Desde que a pandemia da Covid-19 se tornou uma realidade, estudos relacionando a maior ocorrência de pandemias e o desmatamento começaram a circular com maior frequência. Mas o que exatamente a ciência já sabe sobre essa relação entre o desmatamento e as pandemias?
O professor de política e gestão ambiental da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da Universidade de São Paulo (USP), Marcelo Marini Pereira de Souza, aponta que existe uma estreita relação entre o desmatamento e a ocorrência de um desequilíbrio entre animais, plantas e microrganismos pode provocar a ocorrência de pandemias, e a ciência conhece bem essa relação. “As pandemias já existem há milênios, tendo como origem áreas silvestres. Imagina um ambiente natural em que se tem um equilíbrio, que é sempre dinâmico, e suponha-se que um ser humano vai lá e faz uma alteração. Isso significa um desequilíbrio e esse desequilíbrio vai fazer com que aquele ambiente tente voltar a se equilibrar, mas nem sempre isso é rápido, às vezes demora e, nesse demorar, pode ser que exista uma quantidade maior de animais, de uma população, até que tudo volte a se equilibrar. Nessa população podem estar os microrganismos patogênicos, que vão trazer algum tipo de doença”, explica. “Portanto, a ciência sabe muito bem que o desmatamento traz, sim, epidemias e pandemias, em especial epidemias. E essa relação se dá pelo desequilíbrio que esse desmatamento ocasiona e pela proximidade do ser humano com essa ocorrência”.
Os impactos gerados por esse desequilíbrio podem ser ainda mais preocupantes em biomas cuja biodiversidade é maior, como é o caso do próprio Brasil. O fato de a Amazônia, por exemplo, abrigar espécies ainda desconhecidas pode ser um agravante para os impactos gerados pelo desmatamento. “O Brasil, como todo local nos trópicos, tem, evidentemente, uma biodiversidade exuberante em decorrência das condições climáticas, de solo, da insolação. A Floresta Amazônica, o Cerrado brasileiro, a Mata Atlântica, o Pantanal são de uma exuberância absurda”, considera o professor. “A Amazônia, em especial, tem muitas espécies desconhecidas. Ainda hoje se identificam primatas desconhecidos, peixes, répteis desconhecidos na Amazônia, imagina os microrganismos, que são de mais difícil detecção. Então, são ambientes muito diversos, muito dinâmicos, que abrigam fauna e flora muito diversificada e, boa parte, completamente desconhecida”.
Fica claro que, quando se desmata esses locais onde há uma grande profusão de biodiversidade, se sujeita a população próxima, seja de animais, seja de seres humanos, às consequências desse desequilíbrio, que pode ser uma profusão de microrganismos que não fazem tão bem para o homem. “O grande problema do desmatamento, seja ele onde for, é a perda de biodiversidade e as mudanças climáticas já estão provocando uma enorme perda de biodiversidade. A perda de biodiversidade, a partir da perda de habitats é um grande problema ambiental que a ciência já comprova em trabalhos publicados”, considera. “Está mais do que demonstrado que a floresta, do ponto de vista da biodiversidade, a vegetação nativa é a grande questão. Você mantém a floresta, que você tem a biodiversidade e tem todas as funções ambientais sendo praticadas e, junto com elas, alguns benefícios econômicos ou serviços ambientais”.
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