Dia de São João: um banho com muitas ervas e tradição

O banho de cheiro – nome dado por conta das ervas aromáticas que o compõem – ganhou espaço nas festas juninas que homenageiam São João, celebrado em 24 de junho.

A 120 quilômetros da capital paraense, em Abaetetuba, nordeste do Estado, as três irmãs, Maria da Conceição, Maria Valdomiro e Maria Izabel, iniciavam uma tradição familiar, em homenagem a São João Batista. Neste ano, a tradição completa 57 anos e já faz parte do calendário festivo dos moradores do bairro do Jurunas, em Belém, numa vila na passagem Marcílio Dias.

Maria Izabel era mãe de seu Raimundo, pai de Doracy Santos, de 57 anos, que herdou a devoção ao santo e se emociona ao contar como tudo começou.

“Tudo começou com as três Marias. No quintal de casa tinha um poço, então na véspera de São João, na madrugada, elas faziam o banho no quintal e nos chamavam. Eu era pequena, mas lembro que a gente acordava com a vovó batendo panela chamando todo mundo para acordar e tomar o banho de São João, da madrugada de 23 para 24 de junho. Então, começou entre os sobrinhos, netos e filhos e, com o passar do tempo, os vizinhos começaram a participar também, foi quando o banho passou a ser feito em frente à casa da minha avó, devido a proporção que tomou”, detalha.

A família mudou-se para Belém e mantém a tradição. Enfeitada para as celebrações desde o dia 16 de junho, o levantamento de um mastro no início da vila, na passagem Marcílio Dias, marca o início da programação que, a partir daí, recebe famílias e moradores no barracão para a realização de novenas. No dia 23 de junho, é celebrada uma missa seguida da visita da imagem peregrina de São João Batista e distribuição de comidas típicas.

“Nós não temos mais as fundadoras, mas nós, filhos, netos, abraçamos a causa. A minha avó pedia para mantermos (a tradição) até quando nós tivéssemos forças e é o que a gente faz”, ressalta. Na madrugada do dia 24, às 6h da manhã, o banho de cheiro é distribuído aos participantes.

A celebração reúne devotos de várias religiões, como é o caso de Nazaré Regina Lobato, 56 anos, umbandista, filha de santo de Mãe Inês. A vendedora e prima de Doracy é quem prepara o banho com os saberes que adquiriu com as avós e aprimorou no terreiro. Mas para dar conta de mais de 4.500 litros de banho, ela recebe ajuda de seu filho e moradores.

“São muitas ervas atrativas, porque o banho é um banho atrativo. As ervas têm que ser maceradas, para liberar mais o cheiro e as essências. É nesse maceramento que você faz a erva, você pede licença, vai rezando e pedindo bons fluidos, que aquelas ervas abram caminho, prosperidade, amor, união, tem todo um ritual. A gente trabalha com a mente em cima da erva que é para poder fluir”, explica.

ERVEIRAS

No Ver-o-Peso, o movimento dos clientes à procura pelo banho de cheiro de São João, começa geralmente às vésperas do dia 24. O hábito de se banhar com ervas atrativas nessa época possui muitos adeptos, já que tem o significado de atrair coisas boas como felicidade, prosperidade, sorte no amor e dinheiro, bem como afastar más energias e levantar o astral.

As erveiras Antônia Pereira, 52, e Izabel Souza, 42, comercializam o banho de cheiro de São João em garrafas de tamanhos variados ou em natura. Os clientes que preferem comprar as ervas para fazer o banho, vão encontrá-las no valor de R$ 20,00 a R$ 30,00, dependendo da quantidade de ervas atrativas.

“Uma garrafa de 300ml, por exemplo, dá para tomar três banhos. Você vai diluir uma parte numa bacia com água e, caso queira, pode usar o crivo enquanto vai despejando para as ervas não ficarem no cabelo”, orienta Antônia. Mas antes de tomar o banho de São João, é preciso tomar um banho de chuveiro para receber o banho estando limpo. “Aí só depois disso você toma o banho de cheiro, vai falando o que você deseja e pode dormir, sair, trabalhar”.

Serviço

COMO PREPARAR UM BANHO DE CHEIRO

Para preparar o banho de cheiro, mais de 30 ervas podem ser usadas, entre elas, chega-te-a-mim, erva de São João, manjericão, chora nos meus pés, jalapão, estoraque, pataqueira, priprioca e patchouli. Após a escolha das ervas, elas podem ser colocadas em uma bacia com água para a realização do processo de maceração.

Em seguida, exponha ao sol e quando for à tarde ou noite, misture com água de colônia, água de cheiro ou água de chama. “Uma dica importante é que tem gente que corta as ervas, mas elas não ficam tão cheirosas quanto ficariam se fossem maceradas e deixadas em infusão”, destaca a erveira Izabel.

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