Quem diria que um intercâmbio nos Estados Unidos de uma pessoa vinda do Pará, de Belém, para ser mais específico, poderia resultar em uma posição destacada em uma das empresas mais inovadoras no mercado de adoção de pets nos Estados Unidos, Canadá e Nova Zelândia? E ainda, que a burocrática adoção de um cachorro poderia ser o catalisador que gerou a ideia de milhões. Esta é a Adopets, uma empresa criada pelo paraense Lucas Alencar e seus co-fundadores Artur Sousa e André Martins.
O processo, no entanto, não foi fácil. Envolveu muito trabalho e um desejo intenso de inovar e revolucionar o empreendedorismo social na área da adoção de animais. Tudo isso, com o principal mentor tendo apenas 19 anos, vindo da longínqua Belém do Pará.
Criada em 2016, a Adopets surgiu como um software para desburocratizar e automatizar o sistema de adoção em abrigos públicos, privados e não governamentais. A ideia era permitir que os abrigos utilizassem o sistema sem a necessidade de fazer muitas transferências de dados, utilizando o programa como uma unidade para o funcionamento de toda uma rede de informações.
De acordo com o paraense Lucas Alencar, um dos fundadores, a ideia surgiu do desejo de melhorar o processo, depois que Arthur adotou o cachorro Frisco e enfrentou uma verdadeira batalha para fazê-lo. Eles haviam conversado pela primeira vez durante uma live sobre empreendedorismo social. A ideia ressoou e o programa começou a tomar forma.
"Ele (Arthur) foi adotar um cachorro e o processo demorou cerca de dois meses, envolvendo diferentes organizações e mais de 70 e-mails. Começamos a nos perguntar por que era tão complexo, 'será que isso é normal?' Isso é algo específico dessa adoção ou está acontecendo com várias pessoas? A partir desse momento, em fevereiro de 2016, começamos a nos interessar mais pela causa animal, principalmente, porque só naquele ano, mais de 1 milhão de animais foram eutanasiados só nos Estados Unidos. A partir daí, nos envolvemos nessa causa para descobrir como poderíamos ajudar a agilizar esse processo, e esse foi o ponto de partida da Adopets", explica.
Parcerias
Com base na inovação e no reconhecimento nacional subsequente do empreendimento, a startup conseguiu fechar uma parceria com a Petsmart, maior loja varejista pet do mundo, com quase 1.700 unidades nos Estados Unidos, Canadá e Nova Zelândia, atuando na venda de produtos, serviços e pequenos animais de estimação. O grupo adota, por ano, cerca de 350 a 400 mil pets.
“Antes não havia processo de adoção focado na experiência de usuário, não só para o abrigo, mas para a pessoa que estava adotando, a gente conseguiu emplacar o projeto, que hoje está rodando nos três países que citamos para processar essa informações massivas de mais de 2.000 organizações de adoção diferentes”, destaca Lucas.
+400.000 adoções
Hoje, mais de 400.000 pets já foram adotados com seus produtos nos Estados Unidos, Canadá e Nova Zelândia, a partir de mais de 800.000 aplicações individuais para adoção, em uma empresa que funciona de forma totalmente remota.
Com a consolidação dos aprendizados e resultados comprovados, os fundadores decidiram aplicar para a aceleração da Techstars em Boston, uma das maiores e mais prestigiadas aceleradoras de startups do mundo. Dentre mais de 1200 startups candidatas, a Adopets foi selecionada e os fundadores viveram 3 meses de uma profunda imersão empreendedora.
Este marco permitiu a Adopets levantar o primeiro investimento anjo, no valor de $205.000 dólares, capital que foi essencial para a construção da segunda versão do produto, já com soluções bem mais robustas. Até hoje, entre investimentos anjo, pre-seed e seed, eles conseguiram levantar $1.700.000 de dólares, que usaram para construir um time plural e inspirador de 22 pessoas, espalhados em todas as regiões do Brasil, como também nos Estados Unidos e Filipinas.
Burnout
O processo, no entanto, foi difícil. No início de 2017, na jornada dupla para conciliar todo o trabalho no Adopets e na faculdade que cursava em tempo integral nos Estados Unidos, Lucas teve um burnout (ou Síndrome do Esgotamento Profissional) que causou um esgotamento físico e emocional no empreendedor.
No período, o paraense decidiu voltar para Belém e recarregar as energias, aproveitando para focar no projeto que estava desenvolvendo, afinal, a volta fez o processo se tornar muito incerto.
Investimentos e consolidação da startup no mercado
Desde o lançamento da segunda versão do Adopets, em 2020, e do software de adoção AME (Adoptions Made Easy), ambos sob a liderança de Lucas, mais de 400.000 pets já foram adotados com estes produtos nos Estados Unidos, Canadá e Nova Zelândia, a partir de mais de 800.000 aplicações individuais para adoção. Em agosto de 2023, o AME passou a ser operacionalizado em 1669 lojas da PetSmart.
Esse impacto também se traduz em transações que totalizam mais de $50.000.000 de dólares em taxas de adoção repassados para abrigos, e mais de $2.000.000 de dólares destinados, exclusivamente, em doações diretas para estas organizações através dos produtos Adopets e AME.
A criação da Adopets não apenas revolucionou a gestão e o processo de adoção de animais, mas também impulsionou a transformação digital em abrigos de animais em várias partes do mundo. Eles foram pioneiros na criação do primeiro software dedicado a simplificar e otimizar a experiência de adoção de animais de estimação, desde o momento em que o animal chega ao abrigo até encontrar um lar permanente.
Fusão
Em 2022, a Adopets concluiu uma fusão com a empresa australiana Shelter Buddy, resultando na formação de uma nova entidade chamada Pet Loyalty, que agora detém os produtos Adopets, AME e Shelter Buddy.
Reconhecimento
No ano passado, Lucas entrou para a prestigiosa lista Under 30 Forbes 2023, que elenca empreendedores, criadores e game-changers abaixo de 30 anos que mais se destacaram em seus setores, revolucionando negócios e mudando o mundo.
Adopets no Brasil?
Lucas Alencar cita também a possibilidade da Adopets atuar no Brasil, um país com grandes problemas em relação à adoção de animais. “É um interesse verdadeiro sim, nós estamos em um momento hoje tentando entender as necessidades que existem no Brasil, partindo do pressuposto que o mercado dos Estados Unidos, Canadá e Nova Zelândia conta com uma estrutura mais consolidada e no sentido organizacional, no sentido de investimento. Sabemos que aqui [Brasil] tem muitas organizações independentes, e também que o país conta com muitos abrigos do governo, então estudamos essas estruturas para saber de que maneira elas funcionam. A partir daí procuramos entendê-las para adotar todas essas soluções que construímos e usá-las aqui. Apesar de estarmos na mesma área [pets], nem todos os problemas enfrentados pelos abrigos são iguais nos países, então estamos buscando entender isso e possivelmente trazer o nosso produto e colocá-lo para funcionar aqui”.
Repórter: Lucas Contente
"Lucas Contente é muanense de sangue marajoara e alma paraense! Contente é formado em Comunicação Social - Jornalismo pela Faculdade Estácio (FAP) e repórter do DOL desde 2021. Apaixonado por esportes, do skate ao futebol, não dispensa de jeito algum um açaí com peixe frito e um belo banho de rio".
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