Uma das vantagens anunciadas pelos ex-fumantes, ainda que de forma tímida, sem a devida importância que merece, é a eudaimonia , palavra grega usada por Aristóteles para significar uma felicidade contagiante, que alcança não só uma, mas várias pessoas.
O filósofo de Estagira garante que a verdadeira felicidade é exatamente aquela que alcança o maior número de pessoas possíveis. Nunca é egoísta. Devo sempre desconfiar daquela felicidade cujo sorriso no meu rosto não desperta sorrisos em outros rostos.
Eu observei com interesse e prazer o testemunho de alguns ex-fumantes na última e recente terapia que participei no CRAFT mais vitorioso do SUS-PA, aquele sob a regência da maestrina médica Fátima Houat.
Quando paramos de fumar sentimo-nos mais felizes. Às vezes nem percebemos. E pouco ou quase nada falamos desse sentimento. Meu filho João, num gesto espontâneo, disse alguns meses depois de eu ter parado de fumar, que passou a sentir mais prazer em me abraçar e me beijar.
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O João me explicou o que quis dizer: lembrou que antes de eu parar de fumar ele já me abraçava e me beijava, mas o fazia por obrigação moral, por respeito, por ver que eu gostava do carinho dos filhos. Ora, ninguém é feliz fazendo um gesto amoroso sem prazer. Acarinhar um fumante deve ser um sacrifício! O próprio fumante muitas vezes se sente incomodado pelo próprio mau-cheiro que lhe deixa a nicotina.
Lembrança
Quando um senhor que recentemente parou de fumar lembrou que recebeu elogios da esposa depois do carinho que lhe foi dispensado, lembrei do elogio do meu filho João.
Quando excluímos o entranhado cheiro da nicotina de nossas vida nós mesmo percebemos a mudança. Sentimo-nos felizes, orgulhosos. Essa alegria também se estende a quem sofria calado com o cheiro do cigarro.
Quando paramos de fumar somos mais felizes e fazemos outros mais felizes. Assim como o ato de fumar lesa também o não-fumante ao torná-lo passivo, o ato de parar de fumar tem também uma dimensão coletiva: faz bem também aos nossos convivas. É isso que Aristóteles quer ensinar com a eudaimonia. É o efeito dominó do bem.
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