O início de um novo ano pode ser a oportunidade para, enfim, colocar em prática um plano ou uma ideia que até então se fazia presente apenas no campo das ideias. Para quem tem entre esses planos iniciar um novo negócio, é interessante ficar atento às tendências de empreendedorismo previstas para o ano de 2024. Um guia lançado pelo Sebrae Nacional aponta que, neste ano, as tendências de negócios estão muito ligadas ao perfil atual do consumidor e às mudanças intensificadas a partir da pandemia da Covid-19 e que permaneceram no cotidiano da sociedade.
O Gerente de Relacionamento com o Cliente do Sebrae Nacional, Enio Pinto, destaca que as tendências identificadas para 2024 estão postas muito em função das propostas dos próprios empreendimentos, na medida em que eles existem para resolver problemas dos clientes. E o que se tem acompanhado é que esse cliente vem passando por uma mudança comportamental. “Veja, 75% de todo mundo que consome hoje, no Brasil, é nativo da internet, já é um millenium, então, ele já tem um perfil muito próprio, uma pessoa muito próxima das questões tecnológicas, por exemplo, de consumos remotos”, relaciona. “Isso tudo foi exponenciado com a pandemia, então, o que a gente vê ainda hoje são tendências muito fruto desse novo perfil do consumidor que ficou, de alguma maneira, potencializado pelo período da pandemia”.
“Hoje, mesmo negócios tradicionais, como uma lavanderia, precisam ter uma casquinha tecnológica. As pessoas se acostumaram a consumir através de aplicativos, um pouco da uberização da economia. Se hoje eu posso resolver a questão da mobilidade através de um aplicativo na palma da minha mão, eu quero meio que resolver tudo isso também na palma da mão. Então, eu quero acionar uma lavanderia, mas eu quero dizer que quero a lavagem a seco, que quero que eles busquem em casa, que eles determinem o preço, digam como eu posso retirar a mercadoria, tudo também através de um aplicativo”.
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A preocupação com a sustentabilidade é outra tendência esperada para este ano. Enio Pinto considera que essa maior consciência e conexão com a natureza também é parte do perfil da geração millenium e também foi potencializada com a pandemia, quando as pessoas perceberam que a agressão à natureza diminuiu muito quando passaram a ficar mais em casa. “Para os empreendedores adotarem práticas sustentáveis nos seus negócios, ele tem um ganho duplo porque, quando você adota práticas sustentáveis, primeiro, você reduz custo de produção pela reutilização, a gente tem uma economia circular e, por outro lado, você tende a aumentar mais as vendas no momento em que você se vende como um negócio verde e o consumidor consciente faz uma escolha, uma opção por esse perfil de empreendimento”, avalia. “Redução de custos de um lado, melhoria de vendas junto a públicos mais conscientes do outro, ou seja, a adoção de práticas sustentáveis, hoje, é um excelente negócio”.
Outro negócio promissor, de acordo com as tendências previstas para 2024, é o investimento em negócios no segmento de serviços. Enio, explica que, por exemplo, quando se decide montar um empreendimento ligado à área industrial, se tem um investimento fixo elevadíssimo em máquinas, equipamentos, utensílios, eventualmente em veículos utilitários que viabilizem a logística. “Quando você vai atuar na prestação de serviços, quando você vai atuar numa área onde você vende conhecimento, o investimento, de alguma maneira, já está feito. Você vai vender uma competência que você já tem instalada, aplicada no seu dia a dia, então, os investimentos em empreendimentos de serviços tendem a ser a tendência pelo baixo investimento que se tem”, considera. “E quando você consegue associar conhecimento e dar divulgação através de canais remotos, através da internet, você potencializa os seus ganhos”.
A prestação de serviços ligada a um conhecimento já adquirido e linkado com o processo de digitalização foi justamente o caminho percorrido pelo empreendedor Jucivaldo Ferreira, idealizador do Correr.IA, uma plataforma de inteligência artificial focada em comunicação e marketing. Ele conta que sua jornada iniciou a partir de um minicurso de inteligência artificial do qual participou na Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA) ainda em 2013. A partir daí ele trabalhou intensamente em projetos de I.A. na universidade, conciliando a nova paixão com trabalho em agências de marketing digital. “O ponto de virada aconteceu quando a demanda por projetos de inteligência artificial e as responsabilidades pessoais atingiram níveis insustentáveis, acabei sofrendo um burnout. Foi nesse momento de desafio pessoal que surgiu a ideia do Correr.IA. Vi a oportunidade de unir meu conhecimento em I.A. com as necessidades do mercado de marketing”.
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Foi então que o empreendedor percebeu que a solução desenvolvida por ele não era apenas uma resposta às próprias necessidades, mas algo que poderia beneficiar outros negócios. Hoje, o Correr.IA oferece cursos, consultorias e mentorias para aplicar I.A. nos negócios, visando eficiência e redução de custos. Além disso, o empreendimento sediado no município de Santarém desenvolve soluções tecnológicas personalizadas para empresas e já planeja lançar, no próximo mês, ferramentas próprias de inteligência artificial.
Jucivaldo lembra que os primeiros passos com o Correr.IA foram bastante orgânicos, mas também pautados em um bom planejamento. “Ao percebermos a demanda local, decidimos expandir e planejamos cuidadosamente os primeiros passos. Realizamos uma extensa pesquisa de mercado para compreender as necessidades regionais e nacionais, o que nos permitiu ajustar nossos produtos e serviços de acordo”, conta.
Em outro município, Ananindeua, as novas tecnologias, dentre elas a própria IA, também são assuntos frequentes no trabalho desenvolvido pelo empreendimento social Inovação Gileade. Apesar de já existir há 20 anos e já ter atuado com a área do esporte, da cultura e da capacitação profissional mais ampla, a organização decidiu focar sua atuação na área da tecnologia com o objetivo prioritário de transformar a vida de jovens que vivem nas periferias. “Eu não sou da área, sou apenas um empreendedor social, uma pessoa que mora no bairro de Águas Lindas e que queria mudar a realidade. E eu conheci uma pessoa que trabalhava com sucata de lixo eletrônico e fazia alguns protótipos, então, eu peguei esse gancho e começamos a trabalhar”, lembra Ricardo Gimenes, empreendedor à frente do Inovação Gileade. “Como a instituição fica perto do lixão do Aurá, a gente começou a pegar com os catadores material reciclado, placas de computador, memória e começamos a trabalhar com crianças e adolescentes”.
“A gente trabalha sempre com as novidades que têm no mercado e que é muito difícil de se ter em uma periferia, seja numa escola pública ou até mesmo pago. Então, a gente trabalha com drone, impressora 3D, Inteligência Artificial, games, programação, robótica”, conta. “A gente traz isso para uma escola de tecnologia que fica em uma periferia perto do lixão e tudo de graça. O aluno de 12 a 16 anos se matricula, tem que estar estudando em escola pública, tem que estar em dia com as suas obrigações escolares”.
Os negócios com propósito social são apontados como mais uma tendência para 2024 pelo guia de empreendedorismo lançado pelo Sebrae Nacional, assim como empresas focadas em práticas sustentáveis, sendo a área da alimentação saudável e sustentável – onde os negócios buscam atuar com opções mais saudáveis e sustentáveis de alimentação – outro destaque.
Os empreendedores Rebecca Castello, Pricila Oliveira e Igor Pereira decidiram criar a No Waste, aplicativo de marketplace, em fase de finalização, e que irá proporcionar que os clientes tenham acesso a comidas que seriam desperdiçadas, por estarem próximas da validade ou por serem de produção diária, com descontos atrativos. “Para que esses alimentos ainda aptos para consumo não tenham como destino o lixo, a gente vende com 50% a 70% de desconto para o consumidor final. Para o consumidor é excelente porque ele aumenta o poder de compra dele e a gente também tenta fazer um trabalho educativo, através de nossas redes sociais, sobre a questão do desperdício alimentar para que as pessoas entendam que, comprar na No Waste não é apenas poupar dinheiro, mas também ajudar uma causa ambientalmente responsável”, pontua Rebecca. “E para as empresas que são nossas parceiras os benefícios principais é diminuir o prejuízo com esse desperdício porque elas podem tirar o preço de custo do produto, elas conseguem aliar a marca delas a uma causa ambientalmente responsável, que é um marketing positivo, e consegue também alcançar um novo nicho de mercado”.
A empreendedora explica que a forma como o negócio está sendo contextualizado, hoje, é a partir da divulgação dos combos surpresa pelo Instagram. Nesse formato, o cliente vê quais são as lojas, o horário de retirada e o valor percentual de desconto previsto para aquele dia, faz a compra pelo WhatsApp e vai buscar o combo ou pede para entregar. “O combo é surpresa porque, normalmente, o estabelecimento não sabe o que vai sobrar até que chegue o final do expediente. E o combo tem que ter exatamente o percentual de desconto que foi divulgado”, explica a empreendedora.
Os próximos passos do empreendimento incluem a finalização do aplicativo próprio da No Waste, que irá agregar esse serviço que hoje é realizado através das redes sociais. Inclusive, recentemente o empreendimento foi contemplado com um financiamento da Embaixada dos Estados Unidos para ajudar na aceleração da empresa sediada em Belém.
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