A situação de descaso, vandalismo e depredação do patrimônio cultural em Gurupá, no extremo oeste da ilha do Marajó, foi formalmente denunciada junto ao Ministério Público Federal (MPF) e ao Instituto Nacional do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) na última quarta-feira, 23 de setembro.

Encaminhado pela pesquisadora Helena Pinto Lima, do Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG), o documento com a denúncia reforça junto aos órgãos federais o que já havia sido veiculado na imprensa local desde o dia 09 de setembro, quando alguns moradores da cidade, membros do coletivo “Nós os Guardiões”, documentaram atos de depredação e vandalismo na fortaleza de Santo Antônio de Gurupá.

Tombado pelo Iphan em 1963, o Forte de Santo Antônio de Gurupá é uma das mais antigas fortificações coloniais da Amazônia. Foi construída em 1623 por portugueses sobre uma grande aldeia indígena, durante a expulsão dos holandeses da área considerada estratégica no baixo Amazonas, localizada na confluência dos rios Xingu e Amazonas. As pesquisas científicas classificam o local como um complexo arqueológico indígena pré-colonial e pós-colonial de importância singular para a história da região.

Arqueologia participativa

O Museu Goeldi vem atuando em Gurupá por meio das pesquisas arqueológicas desenvolvidas por um grupo de pesquisadores e bolsistas da Coordenação de Ciências Humanas e colaboradores externos, ligados ao projeto Origens, Cultura e Ambiente (OCA). Entre os vários resultados, o projeto culminou na formação do coletivo gurupaense “Nós os Guardiões”, que desenvolve ações locais de educação, valorização e preservação do patrimônio de uma obra orçada em mais de 2,7 milhões de reais. Finalizada em 2018, a revitalização do Forte de São Antônio incluiu a montagem da exposição “Gurupá na Encruzilhada da História, idealizada com o apoio do OCA e inaugurada com a entrega da obra pelo IPHAN à Prefeitura Municipal de Gurupá.

Depredação

As ações de educação patrimonial, desenvolvidas no município pelo coletivo “Nós os Guardiões”, foram interrompidas no primeiro semestre, em função da pandemia da Covid-19. O local, que deveria ser mantido pela prefeitura municipal conforme o compromisso assumido junto à população gurupaense, ao IPHAN, ao MPEG e aos demais representantes da sociedade civil, ficou então sem vigilância e ações de manutenção, incluindo o serviço de iluminação.

De acordo com a denúncia, as posteriores ações de vandalismo incluíram a destruição da exposição e danos ao espaço edificado da Fortaleza. Itens como moedas e cédulas antigas foram furtados. Vitrines de exposição foram violadas e quebradas. Reproduções de imagens produzidas na década de 1950 pelo antropólogo norte-americano Charles Wagley, assim como maquetes, jogos e materiais educativos foram destruídos.

Boa parte desses artefatos foram obtidos pelas pesquisas colaborativas do Projeto OCA. Em função do seu caráter inovador e colaborativo, o projeto foi contemplado em 2018 pela 31ª Edição do Prêmio Rodrigo Melo Franco de Andrade, do Iphan, na categoria “ações de excelência na preservação do patrimônio cultural material”.

Gurupá fica no extremo oeste do Marajó. Foto: Reprodução

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