O celular pode roubar a sua atenção. Não é difícil se deparar com essa situação nos quatro cantos de Belém. Pelas calçadas, na travessia de ruas e até mesmo na hora de pilotar o automóvel, é comum observar pessoas imersas no celular sem prestar atenção ao redor. Apesar de cada vez mais rotineiro, a prática pode chegar ao nível da dependência e causar uma série de problemas a saúde mental, além de pequenos contratempos e acidentes.
De acordo com o psicólogo Eduardo Martins, especialista em saúde pública, a dependência se configura como o uso excessivo de algo que transforma a rotina anterior e traz um prejuízo a quem utiliza. É o que pode acontecer com o uso constante de smartphones de forma desordenada, já que os meios digitais servem como gatilho para a produção de substâncias relacionadas ao prazer humano. O problema existe quando as pessoas não conseguem se desvincular, mesmo momentaneamente, dessas sensações. A questão, nesse caso, não é a proibição do uso da tecnologia, mas para pensar de que forma esses dispositivos tecnológicos têm sido utilizados diariamente.
“O celular virou, muitas vezes, um instrumento que nos ocupa e que potencializa a nossa inabilidade de nos relacionar. O uso constante do celular pode gerar uma dependência quando os comportamentos que eu tinha antes se transformam. A gente precisa entender que algumas substâncias produzidas no cérebro, os hormônios, os neurotransmissores, geram prazer e o uso do celular também produz prazer, a partir da serotonina produzida quando a gente assiste a vídeos engraçados, por exemplo. O problema é quando a gente não assimila que isso está acontecendo e às vezes vira uma relação comportamental, simbiótica. Há uma sensação de amputação, de que algo está me faltando”, explica Eduardo Martins.
REDES SOCIAIS
Segundo o psicólogo, o uso excessivo e desenfreado do celular combinado com as redes sociais gera sérios problema a saúde mental por aumentar o desejo excessivo de exposição. “O uso excessivo desenvolve sintomatologia como insônia, me sentir frustrado sempre que alguém não curte minhas fotos, eu fico sempre ansioso para responder as mensagens, se não me respondem gera irritabilidade, angústia, até tremores. Quando alguns comportamentos adquiridos por mim começam a atrapalhar a minha vivência cotidiana, quando o meu relacionamento com isso me rouba o que eu vivia antes, o uso do celular virou patológico. Talvez as pessoas estejam normalizando aquilo que não é adequado. Não é normal ficar 16 horas no celular. Tudo aquilo que me rouba a atenção de forma qualitativa e me põe em situação de risco é uma forma inadequada de se relacionar com o celular”, afirma.
Por isso, para se desprender desse ciclo vicioso de constante exposição e presença nas redes é preciso identificar os sintomas e estabelecer limites no uso. “A primeira coisa é fazer um momento de reflexão para reconhecer como era o comportamento e como está esse comportamento agora. Eu estou tendo comportamentos que me colocam em situação de risco? O meu senso de percepção está alterado? Ao sair de casa coloque o celular no silencioso, para você dirigir, caminhar e sentir para onde os sentidos estão voltados, a nossa visão, audição, o olfato que se tornam uma forma de proteção”, argumenta.
“Estabeleça um horário para responder as mensagens. Desinstale os aplicativos que você não usa. Na hora de dormir coloque o celular em um local longe, se puder desligar é melhor ainda. Se ocupe com outras coisas que você fazia antes, como atividades físicas, leituras, tempo de qualidade com os amigos. Essa situação foi construída, então isso se quebra quando você reflete e estabelece limites”, finaliza Eduardo Martins.
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