Aproveitar julho, mês de férias, para passear, não significa que é preciso sair de Belém. Se você mora ou visita a capital paraense, saiba que o que não falta é atração para conhecer e se enriquecer culturalmente, nas mais diversas áreas por aqui mesmo. Tudo depende do que se está disposto a fazer.
Para comprovar que a gama de opções é vasta, a historiadora e antropóloga Dayseane Ferraz, que também é pesquisadora do Sistema Integrado de Museus e Memoriais (SIMM), dá sugestões de roteiros que podem ser feitos. “O primeiro passo é a gente pensar que tem uma cidade com 406 anos. Se pensarmos em uma trilha da cidade para fazer, temos várias opções. Belém tem memórias visíveis, que são o patrimônio edificado, as praças, coretos, por exemplo; e tem as trilhas invisíveis, local onde existia o pelourinho, o comércio dos escravos, que não se pode ver hoje, mas se imagina no local”, pontua.
Dayseane sugere que se comece a conhecer Belém pelo centro histórico. “A área da Cidade Velha e Campina, os limites chegando até o início, no bairro de Nazaré, na Praça da República, descendo, desde o Forte do Presépio até a Avenida Almirante Tamandaré, Avenida Assis de Vasconcelos, galpões da Estação das Docas e volta. Esse é o centro histórico”, delimita.
CIRCUITO HISTÓRICO
Quem quer fazer o percurso da trilha histórica começa, portanto, pelos bairros da Cidade Velha e Campina. “Observe os prédios coloniais que só se encontra na Cidade Velha, a fortificação, as igrejas coloniais - Santo Alexandre, do Carmo, das Mercês, Sant’Ana, Rosário dos Pretos, São Joãozinho, a capela do Hospital da Ordem Terceira… isso remete aos expoentes da arquitetura colonial portuguesa assentada nesses bairros”, comenta.
Na Campina, por sinal, além das igrejas, outra preciosidade é o Mercado de Carne Francisco Bolonha. “Lá existia a praça do pelourinho, que não está visível, mas não pode sumir da memória da cidade. A Campina tem esse aspecto. A Igreja do Rosário dos Pretos foi edificada pelos escravizados. A documentação histórica mostra que ao final do dia de trabalho eles carregavam as pedras para a construção. Isso é uma memória negra da história de Belém”.
MUSEUS
Quem gosta de conhecer a história dos lugares por meio dos museus também não tem do que se queixar. O patrimônio de Belém nesse aspecto é vasto e acessível. “Você tem o Forte do Presépio, a Casa das 11 Janelas, o Museu de Gemas do Espaço São José Liberto, o Museu do Círio, o Mangal das Garças, o Museu de Arte Sacra”, lista.
“O Museus de Arte sacra é uma herança da produção do barroco, da presença dos padres jesuítas na Amazônia. No museu do Forte do Presépio se tem peças da pré-história da Amazônia de 123 mil anos, peças com pedra polida e semipolida. Nas 11 Janelas o visitante encontra um panorama da arte moderna contemporânea e da fotografia”, detalha a historiadora. “No Museu do Círio estão os ex-votos, as promessas feitas pelos devotos de Nossa Senhora de Nazaré. O Mangal das Garças tem o Memorial da Navegação, com referências dos ribeirinhos, embarcações indígenas e a proteção naval da Amazônia”, completa.
E não para por aí! “Dentro do Museu de Gemas, além do Polo Joalheiro com as biojoias, tem toda a história da museologia no Pará. As pedras preciosas para adorno, as peças inspiradas no Círio de Nazaré”, pontua Dayseane. “Tem o museu do Palacete Bolonha, que foi um presente do Francisco Bolonha para a esposa dele. O prédio é todo em estilo eclético, uma casa palaciana com móveis, esculturas, entalhamento”, descreve. “Já o recém-inaugurado Palacete Faciola abriga o MIS, Museu da Imagem e do Som, que fala da história da TV, do audiovisual na Amazônia”.
CÍRIO DE NAZARÉ
Para o visitante que quer conhecer um pouco mais sobre o Círio de Nazaré, um passeio pelo bairro de Nazaré é indispensável. “Quando chega em Nazaré, você tem um patrimônio que ainda tem uma arquitetura colonial, a Praça da República, o antigo Largo da Pólvora, a estrada de Nazaré que hoje é a avenida e leva até a Basílica Santuário, onde ficava o igarapé que foi achada a imagem pelo caboclo Plácido. É um patrimônio imaterial que remete ao Círio com toda a sua história, o corredor das mangueiras. Esse é outro circuito”, indica.
CULTURA E GASTRONOMIA
Dayseane lembra ainda que o passeio pela cidade permite acesso a lugares como o Instituto Arraial do Pavulagem, que mostra um pouco da riqueza cultural tão valorizada pela população local, como mostram os recentes arrastões que atraíram milhares de pessoas em junho e início deste mês. “Fora esses aspectos da cultura popular, você conhece a feirinha da Praça da República, onde tem a possibilidade de desfrutar dos sabores e cheiros da cidade”, lembra Dayseane.
Isso sem esquecer o circuito gastronômico da cidade. “Na Estação das Docas e no Ver-o-Peso têm toda uma gastronomia que mostra esse patrimônio imaterial, tem o açaí. Você come literalmente a cidade pelos olhos e pela comida, que é uma identidade de Belém, cidade criativa da gastronomia, pela Unesco. Não é em qualquer cidade que você come a maniçoba e toma um tacacá”, dá a dica.
CIRCUITO RIBEIRINHO
Às margens da Baía do Guajará, Belém é uma cidade que pode não ter praias próximas ao centro, mas tem uma paisagem voltada para a floresta com rios e igarapés que garantem um lazer tipicamente amazônico. “Quando você se volta pra paisagem da cidade, tem uma relação ribeirinha que tem sido paulatinamente recuperada. Você sai do centro de Belém e tem a Ilha do Combu, Mosqueiro, o passeio de barco da Vale Verde que é maravilhoso”, sugere a historiadora. “Você faz um outro circuito que te aproxima da natureza, da Belém insular, esse aspecto mais pitoresco que é a paisagem natural, as plantações de açaí, de cacau, os igarapés”.
ICOARACI
Outra opção de passeio é reservar um tempo para dar uma volta por Icoaraci. Na Vila Sorriso o polo cerâmico do Paracuri e os quiosques de artesanato da orla oferecem aos visitantes as peças em cerâmica marajoara, e ainda dá para se refrescar com a tradicional água de coco curtindo a brisa da praia do Cruzeiro. “Você pode levar a herança da cidade por meio de uma peça de cerâmica de artesanato. Ainda tem a Estação Cultural de Icoaraci, recentemente revitalizada. Esse passeio nesse polo cultural te permite isso”.
ARQUITETURA
E que tal reservar a manhã de domingo para apreciar a arquitetura da capital paraense? “No Comércio, fim de semana, você desfruta da calmaria, já que não tem grande movimentação. Dá para observar a arquitetura estilo neoclássico, porque o arquiteto Antônio Landi veio para cá em 1751 e trouxe da Itália os traços da arquitetura neoclássica. Belém foi a primeira cidade do país a trazer esse estilo. Na Campina se aprecia a arquitetura Art Nouveau”.
CIRCUITO PARQUES
Quem quiser respirar um ar puro, em contato com a natureza, tem boas opções também e ainda pode aliar isso com enriquecimento cultural. “O Parque do Utinga é um ganho pra cidade fantástico. Lá dentro tem o Memorial Verônica Tembé, localizado na área da antiga Casa da Mata. É um lindo memorial, que tem um acervo que ficava em Santarém. Ele tem um mapa do Brasil onde tem os grupos indígenas hoje. É um conhecimento da história da Amazônia e do Brasil”, avalia Dayseane.
O Museu Paraense Emílio Goeldi não pode ficar de fora dessa lista de passeios. “É uma espécie de reserva dentro do meio urbano. Os dois (incluindo o Bosque) foram pensados e criados na virada do Século 19 para o 20. São um pedaço da Amazônia no meio urbano. Você nem precisa sair de Belém para se aproximar da natureza”, indica a historiadora. “Tem também o horto municipal, que é quase esquecido, mas é o segundo horto mais antigo do país. É um lugar onde se coletava espécies da natureza para serem preservadas. São nichos da cidade que se aproximam da natureza”.
CIRCUITO BAIRROS
Conhecer os bairros da Cidade das Mangueiras é uma oportunidade única. “Você consegue saber a história da cidade por meio dos bairros. Na Cremação é onde fica o forno crematório. Na Cabanagem tem o Memorial da Cabanagem, todo revitalizado e que foi projetado pelo arquiteto Oscar Niemeyer. No Reduto é mais a funcionalidade da arquitetura fabril, as fábricas da cidade; a Doca, onde era o Igarapé das Armas ou das Almas; o cheiro da Phebo, tem uma memória olfativa”, destaca. “Tem muitas vilas fabris e a história da Phebo, cada bairro tem sua história. No bairro do Marco tem o obelisco onde fica a primeira légua da cidade, no meio da Avenida Almirante Barroso”.
SERVIÇO
Museu do Forte do Presépio, Casa das 11 Janelas, Museu de Arte Sacra, Museu do Círio, Espaço São José Liberto (Museu de Gemas), Mangal das Garças (Memorial da Navegação), Palacete Faciola, Parque do Utinga (Memorial Verônica Tembé).
Funcionamento: de terça a domingo, de 9h às 17h. Às terças a entrada é gratuita. Visitas agendadas em grupo também são gratuitas, assim como para estudantes e professores. Visitas no primeiro domingo de cada mês também são de graça, assim como no segundo domingo de cada mês para PCDs.
PRAÇA MILTON TRINDADE (HORTO MUNICIPAL)
R. dos Mundurucus, s/n - Batista Campos - 8h às 18h
PARQUE ZOOBOTÂNICO DO MUSEU GOELDI
Av. Magalhães Barata, 376, São Brás
Dias de Visitação: Quarta-feira a Domingo
Horário de funcionamento: 9h às 15h (fechamento da bilheteria e do portão de entrada é às 14h).
MEMORIAL DA CABANAGEM
No Entroncamento, Castanheira.
Aberto ao público no horário de 10h às 17h, de segunda a sexta-feira
INSTITUTO ARRAIAL DO PAVULAGEM
Rua Boulevard Castilhos França, 738, Campina.
Aos domingos abre de 9h30 às 12h30
ESTAÇÃO DAS DOCAS
Av. Mal. Hermes, S/N - Campina.
Aos domingos abre de 9h às 0h
PALACETE FACIOLA
Av. Gov. José Malcher, 295 - Nazaré
Abre às terças e quintas-feiras, de 9h às 15h
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