Para amenizar o período de internação e sentimento de tristeza, estresse e, principalmente, saudade dos familiares, os pacientes do Hospital de Campanha do Hangar, em Belém, recebem suporte psicológico diariamente.
O atendimento é realizado em beira leito, desenvolvido por psicólogos junto aos pacientes da enfermaria e em tratamento intensivo. A assistência conta com técnicas que agem diretamente na melhora da saúde mental e incluem pacientes que saíram de uma intubação, auxiliando na retomada de consciência, respiração e autoescuta.
“Os pacientes estão isolados para o tratamento e muitos deles enfrentam sentimentos que não ajudam, como, por exemplo, a ansiedade. O atendimento em beira leito vem justamente para entender essas necessidades e dar o suporte que ajuda a diluir essas sensações negativas para contribuir com a recuperação”, explica Patrícia Ramos, psicóloga do Hangar.
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Dentro do Hospital de Campanha, sete profissionais dividem a missão de desenvolver uma escuta empática, a fim de aproximar o profissional do paciente, para acolher e reconhecer necessidades que auxiliarão na assistência prestada.
Atuando desde o início da instalação do Hospital de Campanha, o psicólogo Rogis Coutinho narra diversas histórias vividas durante a trajetória de cuidados na linha de frente da pandemia. “São diferentes histórias, muitas felizes e outras que precisamos de mais entendimento. Essa doença pode ser angustiante, tanto para nós que estamos do lado de cá na linha de frente, quanto para os pacientes, que, muitas vezes, trazem outras angústias atreladas ao adoecimento”, conta.
Pacientes contam experiências
Internado durante 13 dias na enfermaria do Hospital de Campanha, Irineu Souza Araújo, de 53 anos, vindo de Marituba, Região Metropolitana de Belém, foi um dos pacientes que receberam assistência psicológica. “Desde muito cedo, eu apresento quadros de ansiedade. Cheguei no hospital e minha esposa já informou isso, que eu apresentava picos de ansiedade. Tenho certeza de que o acompanhamento diário, além de todos os outros cuidados, fez o meu estado não agravar”, afirma.
O pedreiro, que é pai de seis filhos e atua como pastor, conta que saber que haveria a escuta e troca de experiências com os profissionais agregava para manter a saúde mental. “As conversas com a psicóloga funcionavam como uma confirmação de que eu não estava sozinho, mesmo distante da minha esposa e dos meus filhos, me deixava mais calmo e confortável”, lembra.
Para o professor Wady Nogueira de Oliveira, de Bragança, interior do Pará, estar internado na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) foi um dos momentos mais difíceis enfrentados durante os seus 46 anos. “Foi um dos períodos mais dolorosos da minha vida. Os medos são vários e o apoio psicológico entra para ajudar a entender e superar esses medos. Com certeza, se não fossem as conversas, o respeito e o cuidado empregado, talvez nem tivesse sobrevivido”, acredita.
Outro paciente que deposita a melhora ao suporte psicológico é Bruno Otamar Engelsing, 46. O agricultor, que mora em Paragominas, cerca de 300 km da capital paraense, esteve internado em estado grave na unidade de terapia intensiva da unidade hospitalar e conta que o apoio psicológico oferecido foi fundamental para o processo de recuperação. “Sou extremamente grato. Lembro até hoje das conversas que tive com o psicólogo. Acredito que, a partir desse atendimento, há um estímulo para que sejamos mais humanos. Lembro que eles me motivavam a não perder a esperança e eu venci”, diz.
Projeto Sala de Espera
Rede de assistência aos familiares – Após a análise psicológica realizada, parte das informações recolhidas são repassadas aos familiares a partir do boletim psicológico. Ainda, além do suporte oferecido aos pacientes, no hospital há o Projeto Sala de Espera, que presta atendimento psicológico gratuito aos familiares e objetiva diminuir sensações de culpa, medo e insegurança.
“No Projeto Sala de Espera, a família é protagonista. No momento do atendimento, recebemos as angústias, aflições e medos, sentimentos trazidos pela doença. É nesse momento de escuta que a gente tenta reconhecer essas fragilidades e reverter”, conclui a psicóloga.
Hospital de Campanha do Hangar - Instalado pelo Governo do Pará em 2020, a unidade é gerenciada pela entidade filantrópica Pró-Saúde, o Hospital de Campanha é a maior unidade hospitalar do Estado para tratamento exclusivo de pacientes com a Covid-19. Atualmente, conta com 160 leitos e ocupação de 45%. Desde sua abertura, mais de 7 mil pessoas já foram atendidas na unidade pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
“Diversas ações compõem o quadro que pretende humanizar cada vez mais as relações dentro do Hospital de Campanha do Hangar. Nós estamos frente à uma pandemia, em um dos momentos mais difíceis para todos, mas não é por isso que deixaremos esse cuidado de lado. O nosso principal objetivo é reestabelecer a saúde dos pacientes para que eles saiam daqui bem, recuperados e lembrem de todo o esforço feito pelos profissionais durante o período de internação”, conclui Josieli Pinheiro, diretora assistencial do Hospital de Campanha do Hangar.
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