O dia era para ser de lazer, aproveitando o embalo desse ritmo de festas que estão, inevitavelmente, aquecendo o comércio de pequenos e grandes empreendedores em todo o país, com pessoas estudando preços de loja em loja ou garantindo um presentinho ou uma lembrança, seja para si ou para amigos e familiares. Essa tem sido a programação de muitos a poucos dias do Natal, mas para Hitalo Matheus a ida às compras, que deveria ser tranquila e divertida, terminou com humilhação, frustração e indignação.
As denúncias foram feitas no perfil dele nas redes sociais, por meio do stories. Nos relatos, o rapaz de 24 anos desabafou sobre o constrangimento sofrido dentro de uma loja de roupas em Belém no início da noite da última segunda-feira (20). Ele acompanhava a namorada, que experimentava uma roupa no provador, quando foi abordado por uma funcionária.
“Fui até a loja, localizada no Entroncamento, pra fazer umas compras de Natal para a minha namorada. Chegando lá, ela escolheu uma peça de roupa e eu sentei, fiquei aguardando. Logo em seguida, a senhora, que aparenta ser proprietária, chega até mim e na frente de todos, com tom de arrogância, manda eu ficar de pé e levantar a camisa pra mostrar se eu estava escondendo algo”, narra.
Hitalo disse ainda que questionou a abordagem da funcionária, que se limitou apenas a repetir a exigência. “Ela engrossou o tom de voz e repetiu pra eu levantar a camisa. Prontamente, eu levantei e mostrei que não tinha nada. Ela, sem dizer nada, voltou até o caixa e continuou o que estava fazendo”, lembra.
“Eu perguntei porque ela fez isso e ela simplesmente disse ‘peço desculpas, mas depois te explico’, como se nada tivesse acontecido”, diz o jovem, indignado. “Aparentemente, tomou essa atitude apenas por eu ser negro e não estar bem vestido. Eu saí da loja desnorteado, sem acreditar no que estava acontecendo. Minha namorada que estava saindo do provador viu a cena sem entender nada”, relata.
Em busca de justiça
Ao DOL, Hitalo afirmou que expôs toda a situação para a família, que o motivou a tomar uma atitude. Inicialmente, começou compartilhando o caso com amigos e seguidores nas redes sociais, mas logo a história ganhou proporções maiores, tendo recebido o apoio de outras pessoas. Determinado, o jovem disse que irá recorrer legalmente em busca de justiça.
“Ela não pode sair sem me dar uma justificativa plausível. Eu fiz um boletim de ocorrência online, mas por falta de tempo eu não consegui ir mais cedo fazer um presencial”, disse. O jovem entrou em contato com um advogado e deu início às mobilizações. “Eu vou abrir um processo contra ela. Até amanhã tenho uma resposta [do advogado]”.
Após ele expor a situação nas redes, a loja entrou em contato com Hitalo para se desculpar. O DOL também procurou a empresa, que retornou as solicitações após a publicação desse texto. Confira o comunicado na íntegra:
"Gostaria de esclarecer que a situação toda foi um mal entendido. Por estarmos em época de final de ano, temos um movimento intenso de pessoas na loja e estamos tomando cuidados redobrados com a segurança. Somos 5 mulheres trabalhando em um comércio e muitas vezes nos encontramos em situação de vulnerabilidade.
O motivo da abordagem foi devido a um gesto do cliente de guardar um objeto pessoal por dentro da blusa, chamando a atenção de uma das nossas vendedoras que, erroneamente, comunicou ao resto da equipe de um possível furto.
Não compactuamos com qualquer tipo de preconceito e atitudes provenientes a isso e comunico que estamos passando por uma reformulação dentro da nossa equipe. Informo também que já estamos tratando do caso diretamente com o cliente. Lamento por essa situação".
Enquanto isso, tudo o que resta ao jovem Hitalo são sentimentos de angústia e indignação. “Eu tô triste e inconformado. Não sabia que ia me deixar tão cabisbaixo. Sabe a sensação de ser assaltado? É bem parecida”.
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