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Pará já realizou 190 transplantes de órgãos desde janeiro

Solidariedade de famílias paraenses possibilitou a realização de 190 transplantes nos primeiros quatro meses de 2023

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Imagem ilustrativa da notícia Pará já realizou 190 transplantes de órgãos desde janeiro camera O Pará teve o melhor quadrimestre da história no número de doadores de órgãos e de córneas. | ( Divulgação )

Foi depois de uma consulta para tratamento de uma hérnia umbilical que o aposentado Roberto Campos, de 60 anos, descobriu outros problemas de saúde até chegar ao diagnóstico de um câncer no fígado. A única saída era um transplante.

“Na época em que eu soube da doença, não tinha a possibilidade de fazer o transplante aqui no Pará. Tinha que ir para outro estado. Na Santa Casa, fiz acompanhamento psicológico, que foi fundamental também para me ajudar a esperar. Aí liberaram a cirurgia aqui e eu fiquei muito feliz, até porque a família é a base de tudo e seria muito difícil ficar longe de casa. Agarrei essa chance e hoje estou tendo a minha vida normal. Só mantenho a disciplina com alimentação, medicação e evito aglomerações. No geral, estou muito bem!”, comemora.

O paciente foi uma das três pessoas que passaram pelo transplante de fígado no Pará, desde a liberação desde tipo de procedimento, no mês de fevereiro, em hospital da rede pública estadual 100% pelo SUS (Sistema Único de Saúde), na Santa Casa de Misericórdia, em Belém.

“Foram oito horas de cirurgia. No dia seguinte, acordei lúcido e tranquilo, com sentimento de gratidão à família do doador. Ganhei uma nova chance de viver porque meu diagnóstico era difícil. Tive muito apoio da família, dos amigos e do hospital. Fui muito bem acompanhado. Fiquei isolado por causa do risco de infecção. E agora estou fazendo o acompanhamento regular”, completou Roberto.

Aumento histórico

Nos quatro primeiros meses de 2023, a Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa), por meio da Central Estadual de Transplantes do Pará (CET-PA), registrou um aumento histórico no número de doação e transplantes de órgãos e córneas, no Pará. Entre janeiro e abril, foram realizados 190 transplantes, sendo três de fígado, 24 de rim e 163 de córnea.

“Nós trilhamos um caminho para que chegássemos a esse resultado. A fila do transplante no Pará sempre foi muito grande e nós recebemos receptores de toda a região Norte para transplantar. Então, desde 2019, houve várias iniciativas da Secretaria de Saúde, como a implantação das comissões de doação nos hospitais da rede estadual, a capacitação dos profissionais, a estruturação dos hospitais para o diagnóstico de morte encefálica; são esforços que deram resultado”, enumerou Ierecê Miranda, coordenadora da Central de Transplantes do Pará.

Ainda de acordo com a Coordenação de Transplantes, o Estado vai ampliar em breve a presença da chamada Comissão Intra-Hospitalar para Doação de Órgãos e Tecidos para Transplantes (CIHDOTT) nos hospitais vinculados à Sespa nos municípios de Marabá, Capanema, Abaetetuba, Paragominas e Altamira. Atualmente, as Comissões estão presentes nos hospitais Metropolitano, Abelardo Santos, Jean Bitar, Galileu, Santa Casa, Ophir Loyola e Hospital de Clínicas Gaspar Viana, em Belém e Região Metropolitana. No interior, os hospitais regionais de Santarém e Redenção também contam com equipes especializadas.

“Graças a esse trabalho, agora, em quatro meses, a gente conseguiu fazer o mesmo número que foi feito em todo o ano passado. As doações de córnea triplicaram. Em quatro meses fizemos o que foi realizado em todo o ano passado. Isso é um recorde na história dos 23 anos de doação e transplante no estado. Estamos muito felizes por fazer com que essa fila do transplante no Pará ande mais rápido e a nossa gratidão é para as famílias, que mesmo no momento de dor, ajudaram essas pessoas”, comemora Ierecê Miranda.

Incentivo às doações

A sensibilização junto às famílias é vista como fundamental para colocar em prática esse ato de solidariedade que pode salvar a vida de tantas pessoas.

No caso da servidora pública Karoline Lima, o transplante de córnea era a única chance de enxergar novamente. Ela era portadora de uma doença chamada ceratocone, diagnosticada aos 15 anos de idade, em uma época que o tratamento era difícil, o que levou a um agravamento da doença.

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“Eu tive uma hidropsia ocular, popularmente chamada de ‘olho furado’. Não havia mais o que fazer a não ser o transplante. Foi um procedimento de urgência. Na época, no estado não tinha córnea, foi preciso vir de outro estado para fazer meu transplante. Isso foi em 2018. Nem faz tanto tempo assim, mas naquela época, precisar de um transplante de córnea era bem complicado”, relembrou Karoline, que hoje trabalha na conscientização da sociedade para doação de órgãos e tecidos.

Segundo a Central de Transplantes, o Pará teve o melhor quadrimestre da história no número de doadores de órgãos e de córneas. De 2021 para 2022, o índice cresceu 72%, passando de 28 para 101 doadores, e em apenas quatro meses de 2023 foi registrado o mesmo número de doadores alcançado ao longo dos 12 meses do ano passado.

“Hoje, observar essa quantidade me alegra muito mesmo. Eu desejo muita saúde para essas pessoas que precisaram e tiveram esse acesso. Agradeço essas famílias que foram tocadas e disseram sim à doação de órgãos”, completou.

Rede de atendimento estadual

Atualmente, no Pará, os hospitais Ophir Loyola, Santa Casa, Hospital de Clínicas, Hospital Regional do Baixo Amazonas, em Santarém, e o Hospital Regional do Araguaia, em Redenção realizam transplante de rim, córnea e fígado. Os hospitais Bettina Ferro e Cynthia Charone, que atendem pelo SUS, também realizam transplante de córnea. Todos os procedimentos devem ser autorizados pela Central de Transplantes do Estado.

A mais recente conquista neste cenário foi a habilitação do hospital Ophir Loyola, pelo Ministério da Saúde, a realizar transplante de medula óssea. O primeiro procedimento pelo SUS, no Norte do país, deve ser feito no próximo mês de julho.

“O tratamento fora de tudo isso é benefício pata o paciente e deixa de onerar para o estado também porque evita os custos de manter a pessoa longe de casa. Tudo isso vem para fortalecer o sistema estadual de transplantes e fazer andar essa fila. Lembrando que sem doação não há transplante, por isso, é muito importante que a população paraense continue com esse ato de solidariedade para ajudar pessoas que nem conhecem, mas que com certeza, vão ter um pedacinho daquele ente querido vivendo em outra pessoa”, reforçou Iecerê Miranda.

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