Bruna Miranda tem 35 anos, trabalha como propagandista de medicamentos e no meio da rotina agitada encontra tempo para treinar e tentar se manter saudável, sem descuidar da alimentação. Mesmo assim, para potencializar os efeitos disso no organismo, faz uso de suplementação alimentar, com ao menos 14 produtos diferentes consumidos diariamente, um investimento médio de R$ 650 por mês.

“Uso proteína isolada para ajudar no ganho de massa magra e glutamina para melhora da imunidade. Tomo um ‘shot’ em jejum diariamente a base de cúrcuma, própolis e limão. Mais vitaminas: C, D, E, zinco, magnésio, Fisioton (Rhodiola rosea) e complexo B”, lista, sem deixar de ressaltar que tudo foi receitado por uma nutricionista. “Não consigo absorver uma quantidade adequada de proteína condizente com o meu objetivo de treino através da alimentação”, justifica.

O nutricionista Kleiton Silva também é adepto desses produtos. “Me sinto muito bem, me sinto saudável. Algumas vezes percebo que meu sistema imunológico quer baixar, mas faz muito tempo que não pego uma gripe”, garante. “A creatina, por exemplo, eu percebo que ela me ajuda no ganho de força. Para mim tem feito muita diferença a suplementação”.

Kleiton usa ainda polivitamínico e Whey Protein. “Tenho treinado um pouco acima da média e tenho conhecimento sobre eles. Minha recuperação é muito melhor, a fadiga quase não aparece”, conta. “Muitas pessoas pensam que faz mal, mas se tomados de maneira correta, com orientação é muito bom. O Whey, por exemplo, as pessoas pensam que é anabolizante, mas essa carga proteica extra auxilia muito no ganho de massa muscular”, diz. “É preciso quebrar esse tabu”, afirma.

A propagandista e o nutricionista não estão sozinhos neste hábito. Uma pesquisa da Associação Brasileira da Indústria de Alimentos para Fins Especiais (Abiad) mostra que 59% dos lares brasileiros têm ao menos uma pessoa que consome suplementos, um aumento de 10% em relação a pesquisa anterior, realizada em 2015.

O estudo atual foi realizado no primeiro trimestre desse ano, em algumascapitais brasileiras - Porto Alegre (RS), São Paulo (SP), Rio de Janeiro (RJ), Salvador (BA), Fortaleza (CE), Brasília (DF) e Belém (PA) -, com 1006 entrevistas. O perfil dos participantes foi de 50% de homens e 50% de mulheres, com idades entre 17 e 70 anos, de todas as classes sociais.

O levantamento foi complementado em maio, pico da pandemia da Covid-19, e novamente mostrou elevação do índice de consumo de vitaminas, minerais e proteínas por 48% de uma amostra de 275 entrevistados, nas mesmas capitais. A maioria sob o pretexto de fortalecer a imunidade, principalmente contra o novo coronavírus.

ORIENTAÇÃO

Seja qual for o objetivo, a médica endocrinologista do HapVida, Natasha Vilanova, explica que uma alimentação equilibrada deve ser a primeira preocupação para quem quer ter todos os nutrientes necessários para viver bem. Segundo ela, os suplementos só devem ser consumidos se houver algum tipo de deficiência deles no organismo, para suprir objetivos específicos e com recomendação profissional de um médico ou nutricionista. “Se o paciente relata que prefere o suplemento porque não tem tempo para uma refeição, pela praticidade a gente recomenda”.

Os idosos são outro exemplo de grupo que pode se beneficiar da suplementação. “Eles têm uma particularidade, fisiologicamente perdem massa muscular e ganham gordura. Aí a gente recomenda que desde cedo se faça um aporte adequado de nutrientes para não ter perda de massa muscular”, destaca. “Existem alguns que não conseguem (se nutrir) somente pela alimentação, aí a gente recomenda para evitar sarcopenia ( processo natural e progressivo de perda de massa muscular). É muito bem-vinda nesse caso”.

Sobre o consumo de vitamina D, zinco e vitamina C para tentar se proteger da Covid-19, a endocrinologista lembra que ainda não há nada comprovado cientificamente. “Apesar de alguns estudos, não tem comprovação cientifica. Mesmo com uso da vitamina D não impede o paciente de ter o vírus. Quando tem necessidade a gente faz o uso, mas não pode ser vendido dessa forma, de que tem como não contrair. Jamais podemos dar essa informação ao paciente”.

No geral, Natasha Vilanova observa que o objetivo de fortalecer o sistema imunológico só é atingido se outros hábitos forem adotados. “É um conjunto que auxilia no fortalecimento do sistema imunológico. Não adianta tomar se tiver hábitos incorretos, se é sedentário.

Aí será ineficaz”.

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