Aos cinco anos, o educador físico e dançarino Donaciano Gomes, artisticamente conhecido como Neto Gomes, sofreu uma queda dentro de casa que o deixou sequelas, como a deficiência auditiva (surdez bilateral neurossensorial profunda grave).
Hoje, aos 25 anos, ele encontra na dança e, consequentemente, na música o caminho para a superação de desafios e preconceitos que considera “uma luta diária”.
Neto dança desde os sete anos, quando assistia aos vídeos do “Rei do Pop”, Michael Jackson. Mas foi na faculdade de Educação Física que o jovem teve o incentivo dos amigos para nunca desistir do universo das coreografias.
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“Sempre tive comigo que eu poderia superar barreiras e mostrar que a deficiência é apenas um detalhe. Não seria um problema que afetaria o meu mundo da dança”, afirma. “Já sofri preconceito e sofro até hoje, infelizmente vai ser a minha vida toda, querendo ou não. Mas não deixo de me abalar mais, porque eu me aceitei nesses últimos anos. Hoje, sou uma pessoa forte na mentalidade e personalidade”, garante. O dançarino revela que, por conta do problema na audição, já perdeu trabalhos importantes. “Sempre deixei de ser contratado, pois viram que a minha audição não iria agregar”, lamenta.
Quebrando paradigmas e um histórico, em sua maioria, marcado pela rejeição, recentemente, Neto Gomes foi contratado pela Banda Na Vibe e vai dividir o palco ao lado do vocalista Leandro Lima e do também dançarino Victor Silva. Para o baixista e empresário do grupo, Leandro Rego, a chegada do dançarino simboliza uma nova fase, marcada pela inclusão e renovação de projetos.
“A gente não teve nenhuma dúvida na hora de fechar com o Neto. A primeira pessoa que a gente pensou foi nele, por conta do talento dele, mesmo com todos os problemas. É a primeira pessoa de inclusão que a gente recebe na banda”, festeja Leandro Rego, ao destacar a felicidade do grupo em receber o seu mais novo integrante. “O grupo está muito feliz. A maioria das pessoas já trabalhou com ele e todos ficaram felizes de saber que era o Neto quem estaria com a gente”, comenta.
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Superação
Neto conta que, no dia a dia, enfrenta inúmeras dificuldades. Uma delas, por exemplo, é não poder ouvir familiares e amigos, mesmo com o uso de aparelho auditivo. É em cima do palco que o jovem transforma os dias difíceis em força que impulsiona movimentos para a dança. “Vivo com certa dificuldade, é uma luta diária, por conta de eu me acostumar com certas vozes como parentes, amigos, faz com que eu sinta dificuldade de ter um relacionamento interpessoal. No palco, é diferente, pois eu escuto apenas os graves e certos instrumentos musicais que me guiam sobre a música. Na minha cabeça, sempre faço bem certinho, mas é um problema que eu fico me perguntando: ‘Como seria se eu tivesse uma audição boa?”, questiona, ao relembrar que foi através da família que ficou sabendo da deficiência auditiva.
“Começou em uma brincadeira que eu corria pela sala toda e, no momento em que cheguei na cozinha, o chão estava molhado. Eu caí, bati a minha cabeça e, desde então, tenho esse problema. Descobri através da minha família que eu fiquei surdo aos cinco anos”, conta o dançarino, que já fez parte de outras bandas paraenses.
Neto Gomes diz que é difícil explicar como consegue ter bom desempenho sobre o palco. Para ele, essa é uma questão em que precisa exercitar bastante a visão e a mente. “Eu danço no tempo da coreografia, pois o tempo da coreografia de qualquer maneira irá bater certo com o tempo da música, porém, eu tenho dificuldade que chega a um ponto de eu querer ajuda e um contato visual sobre qual música irá tocar. Fora isso, eu sempre me guio pelos graves e o tempo da coreografia que eu me saio bem”, declara.
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