha se planejando desde novembro de 2017. Por sorte, a Edila conseguiu, para a data que remarcamos, manter todos os fornecedores. Então não vai ter mudança de local, bufê, fotógrafo, nada”, diz ela.

A cerimonialista conta que sua equipe e parceiros seguem atendendo às debutantes e suas famílias por videochamada. “A gente tem atendido individualmente, tem reunião com fornecedores, está caminhando. No primeiro momento, a insegurança foi grande, mas à medida que as coisas foram caminhando, percebemos que as pessoas podem programar seus sonhos, mesmo quem ainda nem havia começado”, afirma Edila.

Óbvio que para quem está nos bastidores, como ela, tem sido um trabalho ainda mais exigente. “A gente tem que conseguir conciliar as datas de todos os envolvidos na festa - isso é o cerimonial. E nosso trabalho tem triplicado, ainda mais com quem está indo para o segundo reagendamento. Mas é assim, e quem tem o fluxo de caixa está sobrevivendo. O que está preocupante são os montadores de festas, roadies, músicos, que recebiam por diária no fim de semana. Essas pessoas estão a zero, então estamos até com campanha, arrecadando cestas de alimentos para mantê-los até a volta dos eventos”.

BAILE DAS FLORES

Até o mais tradicional dos bailes de debutantes de Belém, o “Baile das Flores”, organizado pela Assembleia Paraense (AP), teve a edição deste ano cancelada. “A gente não consegue falar em adiamento, uma data para o baile, por conta de não ter nem previsão de volta de eventos com aglomeração. Já há notícias de que todos os shows deste ano estão cancelados, por exemplo”, diz Camila Gemaque, diretora de eventos da AP.

Camila Gemaque, diretora de eventos da Assembleia Paraense.
📷 Camila Gemaque, diretora de eventos da Assembleia Paraense. |Arquivo Pessoal

Por sua grandiosidade, o baile, realizado sempre na última sexta-feira de maio, começa a ser organizado desde janeiro, quando os sócios do clube recebem uma carta, na qual são convidados a inscrever jovens para participar. “Tem as que completaram ou completarão 15 anos, no intervalo entre o baile do ano anterior e o atual. Tem debutante que optou por não fazer no ano anterior porque está à espera das amigas que completam no ano seguinte. Há um prazo de inscrição e confirmação”, explica Camila.

Ela conta que sua equipe já está pensando em como seria organizar as debutantes de 2020 e as que já estavam previstas para 2021. O exemplo de Ana Luísa com suas outras 45 amigas neste ano já mostra que não será um número pequeno. Independente disso, o brilho da festa e sua importância para as adolescentes e suas famílias está garantido. Afinal, são décadas de história, que as debutantes da AP de várias gerações estiveram compartilhando ao longo da última semana, em lives promovidas pelo clube no Instagram.

“Foi muito bacana, com as pessoas pedindo para contar aquelas histórias que ninguém conta, que é ‘tudo que dá errado’ (risos). A rede social é a ferramenta que a gente tem hoje para manter essa troca, para celebrar esse evento. Ontem [quarta-feira, 27], nós tivemos como convidada na live a Zezé Costa, que organizou o baile por 22 anos!”, destaca Camila.

Nesse momento, ela acredita que a melhor mensagem que os organizadores desses bailes e as próprias famílias podem passar às debutantes é que tudo que é colocado à prova, para esperar, com certeza, quando vier será ainda mais bem aproveitado.

“Tenho certeza que seria especial agora, mas a oportunidade do próximo baile, a expectativa de viver aquilo, vai ver bem maior e extremamente bem vivido. Acho que a maior lição da quarentena é que a gente deve viver melhor esses momentos. Então, com certeza, esse baile vai virar um momento ainda mais incrível no coração delas”, afirma.

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