Para muitos, Círio é sinônimo de fé, devoção e união. Assim como é momento para consagrar o respeito e partilhar de tantos outros belos sentimentos com quem temos carinho. Afinal, independente de orientações religiosas, o desejo que se faz ano após ano, especialmente nesse período, nada mais é que chuva de bênçãos na vida de todos.

Em meio a tantos exemplos de devoção mariana, não é surpresa quando testemunhamos pequenas manifestações religiosas realizadas para suprir a versão tradicionalmente já conhecida pelos devotos no segundo domingo de outubro. Uma delas, em especial, aconteceu no final do mês de setembro, quando a pequena santinha visitou o terreiro de umbanda Nangetu Mansú Masubando.

Expulsão

A visita foi organizada pelo então membro da Guarda de Nazaré Jairo Tapajós. Em virtude da pandemia e com as romarias que foram suspensas esse ano, teve a iniciativa de realizar simples peregrinações usando uma santinha que tinha em casa. Com roupas civis, o devoto carregava a pequena santinha em mãos e a levava até a casa dos fiéis que faziam questão de homenageá-la. Ainda que visto com bons olhos por aqueles que eram agraciados, a visita infelizmente resultou na expulsão dele da Guarda de Nazaré, onde serviu desde 2016.

“Em 27 de setembro eu recebi um convite para visitar o terreiro e no dia 3 de outubro o jurídico da Guarda me chamou, alegando que estavam chegando mensagens de pessoas reclamando de algo que eu fiz”, relembra Jairo em entrevista ao DOL na noite desta quinta-feira (14).

A denúncia é que a expulsão do, então, guarda de Nazaré tenha sido provocada por racismo religioso.

Devoção

“Eu fiquei constrangido quando a ‘ficha caiu’. A sensação é que eu não tinha mais vida social”, desabafa. Mesmo tendo sido expulso da instituição, o ex-guarda revelou estar em paz consigo e que não pretende voltar a servir a Guarda de Nazaré mesmo que surja essa possibilidade no futuro.

Com a sensação de que um grande peso saiu de suas costas, Jairo garante que pretende continuar as pequenas peregrinações. “A minha fé não vai mudar, ela não foi abalada. Nossa Senhora de Nazaré é de todos nós”, afirma.

OUTRO LADO

O DOL procurou a Guarda de Nazaré para comentar o caso e aguarda um posicionamento. A reportagem será atualizada com a resposta da Guarda. 

Jairo Tapajós organizava pequenas peregrinações a casa dos fiéis usando a própria santinha que tinha em casa Foto: Antônio Melo/Diário do Pará

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