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REPRESENTATIVIDADE

Paraense é a primeira médica veterinária trans do Norte

Formada há 14 anos pela UFRA, Maria Ester aguardava a retificação do documento há, pelo menos, dois anos

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Imagem ilustrativa da notícia Paraense é a primeira médica veterinária trans do Norte camera A paraense Maria Ester foi reconhecida como a primeira médica veterinária trans do Norte do Brasil | Arquivo Pessoal

“Nunca é tarde para ser feliz e ser realmente quem você é”. Talvez não exista outra frase que possa resumir a trajetória de Maria Ester, paraense e primeira médica veterinária trans do Norte do Brasil, cujo reconhecimento e conquista foram celebrados na semana passada durante a solenidade da entrega das carteiras profissionais aos demais habilitados pelo Conselho Regional de Medicina Veterinária do Pará (CRMV-PA), em Belém.

“Ser a primeira médica veterinária trans do Estado do Pará é mais do que uma conquista e sim um ato político em prol de toda população LGBTQIA+ e, em especial, a todas as travestis e mulheres transexuais de todo o Brasil que são excluídas do mercado formal de trabalho por sofrerem transfobia. E também sou grata a Deus por estar viva em um país que lidera o ranking de assassinatos de mulheres trans do planeta”, escreveu em publicação feita nas redes sociais.

Uma saga exaustiva

Formada há 14 anos pela UFRA (Universidade Federal Rural da Amazônia), Maria aguardava a retificação do documento há, pelo menos, dois anos. A jornada começou em 2020 com o apoio de um advogado para formalizar as mudanças dos documentos para o nome social. “Não foi fácil. Tive que comunicar o juiz de Direito, por meio do meu advogado, e meses depois foi determinado que todas as instituições onde estudei, e estudo, e onde trabalho me tratassem no feminino e me chamassem pelo meu nome social”, lembra.

Em meio a essa solicitação, estava o despacho judicial peticionado por ela ao CRMV para que sua carteira de médica veterinária também fosse atualizada com o nome social. “É uma grande conquista e vitória para a minha classe veterinária e também representativa para a população trans e travestis que são tão marginalizados”, avalia, orgulhosa a profissional que, em uma das fotos da solenidade, aparece ao lado de sua ex-professora e atual presidente do Conselho, Nazaré Fonseca, que foi quem a comunicou em primeira mão parabenizando pela recente conquista.

O Conselho Regional de Medicina Veterinária também comentou sobre o assunto. "Tivemos um importante marco acontecendo em nossa área de atuação com a nomeação da Drª Maria Ester Modesto Rodrigues, uma mulher trans recebendo sua inscrição oficial como médica veterinária", exaltou o Conselho.

Por meio de nota, aproveitou o espaço também para enaltecer um artigo em particular do Código de Ética e repudiar todo e qualquer tipo de preconceito. "O CRMV-PA tem orgulho dos profissionais médicos(as)-veterinários(as) e zootecnistas, indiferente da sua orientação sexual e identidade de gênero, e reforça que qualquer tipo de preconceito é crime. Temos convicção que somente através do respeito às individualidades podemos nos tornar uma sociedade mais justa e forte, também baseado no Art. 7º do código de Ética do médico veterinário", frisou.

A presidente do CRMV-PA, Nazaré Fonseca, e Maria Ester durante entrega das carteiras profissionais
📷 A presidente do CRMV-PA, Nazaré Fonseca, e Maria Ester durante entrega das carteiras profissionais |Arquivo Pessoal

Profissional de ouro

Dedicada e paciente, Maria coleciona um extenso e invejável currículo profissional, conciliando o pouco tempo que tem como consultora, professora e gerente de projetos, para se dedicar a sua clínica veterinária e a um projeto social que oferece atendimento gratuito aos pequeninos de quatro patas na Grande Belém.

Maria é também bacharel em Direito. Foi por dois mandatos presidente do Simvepa (Sindicato dos Médicos Veterinários do Pará), delegada da região norte pela Fenamev (Federação Nacional dos Médicos Veterinários) e, entre os seus tantos feitos, graduações e especializações, atualmente cursa Enfermagem, uma forma que encontrou para aperfeiçoar sua formação também como técnica na área da saúde e cuidar da própria mãe, já idosa.

Um dia de cada vez

“Assumi minha transexualidade bem tardia, com 37 para 38 anos, mas nunca é tarde para ser feliz e ser realmente o que a gente é. Tive muitos problemas familiares. Por conta disso, minha família está dividida até hoje”, confidencia Maria, que faz tratamento hormonal há um ano e dois meses. “Hoje estou com 70% de transição, estou chegando aos 100%”, celebra.

Em seu ambiente de trabalho a palavra “acolhimento” e “respeito” caminham juntas. “Quando eu assumi o meu posto de médica veterinária, empresária, professora, todo mundo ficou ‘assim’ num primeiro momento. Graças a Deus muitas pessoas gostam de mim e me amam. Os clientes me aceitaram numa boa, só tem um problema com o nome, eles ficam em dúvida de falar. Só esse probleminha, mas já conseguem me ver com outros olhos”, confessa, satisfeita pelo círculo de profissionais, clientes e amigos que fazem parte de sua vida.

“Sou respeitada, valorizada e, até o presente momento, graças a Deus nunca sofri transfobia no meu ambiente de trabalho. Já sofri em outras instituições, enquanto professora, por uma diretora de uma determinada escola que eu prefiro não citar nomes”, confessa sem se abater, enquanto segue um dia de cada vez a passos firmes rumo às realizações das conquistas que tanto deseja para si. “Eu quero ser valorizada e vista como uma mulher trans e empoderada”.

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