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DESABAFO

Expulso da Guarda de Nazaré fala em intolerância religiosa

Jairo Tapajós aponta que o desligamento ocorreu após ele ter levado uma réplica da imagem de Nossa Senhora de Nazaré a um terreiro de candomblé, em mais uma das muitas peregrinações que costuma fazer

Imagem ilustrativa da notícia Expulso da Guarda de Nazaré fala em intolerância religiosa camera Jairo diz que a imagem usada nas novenas é dele e que pretende continuar fazendo as peregrinações. Abaixo, página do DIÁRIO reportando a peregrinação realizada no terreiro de candomblé | Mauro Ângelo

Com uma vida dedicada a levar os ensinamentos deixados pela Virgem Maria até onde fosse solicitado, o funcionário público e devoto de Nossa Senhora de Nazaré Jairo Tapajós, 38 anos, jamais imaginou que a realização de uma peregrinação com uma réplica da imagem da santa pudesse resultar no seu desligamento da Guarda de Nazaré, da qual era membro voluntário há cinco anos. O devoto aponta que o desligamento ocorreu após ele ter levado a imagem de Nossa Senhora de Nazaré a um terreiro de candomblé, em mais uma das muitas peregrinações que ele costuma fazer nas casas que solicitam a visita. Ele considera que a expulsão é resultado de intolerância religiosa.

Vestido como civil, sem a farda da Guarda de Nazaré e sem se colocar como membro da organização naquela ocasião, Jairo conta que realizou a peregrinação no terreiro de candomblé Mansu Mansumbandu Kenken, a pedido da matriarca da entidade religiosa, no dia 27 de setembro, dia de São Cosme e Damião. Da mesma forma como ele costuma realizar a peregrinação em outras casas de famílias, levando a sua própria imagem de Nossa Senhora de Nazaré, ele o fez no terreiro. “Eu tenho amigos de todas as religiões e a Mãe de Santo perguntou se eu poderia levar a imagem para que fizéssemos a peregrinação lá e eu disse que podia, sem problema nenhum”, lembra. “Fizemos a novena normalmente, como fazemos em qualquer lugar, rezamos o terço normalmente e depois eu retornei com a imagem para casa”.

Guarda de Nazaré expulsa membro que levou imagem a terreiro

Peregrinações se intensificam às vésperas do Círio deste ano

Jairo lembra que a novena chegou a ser noticiada pelo DIÁRIO, que publicou uma matéria, no dia 29 de setembro, sobre as novenas realizadas em homenagem a Nossa Senhora de Nazaré, reportando a peregrinação realizada no terreiro de candomblé. Já no dia 06 de outubro, Jairo conta que foi chamado pelo departamento jurídico da Guarda de Nazaré. “Eles disseram que haviam chegado informações de que eu estaria realizando peregrinações com a imagem de Nossa Senhora de Nazaré em lugares indevidos. Depois disseram que, por ordens superiores, eu estava desligado da Guarda de Nazaré. Eu permaneci calado o tempo todo”, conta, ao relatar que não imaginava que tal situação pudesse ocorrer. “Aquilo foi um choque para mim”.

Este foi o último contato de Jairo com a direção da Guarda de Nazaré até a manhã do último sábado (16). O funcionário público conta que, inicialmente, não falou nada a respeito do ocorrido, porém, dias depois viu circular nas redes sociais uma foto sua com o informativo de que ele havia sido desligado da Guarda e que estaria impedido de participar uniformizado de eventos. “Alguém disparou uma foto minha nas redes sociais e eu fiquei muito constrangido porque parecia aquelas fotos de ‘procurado’. Depois disso o caso foi ganhando repercussão, a imprensa começou a me procurar e eu resolvi falar sobre o que aconteceu porque eu não fiz nada de errado”, conta, ao apontar como vem se sentindo diante das muitas manifestações de apoio que passou a receber pelas próprias redes sociais. “Eu me sinto tranquilo. Foi um aprendizado para mim, uma coisa passageira, mas que não abalou em nada a minha fé. Nossa Senhora de Nazaré é mãe de todos”.

Jairo reforça que a imagem usada nas novenas é dele e que ele pretende continuar fazendo as peregrinações onde forem solicitadas. À reportagem do DIÁRIO que noticiou a peregrinação ocorrida no dia 27 de setembro, Jairo apontou que, apenas no período que antecedeu o Círio, já havia levado a imagem, em peregrinação, a pelo menos 40 lares e grupos de pessoas, conforme solicitação dos próprios fiéis, exatamente da mesma forma como ocorreu no terreiro Mansu Mansumbandu Kenken. “Desde que a situação ficou conhecida, as pessoas vêm me procurar e pedir para não parar com as peregrinações e eu não vou parar. A minha fé continua a mesma e Nossa Senhora de Nazaré é mãe de todos”. Jairo aponta, ainda, que considera o ocorrido um caso de intolerância religiosa e que não tem vontade de retornar à Guarda de Nazaré.

O DIÁRIO fez contato com a Guarda de Nazaré para saber se gostariam de se pronunciar sobre o ocorrido, porém, não obteve resposta até o fechamento desta edição.

Diversidade

A professora dos cursos de graduação e pós-graduação em Ciência das Religiões da Universidade do Estado do Pará (Uepa), Taíssa Tavernard de Luca, aponta que, caso a expulsão de Jairo da Guarda de Nazaré tenha sido realmente motivada pelo fato de ele ter levado a imagem de Nossa Senhora de Nazaré ao terreiro, o episódio pode configurar um caso de racismo religioso.

A professora explica que existem dois tipos de relação entre as religiões de matrizes africanas com o cristianismo. Uma se dá através do sincretismo, quando as práticas católicas influenciam nas práticas rituais e a outra ocorre por meio do diálogo religioso. “No sincretismo se praticam rituais religiosos que são característicos do catolicismo, alguns do catolicismo popular, como as ladainhas, por exemplo. E existem aqueles que, efetivamente, têm uma identidade mais arraigada no continente Africano, mas que, ainda assim, são abertos ao diálogo. Um diálogo religioso não significa, necessariamente, o sincretismo, mas sim respeitar e aceitar o diferente”.

Taíssa aponta que, inclusive, o respeito às diferenças entre as religiões é debatido no Grupo de Estudo de Religiões de Matriz Africana na Amazônia (Germaa) da Uepa, do qual ela é coordenadora e que é composto por pessoas de diversas religiões, não apenas de manifestações afrorreligiosas, que discutem o respeito à diversidade. “A partir do momento que a gente abre para a possibilidade de diálogo entre as religiões, a gente se abre para uma sociedade mais fraterna. Sabemos que existe uma série de histórias de hostilidade contra as religiões diferentes, então, é preciso entender que o caminho para a paz é o caminho do diálogo”, considera. “Você pode sustentar a sua identidade religiosa e, ao mesmo tempo, estimular o respeito à diferença”.

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