Durante a gravidez e no puerpério, além das mudanças físicas, ocorrem significativas alterações emocionais e psicológicas na mãe. É um turbilhão de emoções, como oscilações de sentimentos e mudanças de temperamento comuns em cada período e que refletem no comportamento da mãe e no seu bem-estar.

Para a psicóloga Daniella Dias, com atuação pela Pró-Saúde no Hospital Materno-Infantil de Barcarena (HMIB), a pandemia do novo coronavírus pode agravar ainda mais esse quadro emocional.

“Algumas alterações têm origem hormonal e são comuns nessas fases, porém podem ser potencializadas em um cenário de crise. Muitos conflitos internos surgem a cada dia para mães que lutam diariamente tentando se adaptar a este novo cenário”, explica.

Mãe de primeira viagem, Jéssica Mendes, de 26 anos, moradora de Parauapebas, no sudeste do Pará, planejou a gravidez da pequena Mirela Sofia durante anos, mas devido a complicações precisou lidar com a prematuridade em meio a pandemia, e todos os sentimentos que vieram com esse novo desafio.

“Com a gravidez e parto vem mais nervosismo, ansiedade, a insegurança, o medo. Ser mãe antes da hora, em meio a uma pandemia, foi muito para mim.  É meu primeiro bebê. É difícil lidar com sentimentos que surgem todo o tempo e você nunca está preparada para isso”, descreve.

Principais sintomas e alterações

Daniella comenta que há uma intensidade de sentimentos que a mãe vivencia durante a gestação e após o parto, e essas alterações podem modificar características da personalidade da mãe, assim como, favorecer uma maior carga mental e esgotamento físico.

“A mãe começa a apresentar sintomas de ansiedade e estresse intensos, com maior irritabilidade, choro excessivo, fadiga, dificuldade no sono e na alimentação, isso junto com as alterações hormonais, que podem desencadear em uma depressão”, ressalta a psicóloga.

De acordo com a assistente social Celina Cruz, que também atua pela Pró-Saúde no HMIB, nesses períodos a mulher também lida com mudanças sociais e culturais que podem interferir no psicológico da mãe, diminuindo o autocuidado.

Celina explica que “gerar e ter um filho traz inúmeras mudanças ao corpo, na rotina, na casa e na vida pessoal que impactam na saúde mental da mulher”. A maternidade, segundo a assistente, “interfere em todos os outros papeis que a mulher desempenha, e ela não é só cor de rosa tem tons sombrios também”.

Cuidado psicológico e rede de apoio

Todos esses sentimentos também foram frequentes para Solene Cardoso, 41, mãe de Luiz Henrique, e moradora de Abaetetuba. Para a dona de casa, lidar com essa carga emocional foi um grande obstáculo que ela amenizou por meio de uma rede de apoio do Hospital Materno-Infantil de Barcarena.

“Passei três meses acompanhando meu bebê na UTI. Com a pandemia acontecendo e mentalmente sobrecarregada. A rede de apoio daqui durante o parto e pós-parto foi o que me salvou. Um suporte para lidar com toda essa carga emocional faz muita diferença. Seria muito bom se todas as mulheres fossem acolhidas assim”, descreveu a mãe.

Segundo Daniella, é por meio da rede de apoio que as mulheres conseguem identificar as causas, sintomas, diferenças de alterações emocionais, distúrbios psicológicos, mas também ter uma troca de experiências com outras mães que enfrentam esse desafio.

“Nós trabalhamos com esse acolhimento psicológico no pré-natal, durante o parto e no período de ‘baby blues’, onde acontece uma mudança abrupta de humor e dura em média 15 dias após o parto, mas onde também pode haver maior incidência de depressão. O apoio profissional e respeito são essenciais para elas lidarem com esse novo desafio de ser mãe na pandemia”, destaca a profissional.

Foto: Divulgação

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