Quando se fala em depressão, as pessoas a relacionam à tristeza. Realmente, é um dos principais sintomas da doença, mas não o único. A condição vai além dela, adentrando em sentimentos mais profundos e duradouros.

De acordo com a psicóloga clínica Amanda Albuquerque, diferente do que muitos pensam, a tristeza é um sentimento importante, já que acompanha o ser humano no decorrer da vida. A profissional lista outros sintomas presentes no distúrbio. 

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"É importante não deixar de lado a tristeza. Ela é uma emoção muito importante que estará presente ao longo de nossas vidas, mas há uma grande diferença entre uma tristeza cotidiana, talvez transitória, causada por momentos de perda de alguém querido ou dificuldades financeiras, e uma tristeza patológica, que é persistente e intensa, interferindo nas atividades diárias da pessoa. A depressão persiste por semanas, meses e até anos, dependendo do tratamento. Ela vem acompanhada de outros sintomas, como alteração do sono e apetite e o sentimento de desesperança na vida", explica.

Tristeza profunda e pensamentos intrusivos

A depressão se diferencia das flutuações usuais de humor e das respostas emocionais de curta duração aos desafios da vida. É algo prolongado que, se não tratado, pode ocasionar diversos problemas, sendo o pior deles o suicídio. Conforme a Organização Mundial de Saúde (OMS), o ato de tirar a própria vida é a segunda principal causa de morte entre pessoas de 15 a 29 anos, com cerca de 800 mil casos registrados todos os anos.

Para a psicóloga, é crucial que os profissionais e a família que acompanham quem está com depressão e tem pensamentos suicidas, prestem atenção nos sinais que o paciente dá.

“É necessário estar sempre atento aos sinais de alerta com relação ao suicídio. A ideação suicida pode aparecer muitas vezes em expressões de desesperança, o isolamento social, são frases que essa pessoa fala no meio de uma sessão, seja com um sonho que ele teve, seja com uma falta de valorização de si mesmo, da vida, não encontrar um propósito, um significados na vida, isso são pontos que precisam da nossa atenção”, incentiva. 

Para psiquiatra Luciane Farias Sena, a rede de apoio, em caso de pessoas que sofrem com a depressão e apresentam pensamentos suicidas, é de extrema importância para tratar o problema. "Em casos de pessoas com pensamentos suicidas, a rede de apoio familiar, trabalho e relacionamento afetivo é de fundamental importância para que o paciente possa enfrentar e superar o problema", explica.

"sempre pergunto ou tento identificar com meus pacientes como é que esta rede de apoio deles. Se está bem no trabalho, se as relações com a família tiverem ok, perfeito, é melhor para trabalhar. No entanto, se ele chega aqui [no consultório] e eu percebo que sua rede de apoio não é funcional, que o trabalho está lhe consumindo, e a relação com a família não é saudável, vou ter uma abordagem totalmente diferente e um cuidado especial com essa pessoa", complementa.

É preciso falar de suicídio

Luciane usa uma técnica diferente para mostrar aos pacientes o que ele estão sentindo e até entender um pouco mais seu quadro. Ela utiliza as duas mãos, como se estivesse fazendo uma oração, mas nada haver com religião, apenas técnicas psiquiátricas.

O processo, que consiste em colocar mãos mãos juntas como se ele estivesse fazendo "amém", mostra que, a mão direta do paciente é a vida dele, já a mão esquerda é o seu sentimento [tristeza, pensamentos intrusivos de suicídio]. Durante a atividade, médica vai mostrando que o paciente não quer tirar sua própria vida e sim matar o seu sofrimento. "O sofrimento está muito grudado na vida, mas uma coisa é diferente da outra", disse. 

Atenção aos sintomas e busca de ajuda profissional

Amanda finaliza destacando que é preciso ter atenção para as pessoas que estão perdendo sua funcionalidade, ficando apenas dentro de casa e deixando de fazer atividades que costumavam realizar com certa frequência. E, o mais importante: buscar ajuda. Muitos canais e órgãos públicos estão disponíveis para receber pacientes que apresentam sintomas depressivos.

“Precisamos estar atentos no quanto esses sintomas estão persistindo e estão desafiando cada vez mais a pessoa a ter uma vida cada vez mais leve, mais funcional, quando isso não acontece, é a hora de buscar ajuda. E como buscar essa ajuda? No sistema público [de saúde] temos o CAPS [Centro de Atenção Psicossocial] do próprio SUS [Sistema Único de Saúde], sendo uma unidade de referência para pessoas que sofrem com transtornos mentais e demais quadros. Você indo em uma UBS [Unidade Básica de Saúde] ela pode te encaminhar para um CAPS perto da sua residência", orienta a médica.

"Nós temos também o próprio CVC [Centro de Valorização da Vida], que é uma linha de apoio emocional a prevenção do suicídio muito grande, você pode discar 188 e ter esse recurso emocional de forma gratuita, onde pessoas treinadas estão ali para te ouvir, para de acolher naquele momento. E o mais importante, procurar pela psicoterapia, nós temos psicoterapia nas faculdades, sendo uma extremamente  importante para que a gente consiga combater a depressão”, finaliza.

Repórter: Lucas Contente“Muanense de sangue marajoara e alma paraense! Contente é formado em Comunicação Social - Jornalismo pela Faculdade Estácio Fap e Repórter do DOL desde 2021. Apaixonado por esportes, do skate ao futebol, não dispensa de jeito algum um açaí com peixe frito e um belo banho de rio.”

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