O início da pandemia, muitos segmentos econômicos foram severamente afetados. Um deles foi o de restaurantes, que, durante os picos de contágio do novo coronavírus, foram obrigados a fechar as portas. Na capital paraense, comerciantes do setor têm se virado como podem para honrar as contas, evitar demissões e perder o negócio.

O lockdown causou grande impacto nos negócios de Maria Helena Galdino, 41 anos, mais conhecida como “Nega”, que dá nome ao restaurante de comidas típicas na avenida Rômulo Maiorana, bairro do Marco. Entre as árvores, as mesas que antes ocupavam boa parte do espaço, hoje servem mais para estacionamento de carros particulares. Ela diz que precisou ter muita esperança, pois o medo de perder o negócio e a própria vida já era significativo.

“Quando abro as redes sociais do restaurante para divulgar, dá uma tristeza ao ver tantas notas de pesar, pessoas se despedindo, homenageando entes e amigos mortos por causa da Covid-19. Dá um medo, uma sensação de impotência que nos deixa sem reação”, revela. Nega conta que antes desse período, chegou a ter 15 funcionários trabalhando simultaneamente, mas hoje faz um esforço para segurar os seis que conseguiu. A demissão de parte do corpo colaborativo foi uma imposição da pandemia. Sem clientes, não havia meios para garantir os salários.

Para não fechar de vez, ela garante que precisa se desdobrar. “Aqui nós abrimos 11 horas, fazemos entrega, divulgamos bastante nas nossas redes sociais. Eu me viro como posso. Tivemos uma queda em torno de 60%. Foi duro. Sem contar que nós precisamos seguir as medidas de segurança, estamos com metade das mesas, distanciamento, higienização. Tudo isso também tem um custo”, garante.

PESQUISA NACIONAL

Um levantamento divulgado pela Associação Brasileira de Bares e Restaurantes, (Abrasel), mostra que desde o ano passado mais da metade dos restaurantes vem operando no vermelho. Ao todo, 53% dos empresários disseram passar por dificuldades. Além disso, a retomada também não tem sido satisfatória para 52% dos entrevistados no estudo. Os restaurantes mais afetados são os que atendem as classes A e B. A pesquisa foi realizada em 27 estados e também apontou elevado nível de endividamento das empresas. Mais de 60% do segmento diz ter contraído empréstimos para sobreviver durante a crise. Desse universo, cerca de 30% espera levar até dois anos para quitar as dívidas, enquanto outros 18% sequer conseguiram crédito.

Maria Helena diz que se desdobra para manter negócio funcionando
📷 Maria Helena diz que se desdobra para manter negócio funcionando |Wagner Almeida

MUDANÇAS

A supervisora Luciana Souza, 34, trabalha em um restaurante no bairro da Pedreira. Ali, 10 funcionários foram demitidos. “Nós tínhamos 50 colaboradores e baixamos para 40. Foi um corte não planejado, mas que era necessário”, diz. Hoje, eles trabalham em todos os horários possíveis para reaver os ganhos, mas ainda garante estar bem abaixo da expectativa. “Acho que só com os meses que vamos reerguer. Não está fácil”, conta.

Hoje eles funcionam até as 18 horas e depois fecham para o público, concentrando unicamente nas entregas, como forma de compensação. Luciana diz que a empresa também recebeu um benefício, responsável pelo pagamento de 70% do salário dos funcionários, enquanto a empresa cooperava com os 30% restantes. Mas o término os colocou novamente no alerta. “A gente tem se esforçado, mas sabemos que a melhora depende diretamente das medidas e dos casos. Estamos torcendo diariamente para que isso tenha um final feliz para todo mundo”, encerra.

Restaurantes mantêm distanciamento e medidas de segurança, mas movimento vive queda Foto: Wagner Almeida

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