Ferida aberta na sociedade que infelizmente perdura até os dias de hoje, a violência contra a mulher ainda é uma triste e inaceitável realidade para quem, em geral, busca união, justiça, dignidade, direitos, valorização e, acima de tudo, respeito dentro de uma sociedade cultural e historicamente machista.

Neste contexto, a internet, mais precisamente as redes sociais, podem provocar reações; ajudar a despertar, impactar, engajar e conscientizar quem se depara com uma publicação, por exemplo.

Nas últimas semanas, a estudante universitária Dayanne Falcão, publicou em seu perfil no instagram um vídeo "fictício" e provocativo que retrata a violência vivida pelas mulheres que sofrem violência doméstica. Assista:

Dayanne explica o que a instigou a produzir e publicar o vídeo: “Estava lendo uma matéria, onde dizia que só no estado do Rio de Janeiro, as denúncias subiram 50% nos casos de Maria da Penha. Quando li essa informação, isso me indignou, e quis trazer essa mensagem para que as pessoas possam refletir, principalmente as que sofrem violência doméstica"

Ainda de acordo com ela, na produção que vai mostrando através da maquiagem diferentes etapas da violência, "procurei mostrar que elas não estão sozinhas, dar coragem e força para as que têm medo em denunciar e, me solidarizo com as vítimas que sofrem com tudo isso. Fiquei muito feliz com os compartilhamentos e visualizações que o meu vídeo atingiu, é muito importante para todos que haja este envolvimento. Já basta de violência!”, enfatizou a jovem.

A iniciativa da jovem não é ao acaso. Pelo contrário: este ano o isolamento social terminou possibilitando um crescimento nos índices de violência doméstica contra a mulher. Somente em abril, de acordo com uma pesquisa feita pelo Fórum Brasileiro de Segurança, houve um aumento de 37,6% no número de denúncias de violência doméstica quando comparado a abril do ano passado.

Mundialmente, segundo um levantamento feito pela ONG SaferNet, houve um aumento de 21,27% nas denúncias de violência e discriminação contra a mulher na internet em abril de 2020, em comparação ao mesmo período no ano de 2019.

Além dos dados preocupantes, o vídeo parte também de um estudo feito pela psicóloga estadunidense Lenore Walker, no qual ela constatou que as agressões cometidas seguem um ciclo repetitivo, contendo 3 fases. A primeira fase é o aumento da tensão, em que o agressor se mostra irritado e tenso por coisas insignificantes, provocando excessos de raiva, humilhando a vítima, quebrando objetos e desferindo ameaças. A mulher por sua vez fica aflita, tenta acalmar o agressor e evita adotar qualquer postura que possa “provocá-lo”.

A segunda fase é o momento da explosão do agressor, ou seja, a ausência de controle chega ao limite, levando ao ato violento. A tensão acumulada na fase inicial se materializa em violência física, verbal, moral, psicológica e mais. O sentimento da mulher nesta fase é de paralisia e impossibilidade de reação, com uma tensão psicológica severa, tendo insônia, medo, solidão, perda de peso, vergonha. Além disso, nesta fase a mulher pode vir a tomar decisões: buscar ajuda, denunciar, esconder-se na casa de parentes, pedir a separação ou chegar ao extremo e se suicidar.

Por fim, a terceira fase é o momento do arrependimento e comportamento carinhoso, que se consiste ao qual o agressor se arrepende, pede desculpas, diz que não vai fazer mais, que foi um momento isolado de descontrole, ele se torna amável para conseguir a reconciliação. A mulher fica confusa, pressionada a manter o relacionamento frente a sociedade, sobretudo quando o casal tem filhos. Porém a vontade e insegurança da mulher não é levada em consideração, tudo é mera ilusão, com o passar do tempo, o ciclo continua.

Vídeo de universitária viraliza para ajudar vítimas da violência doméstica
📷 |Instituto Maria da Penha

Você se identificou ou conhece alguém que já relatou algo assim? Fique atenta!

Cada vez mais é necessária maior atenção porque os índices de violência doméstica contra a mulher cresceram este ano, como já vimos acima. De acordo com o Instituto Maria da Penha (IMP), a cada dois segundos uma mulher é vítima de violência física ou verbal no Brasil. Além disso, o instituto aponta que houve um crescimento de 50% em relação à violência contra a mulher em 2020, decorrente do isolamento social.

Apesar dos índices assustadores, o número de denúncias também aumentou através do Disque 180 – central nacional de atendimento, com 34% a mais de denúncias entre março e abril de 2020, se comparado ao mesmo período de 2019.

Denuncie!

Se você infelizmente é vítima de algum tipo de violência, pode buscar ajuda e ser acolhida através do número 180 - Central Nacional de Atendimento à Mulher, assim como o 181 - Serviço Disque Denúncia, ainda existe o número 100 - Número de atendimento do Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos, todos esses contatos funcionam 24 horas.

Além destes, a mulher também pode buscar a Delegacia da Mulher, em Belém, situada na Travessa Mauriti, Nº 2393, bairro do Marco. Outro artifício é usar as redes sociais para contar a sua história e, assim, mostrar que você não está sozinha e também pode incentivar outras vítimas a fazer o mesmo:

Texto especial para o DOL de Celso Junior. Edição de Enderson Oliveira, coordenador de conteúdo no DOL.

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