Dados mais recentes divulgados Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) apontam que o desmatamento na Amazônia Legal atingiu 778 km² somente no mês de abril. Para se ter uma ideia de comparação é como se mais do que três áreas da Ilha de Mosqueiro, que tem tamanho aproximado de 212 km², totalmente coberta de floresta, tivessem desaparecido. Mas a boa notícia de hoje (5), quando se comemora o Dia Mundial do Meio Ambiente é que iniciativas individuais como a prática de um consumo consciente e o boicote efetivo a produtos que contribuem para a degradação do meio ambiente, entre outras, podem contribuir para uma mudança desse cenário.
A informação é do pesquisador e cofundador do Imazon, Beto Veríssimo, que acompanha de perto há anos alguns dos principais problemas enfrentados na Amazônia como o desmatamento, as queimadas, garimpos e a grilagem de terras. Para ele, a região vive hoje o que ele chama de “tempestade perfeita de problema”. “Estamos vivendo uma situação bem ruim, como o aumento de todos esses problemas, que resultam não apenas no agravamento da questão ambiental, mas também em uma piora da questão social, porque a perda do controle dessas questões acaba atraindo menos investimentos para cá, acarretando em uma série de outros problemas sociais e econômicos”, explica.
Para ele, embora complexos e agravados nos últimos três anos por uma total falta de políticas efetivas destinadas ao meio ambiente, é importante enfrentar esses problemas e saber que a colaboração de todos é fundamental. “O câncer ou o principal problema da Amazônia hoje é o desmatamento. Precisamos estabilizar esse paciente e tirá-lo da UTI”, diz, ao comparar a situação enfrentada pela região a de uma pessoa doente que precisa ser tratada com urgência.
Os números de fato apontam que a situação é grave. Dados produzidos pelo Sistema de Alerta do Desmatamento (SAD), que monitora a região via satélites mostram que no último mês de abril houve um aumento de 45% no desmatamento em comparação ao mesmo período do ano passado, que foi 536 km². No topo da lista dos estados com maior área desmatada está o Amazonas que lidera a lista com a maior parte do percentual (28%), seguido pelo Pará (26%), Mato Grosso (22%), Rondônia (16%), Roraima (5%), Maranhão (2%) e Acre (1%).
Mas ainda diante do cenário devastador, Veríssimo acredita que os desafios possam ser superados. “Existem soluções viáveis. É possível fazer o reflorestamento em algumas das áreas que hoje estão devastadas, porque aqui temos as duas principais ferramentas para isso, água e sol. Já aquelas áreas em que não é mais possível fazer isso, poderiam ser aproveitadas para desenvolver a pecuária, por exemplo”, cita.
O pesquisador também aponta caminhos para os quais todos podem contribuir de forma individual. “Votar em quem tem comprometimento com essas agendas ambientais é uma dessas ações. Outra é, na hora de comprar produtos, recusar aqueles que têm origem de desmatamento, como é o caso de madeira sem documentação e da carne vinda de áreas desmatadas”, orienta.
POSIÇÃO
Ele cita ainda que as pessoas precisam se posicionar em relação aos problemas que envolvem a Amazônia. “A população está mais consciente sobre essas questões. O cidadão tem consciência que o desmatamento compromete o presente e anula o futuro, por isso precisam se manifestar sobre isso, usar suas redes sociais contra as empresas que mantêm práticas não sustentáveis. É preciso fazer um boicote aos produtos originados do desmatamento porque eles precisam de um mercado consumidor para se manter. A indignação tem que se converter em ação”, alega.
Assim como o cidadão, o governo também precisa sair da área do discurso e agir de fato. Nesse aspecto, a população pode e deve estar atenta e cobrar que o estado cumpra o seu papel. “Temos vivido três anos muito ruins na agenda ambiental, que não vem recebendo nenhuma prioridade. Essa retórica precisa mudar. É preciso sair do discurso, como o que vimos por ocasião da Cúpula do Meio Ambiente e trazer as coisas para a prática. E não dizer uma coisa e fazer outra”, disse ele, lembrando o fato do presidente do Brasil, Jair Bolsonaro ter descumprido as promessas feitas sobre a preservação do meio ambiente, em abril deste ano, durante a Cúpula do Clima, ao cortar o orçamento destinado aos programas do Meio Ambiente em 35% e seguir avançando em pautas que enfraquecem ainda mais as leis ambientais no país.
O pesquisador reafirma ainda a necessidade do investimento em fiscalização para conter o desmatamento na região. “Essa é uma das principais armas, porque o desmatamento não ocorre do dia para noite. Temos satélites capazes de mostrar quando isso está começando a ocorrer para que a fiscalização possa agir. É preciso endurecer as leis contra a grilagem, com uma fiscalização ostensiva”, diz.
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