No momento que a dona de casa Alcione da Silva de Moraes, 46 anos, entrou novamente em uma sala de aula, a reação imediata foi a de sentir o corpo arrepiar de emoção. O reencontro com os estudos, depois de 27 anos de afastamento, foi possível através de uma modalidade de ensino que reúne 57.784 alunos em todo o estado do Pará, o Ensino de Jovens e Adultos (EJA).

Quando tinha ainda 17 anos de idade, Alcione engravidou do primeiro filho e, diante da necessidade de trabalhar e sem ter com quem deixar, precisou interromper os estudos. A possibilidade de retomar de onde havia parado se deu mais de duas décadas depois, quando ela acompanhava os estudos de sua outra filha. “Eu tenho uma filha especial e levava ela para estudar e ficava acompanhando e lá os coordenadores e professores perguntavam se eu não queria me matricular e eu pensei: ‘sabe de uma coisa, é uma boa ideia’”.

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Diante da felicidade de poder retomar os estudos, Alcione conta que também passou a incentivar outras pessoas a fazerem o mesmo, incluindo os seus próprios colegas de turma. “Quando eu comecei a estudar, eu comecei a incentivar a minha mãe a estudar também. Ela não sabia nem ler e ela começou a pegar as coisas, ainda ficou dois anos estudando, antes de ela falecer. Eu incentivo outras pessoas que eu conheço, eu gosto de incentivar mesmo as pessoas porque é muito bom voltar a estudar. Tem muitos meninos novos na minha sala e eu falo para eles não deixarem de estudar porque é tão bom, para não deixarem acontecer como foi comigo”, conta. “Eu estou muito feliz de ter voltado para a escola, já vai terminar o meu último ano e eu já fico pensando em que outras coisas que posso fazer. Eu quero procurar alguma coisa pra fazer depois disso, uma faculdade. Eu também quero fazer o Enem. Graças a Deus, as diretoras e professores daqui são pessoas que incentivam a gente e eu quero tentar”.

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A história de Alcione se assemelha a de tantas outras pessoas que veem no EJA a oportunidade de traçar um novo futuro profissional. A coordenadora estadual do EJA, professora Ana Cláudia de Moraes Neves, explica que a chamada Educação de Jovens e Adultos é uma modalidade dentro da rede estadual de educação. “Hoje, a maioria das pessoas da EJA já estão no mercado de trabalho e estão na informalidade, então, elas querem um certificado para se oficializar, ter uma carteira assinada, progredir profissionalmente”.

A professora Ana Cláudia Neves
📷 A professora Ana Cláudia Neves |(Foto: Wagner Almeida)

A professora explica que, diferente da metodologia utilizada no ensino fundamental e médio regular, o EJA possui uma metodologia própria, voltada para jovens e adultos que não concluíram a educação básica na idade prevista. “O EJA no Brasil todo vem se remodelando, se ajustando e dando essa resposta social, que é o nosso compromisso maior. Então, é um trabalho de agregar, de acolher e a EJA estadual deu um salto de qualidade. Nós aprovamos uma matriz curricular específica para a EJA, que já aborda o mundo do trabalho”, explica a coordenadora. “Além da matriz curricular, nós temos um caderno de orientação pedagógica específico para que a gente possa preparar os professores para trabalhar com a EJA. Esse aluno da EJA é aquele que trabalha o dia todo, que chega na escola à noite cansado e que precisa ter uma metodologia de ensino diferenciada. Nós temos que manter o nosso compromisso com a resposta social, mas nós temos que fazer isso cuidando desse aluno”.

ENTENDAMODALIDADESEJA Regular

Abrange o Fundamental 1 e 2, e o Ensino Médio. O EJA Fundamental pode ser cursado por pessoas a partir de 15 anos de idade que não tenham concluído o ensino fundamental. Já o EJA Ensino Médio é voltado para pessoas a partir de 18 anos que tenham interrompido os estudos em alguma fase. Nesta modalidade, o aluno precisará passar dois anos estudando para concluir o ensino médio.

EJA Socioeducativo

É voltada para alunos que estão cumprindo medidas socioeducativas, possibilitada através de um termo de convênio entre a Seduc e a FASEPA.

CEEJA

É uma modalidade dentro da EJA, onde os CEEJAs são centros de formação que qualificam e certificam. Apesar da existência do exame nacional, o Encceja, os CEEJAs têm autonomia e mantêm uma banca permanente para avaliação e certificação dos alunos que tenham ficado apenas com algumas disciplinas pendentes. Por exemplo, se uma pessoa ficou devendo apenas uma matéria, ela pode ir até o CEEJA e fazer apenas o módulo da disciplina que estava pendente. Concluindo a disciplina, esse aluno pode se submeter à prova da banca permanente, que o qualifica e certifica para o mercado de trabalho. Como o CEEJA trabalha por módulo, o tempo de duração varia porque depende do quantitativo de cada módulo, podendo ser concluído em três ou seis meses.

EJA Intercultural

O CEEJA tem, dentro do ensino personalizado, o EJA Intercultural, voltado para os indígenas internacionais, como os Warao, venezuelanos, colombianos, para os apátridas, refugiados e imigrantes. Num primeiro momento da modalidade, se promove o ensino da língua portuguesa para que os alunos possam, depois, fazer as disciplinas do ensino fundamental e do ensino médio. Hoje, existem 126 alunos indígenas Warao matriculados nessa modalidade no Estado.

SERVIÇO

Todos os bairros de Belém possuem escolas que disponibilizam o EJA Fundamental e EJA Médio. Para consultar quais são essas escolas, basta ir até o site da Seduc e acessar o link específico de matrícula onde a pessoa pode escolher o bairro que deseja identificar quais são as escolas que oferecem o EJA. As inscrições para o EJA Regular ainda estão abertas e devem seguir até o final de abril. Já o CEEJA, que é o ensino personalizado, fica com matrículas abertas durante o ano todo.

Em números57.784

alunos estão matriculados no EJA no Estado do Pará

27

mil alunos estão na Região Metropolitana de Belém.

5

CEEJAs estão espalhados no Estado do Pará, um fica em Belém, um em Santarém, um em Marabá, um em Xinguara e um em Abaetetuba.

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