Os caminhos que podem levar à formação de um casal são os mais diversos possíveis. O encontro por acaso com uma pessoa desconhecida, o olhar diferente trocado com um velho conhecido, o interesse mediado pela internet. Independente dos diferentes caminhos traçados e por mais particularidades que cada casal possa ter, um elemento em comum conecta as diversas histórias, o amor de quem escolhe compartilhar a vida ao lado de outro alguém.
Não é de agora que o Dia dos Namorados tem um significado especial para os servidores públicos Fernanda Queiroz, 28 anos, e Belchior Machado, 30 anos. Amigos da mesma turma na faculdade de direito, os dois viram um sentimento diferente nascer um pelo outro. Como consequência dessa relação construída a partir da amizade, em um dia 12 de junho, Belchior pediu Fernanda em namoro. “Foi um processo, éramos amigos e acabamos nos apaixonando. Embora fôssemos novos, eu tinha 18 anos e ele 20, com a nossa vivência e conexão, desde o início já sabíamos que ia ser para sempre, de uma maneira sublime, não simplesmente juvenil”, lembra Fernanda.
Ao longo dos dez anos de namoro, a data ainda marcaria outros momentos significativos da vida do casal, sendo o mais especial deles marcado para o Dia dos Namorados deste ano, quando eles se casam. “Esse dia é o mais especial para nós. É o dia em que pedi ela em namoro e o dia em que pedi ela em casamento. Vamos fazer um ano de noivado no dia do casamento”, conta Belchior.
No caso do aposentado Eduardo Almeida, 76 anos, e da dona de casa Orlandina Almeida, 77 anos, as comemorações em alusão do Dia dos Namorados já se repetem por cinco décadas. Casados há 50 anos, eles ainda têm muito claro na memória os episódios ocorridos no dia em que as histórias dos dois se tornaram uma só. “Isso é uma coisa que a gente nunca esquece”, considera Eduardo. “Eu acredito que esse encontro veio de Deus porque nenhum estava com essa pretensão”.
À espera da condução na parada de ônibus localizada ao lado da Basílica Santuário de Nazaré, Eduardo viu um grupo de 5 estudantes passar por ele. Sem que, ainda hoje, saiba explicar o porquê, o rapaz decidiu atravessar a praça do Centro Social de Nazaré e encostar-se em uma mangueira. Foi de lá que ele avistou novamente as moças. “O meu olho foi direto nela. Nós batemos papo e marcamos de sair no outro dia. Namoramos por cinco anos, noivamos um ano, casamos, temos um casal de filhos e um casal de netos, e viemos fazendo a vida juntos até hoje”, resume o marido. “Eu vim de Barcarena e ele veio de Mosqueiro para que a gente se encontrasse em Belém, no meio do caminho. Então é porque tinha que ser mesmo”, complementa Orlandina.
ENCONTROS
A primeira vez que o olhar da servidora pública Isabella Santorinne, 31 anos, se cruzou com o do artista visual Rafael Carmo, 29 anos, também segue marcada na memória do casal. Ainda que já conversassem há algum tempo através de um grupo no WhatsApp que reunia ativistas do movimento LGBTQIA+, foi no momento do primeiro encontro presencial que os dois perceberam que havia algo de especial na relação. “Todo mundo do grupo combinou de se encontrar em uma marcha de todas as famílias. No dia, quando eu vi ele atravessando a rua, meu coração acelerou”, lembra Isabella, que é uma mulher trans.
Foi apenas no momento deste primeiro encontro presencial que Rafael, que é um homem trans, se deu conta de que a mulher com quem ele conversava no grupo de ativismo era a mesma que ele já tinha visto passar outras vezes, em outras manifestações do movimento, sem que nunca tivessem conversado. Ainda sem entender muito bem os sentimentos nascidos daquele primeiro encontro, os dois seguiram a marcha, como amigos.
Desde aquele dia, porém, um não conseguiu mais parar de pensar no outro. Foi quando Isabella e Rafael decidiram encerrar seus relacionamentos anteriores para seguirem, juntos, o amor que havia nascido entre eles. “Foram duas semanas se conhecendo e depois já fomos morar juntos”, lembra Rafael. “Já conquistamos muita coisa juntos e também um trabalho de militância no nosso estado e fora”.
Apesar de todas as dificuldades enfrentadas, incluindo a necessidade de lidar com o preconceito pelo fato de estarem em um relacionamento entre pessoas trans, o amor existente entre eles fez com que o casal construísse uma relação sólida e baseada em muita confiança, que já dura seis anos e oito meses. “Tivemos força para continuar porque tínhamos um amor muito grande”, considera Isabella.
O amor, a cumplicidade e a confiança também são muito presentes no relacionamento da cirurgiã dentista Juliana Brabo, 38 anos, e do comandante Rusiver Albarado, 47 anos. Juntos há quase 16 anos, o casal lida frequentemente com a saudade de precisar passar um período distante fisicamente. “O Rusiver tem uma escala de trabalho que é 28 dias no mar, embarcado, e 27 dias em casa. Então, a gente usa muito a tecnologia a nosso favor”, conta Juliana. “A gente se fala todo dia por telefone, conversa. Sabe aquelas conversas que o casal tem à noite quando chegam em casa, sobre como foi o seu dia, o que deu certo e o que não deu? A gente tenta manter essa rotina de conversa sempre ativa”.
Quando a saudade aperta, a certeza do amor e da confiança construída pelo casal ajuda a amenizar a distância. “Às vezes a gente coloca a chamada de vídeo e continua fazendo alguma coisa do dia a dia. Ele fica ali, na tela, enquanto eu dou a janta do meu filho, a gente assiste alguma coisa juntos. Então, mesmo longe, ele se faz presente. A gente consegue contornar as situações que a distância traz”, considera Juliana. “Um dos grandes diferenciais é ter transparência e confiança no relacionamento. Você tem certo na sua cabeça que é aquela pessoa que você quer ao seu lado, você confia nela e ela confia em você, e o resto do mundo não existe”.
Em meio à pandemia, o amor supera dificuldades
Também em decorrência da profissão, os enfermeiros Gizele Azevedo, 44 anos, e Ivison Carvalho, 40 anos, já precisaram lidar com a saudade ao longo dos 17 anos de união. “No início chegávamos a nos encontrar em casa por apenas 10 noites no mês, com todos os dias úteis ocupados pelas jornadas semanais e plantões de finais de semana. Ambos éramos plantonistas e docentes em cursos de graduação em enfermagem”, lembra Ivison. “O fato de ambos serem enfermeiros foi fundamental neste processo de compreensão. Viver a mesma condição profissional tem sido fundamental para o sucesso dessa relação até o momento, e além, se Deus quiser”.
Em meio a essa parceria, o casal enfrentou outro enorme desafio quando a pandemia da Covid-19 chegou ao Pará. Ambos atuam em hospitais públicos do estado, serviços que foram o último fio de esperança da população quando a rede privada não teve mais estrutura para receber um volume tão grande de pacientes ao mesmo tempo.
Além do desafio de atuar no atendimento à população, o casal ainda enfrentou um dos momentos mais delicados quando Ivison foi acometido pela Covid durante a primeira onda da epidemia. “A rede privada já havia colapsado, nenhum leito, maca ou poltrona estava disponível em qualquer emergência pública ou privada”, lembra Gizele, ao explicar que um dos hospitais em que o casal trabalha abriu um serviço para atender os servidores. “Quis o destino que ele internasse na UTI que eu coordenava, exclusiva para pacientes de Covid. Assim, entre um plantão e outro pude ficar por perto. Graças a Deus ele melhorou e pôde voltar para casa. Ter a nossa família recomposta depois de quase 20 dias de doença foi indescritível, uma vitória comemorada com muitas lágrimas e gratidão, a todos”.
Foi no período delicado da pandemia que o graduando em psicologia Gellead Cruz da Costa, 25 anos, e o multiartista e professor Marcus Vinícius Gomes Silva, 28, se encontraram. O primeiro contato foi pelas redes sociais. “Eu tive que retornar para a minha cidade, Almeirim do Pará, para passar esse período da pandemia. Eu estava lá, naquela apreensão, ansiedade, tocando a vida como dava e a gente se conheceu pelo Instagram e começamos a trocar algumas ideias”, conta Gellead. “Ficamos oito meses conversando virtualmente até eu retornar para a capital. Foi quando a gente começou a se conhecer cada vez mais”.
Com a pandemia mais controlada e as primeiras medidas de reabertura das atividades em curso, Gellead e Marcus puderam se conhecer pessoalmente. Logo na primeira vez que se viram, houve a confirmação de tudo aquilo que eles já vinham construindo através do contato virtual. “A pandemia realmente mexeu muito com o nosso emocional, então, quando a gente conquista e cuida de um amor, a gente também conta com aquele amor”.
Juntos há oito meses, o casal passará o primeiro dia dos namorados juntos, neste ano, mas assim como no próprio relacionamento, esperam deixar que as comemorações da data também ocorram naturalmente. “Eu entrei nesse relacionamento realmente evitando criar expectativas e, principalmente, jogar as minhas expectativas de afeto em cima dele. Eu fui deixando as coisas acontecerem da forma que seria natural acontecerem, ele também topou. Ele entende essa minha forma de viver afeto e temos construído muitas coisas legais juntos”, conta Marcus.
Seja sempre o primeiro a ficar bem informado, entre no nosso canal de notícias no WhatsApp e Telegram. Para mais informações sobre os canais do WhatsApp e seguir outros canais do DOL. Acesse: dol.com.br/n/828815.
Comentar