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EDUCAÇÃO

Professores vão em busca dos alunos em comunidade do Acará

Na comunidade de Nova Esperança, na zona rural do município, a evasão escolar fez com que um grupo de professores fosse em busca dos alunos que não voltaram para fazer a matrícula para o ano letivo de 2022

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Imagem ilustrativa da notícia Professores vão em busca dos alunos em comunidade do Acará camera "Essa busca ativa já era um anseio nosso, enquanto professores querendo transformar realidades e vidas", disse Suely Ramos, professora. | IRENE ALMEIDA/ DIÁRIO DO PARÁ

O ano letivo de 2022 já começou em diversas escolas. No entanto, tem salas de aula com poucas carteiras ocupadas. O cenário que se observa em unidades de ensino confirma os números do Censo Escolar, feito pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), que apontam o crescimento da evasão escolar no Brasil. Somente na educação infantil, o índice de crianças brasileiras que deixaram de frequentar as salas de aula saltou 7,3%, entre 2019 a 2021.

No Pará, de acordo com o Censo, entre 2020 e 2021, a evasão escolar na educação infantil cresceu 3,16%. São 10.088 meninos e meninas, com idades entre 0 a 5 anos, que não tiveram a matrícula renovada ou que os pais deixaram de levar para o colégio.

Em todo o território nacional, a maioria das escolas que oferecem turmas de educação infantil pertence às redes municipais de ensino. Essas unidades concentram 76,3% das matrículas de crianças no país. E mais, 11,5% dos alunos da faixa etária de 0 a 5 anos estão na zona rural, onde a distância entre as casas onde moram e a escola tende a ser de maior dificuldade para mobilidade, o que se torna um dos motivos para que os estudantes deixem de frequentar a sala de aula.

Na comunidade de Nova Esperança, na zona rural do município de Acará, nordeste paraense, a evasão escolar fez com que um grupo de professores fosse em busca dos alunos que não voltaram para fazer a matrícula para o ano letivo de 2022, que começa em março. Nessa localidade, se as aulas da educação infantil começassem hoje, praticamente não haveria alunos em sala de aula.

“Sem alunos a escola não tem como funcionar, mas não é só isso. A baixa quantidade de estudantes em sala de aula, matriculados, acaba fazendo com que o município receba menos recursos e, consequentemente, os investimentos na educação se tornam menores. Isso deixa a situação mais complicada, principalmente quando falamos em educação no campo”, destacou o professor Moises Levy Cristo, que leciona na Escola Júlio Cézar.

Levy Cristo
📷 Levy Cristo |IRENE ALMEIDA/ DIÁRIO DO PARÁ

Em Acará, entre 2021 e janeiro de 2022, o índice de evasão escolar na faixa de 0 a 5 anos (creche e pré-escola) aumentou 11,02%, segundo os dados fornecidos pelos educadores e atribuídos à Secretaria Municipal de Educação do Acará. Até o momento, são 411 meninos e meninas que ainda não renovaram as matrículas. Nesse mesmo período, nas séries do ensino fundamental menor, que vai do 1º ao 5º ano, a evasão escolar cresceu 9,64% nas escolas do município.

A Secretaria Municipal entrou em contato com o Dol e informou que ainda está aberto "calendário de matrícula". "O número de alunos fora da rede escolar diminui a cada dia, e nos próximos dias conseguiremos alcançar e até ultrapassar o número de matrículas em cada etapa da educação básica ofertada no município", diz o ofício encaminhado à redação.

A busca ativa ainda está em andamento na comunidade de Nova Esperança e em outras localidades do município. Essa busca deverá diminuir a evasão escolar. Por enquanto, a experiência de ir atrás dos alunos têm sensibilizado os professores, que passaram a ver de perto a situação de vulnerabilidade em que vivem crianças, jovens e adultos do campo e ter um contato mais próximo dos motivos que, de alguma forma, contribuem para que eles abandonem as salas de aulas.

A necessidade de trabalhar para se sustentar e ajudar os pais a levarem a comida para a mesa tem contribuído para que os alunos deixem a escola de lado. Com uma pasta nas mãos, a professora Suely Ramos calcula ter percorrido mais de 50 quilômetros por ramais, estradas e caminhos em Nova Esperança à procura de alunos. Ela colhe os dados, conversa com os pais, verifica se as crianças estão fazendo atividades em casa, orienta sobre a matrícula.

“É um trabalho de convencimento. Antes de cobrar a volta dos alunos, a gente precisa fazer com que a família goste da gente. Essa busca ativa já era um anseio nosso, enquanto professores querendo transformar realidades e vidas”, disse.

LOCOMOÇÃO

Suely tem vivido na pele o que as crianças enfrentam para ir e voltar da escola. “Existe o transporte escolar. A secretaria de educação, hoje, garante esse serviço, mas os veículos ainda não chegam às localidades mais distantes. Tem aluno que precisa atravessar o rio. Há caminhos em que o carro não passa. Em dias de chuva a estrada vira um atoleiro”, frisou.

“Estou vivendo isso nesses dias, imagine o sacrifício para essas crianças terem de lidar com isso diariamente”, destacou a educadora. “Tem criança que precisa percorrer até oito quilômetros para conseguir pegar o transporte escolar. Antes, quando não havia esse transporte, esse percurso era bem maior”, prosseguiu.

“Não é somente isso. Entrei em casas em que as famílias não tinham o que comer. Já eram 11h e os pais não sabiam o que iam dar para os filhos. Isso tocou muito, porque acaba fazendo com que as crianças deixem de vir para a aula para ajudar os pais na lavoura, para conseguir ter alimentos na mesa”, afirmou. “Tem criança que vai para a escola só pela merenda. Ainda bem que temos isso hoje”, pontuou Suely.

A comunidade Nova Esperança vive basicamente da agricultura de subsistência. Algumas famílias conseguem melhorar a renda com a venda de carvão e a produção de açaí.

Durante as andanças, a professora reencontrou uma antiga aluna, a Tays Araújo, 16, que está no 9º ano do ensino fundamental. Ela é uma das adolescentes da comunidade que se mantém dedicada aos estudos. “Quero ser arquiteta e para isso tenho me dedicado bastante”, projetou a adolescente.

Tays Araújo
📷 Tays Araújo |IRENE ALMEIDA/ DIÁRIO DO PARÁ
Tays tem se mantido no foco de entrar para a faculdade e melhorar a vida da família. “Para quem não estuda, aqui, o caminho é a roça”, disse. Quando ela comentou que a disciplina que mais gosta é a Língua Portuguesa, a professora Suely Ramos se emocionou. “Eu ensinei ela a ler e a escrever e quando ouço ela dizer que gosta disso, eu entendo que cumpri com a minha missão. É uma vitória”, comemorou.

A uma distância de 1,5 quilômetro da casa de Tays, mora Carol Santos, de 22 anos. Carol está amamentando, mas reforça que engravidou pouco depois de ter largado a escola. “Eu morava em uma estrada cujo acesso fica longe de onde o ônibus que leva os alunos passa. Era muito difícil porque tinham dias que amanhecia chovendo, a lama tomava conta da estrada. Cheguei a passar mal andando no sol, até que teve um momento em que não consegui mais aguentar isso”, justificou.

Carol é a mais velha de seis irmãos e garante que foi a única que deixou de estudar. “O meu marido também deixou de estudar porque precisa trabalhar”, acrescentou a jovem.

Questionada se o filho que carregava no colo iria ser matriculado quando chegasse em idade escolar, Carol garantiu que sim. “Quero que ele tenha um bom futuro. Também torço pelas minhas irmãs, uma delas disse que quer ser professora e achei isso muito bonito”, concluiu.

Evasão escolar na Educação de Jovens e Adultos

De 2020 para 2021, a evasão escolar da EJA ficou em 1,34%, de acordo com o Censo Escolar. As estatísticas mostram ainda que os adultos com menos de 30 anos de idade representam mais da metade (53,5%) das matrículas da EJA. Nessa faixa etária, a maioria dos estudantes matriculados é do sexo masculino. Já na faixa dos alunos acima de 30 anos de idade, 59,1% são mulheres.

A agricultora Maria do Espírito Santo, 40, voltou a estudar no ano passado. Se matriculou somente depois que os filhos cresceram. “Eu engravidei cedo, muito nova e tive de parar de estudar para cuidar dos meus filhos. Na minha época, não tinha transporte escolar, hoje já tem e com isso consigo manter os meus filhos indo para a escola. Me viro para não faltar nada na mesa e incentivei eles a se virarem para não faltar às aulas”, destacou.

A agricultora Maria do Espírito Santo, 40, voltou a estudar no ano passado. Se matriculou somente depois que os filhos cresceram. “Eu engravidei cedo, muito nova e tive de parar de estudar para cuidar dos meus filhos. Na minha época, não tinha transporte escolar, hoje já tem e com isso consigo manter os meus filhos indo para a escola. Me viro para não faltar nada na mesa e incentivei eles a se virarem para não faltar às aulas”, destacou.

ESTUDO

“Sempre digo que a educação começa em casa. Embora não tenha conseguido terminar os estudos, aprendi a ler, escrever e fazer contas. Ajudei todos eles com isso, mas conforme eles foram passando de série eu sentia dificuldades de ajudá-los no dever de casa porque chegaram a assuntos que não estudei, não conheço”, comentou Maria. Questionada sobre o que fazia quando isso acontecia, a agricultora respondeu que os professores da Escola Júlio Cézar, onde os filhos estudam são dedicados. “Ajudam bastante. Agora que voltei a estudar vejo isso”, destacou.

A casa dela fica distante a cerca de cinco quilômetros da escola onde estuda. O transporte escolar não chega até lá. “Eu vou de bicicleta quando dá. Quando não dá vou andando. O que não deixo é de ir às aulas porque já perdi muito tempo”, concluiu.

Roseane Pinheiro, 27, também deixou a escola porque virou mãe cedo. Como ainda tem filha pequena, de colo, não retornou para a sala de aula. “Mas farei isso. Ainda quero realizar meu sonho de fazer uma faculdade de Medicina. Quero ser médica e vir ajudar a minha comunidade”, projetou a agricultora, que não permite que as filhas e sobrinhas faltem ao colégio. “Eu assumo a responsabilidade de sustentar, batalhar para que não falte nada para nenhuma delas”, frisou.

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