Um retrato vívido do processo de formação da cidade

Instalada no cenário da cidade de Belém a partir das obras de aterramento para a construção do Cais do Porto de Belém, a avenida que hoje atende pelo nome de Marechal Hermes está diretamente relacionada ao crescimento da capital paraense a partir da sua fundação. É na avenida que vai ser instalado o Porto de Belém, que no início do século 20 teve uma participação fundamental nas relações comerciais advindas da exploração da borracha.

Por guardar toda essa memória, o professor da Universidade do Estado do Pará (Uepa) Campus Belém, doutor em História da América e da África na Universitat de Barcelona e membro do grupo de estudo e pesquisa sobre escravidão e Abolicionismo na Amazônia (GEPEAM), Diego Pereira Santos, considera que a região na qual se tem, hoje, a Avenida Marechal Hermes é uma região histórica na cidade de Belém. “Ela tem relação, inclusive, com processo de formação da cidade, mas esse prolongamento que nós chamamos hoje de Avenida Marechal Hermes é bem mais contemporâneo”, explica. “A Marechal Hermes vai estar relacionada diretamente com a criação do Porto de Belém, já entre a primeira e a segunda década do século 20, quando a gente vai perceber esse crescimento ligado a esse prolongamento. Na verdade, a avenida Boulevard Castilho França, que acaba sendo um prolongamento da Marechal Hermes após o cruzamento com a avenida Presidente Vargas, já existe desde o momento da formação, inclusive vai ser a considerada essa rua que vai dar origem à ideia do mercado como nós conhecemos hoje, o Mercado Público do Ver-o-Peso, que vai ser inaugurado já no início do século XX”.

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Ligada a essa dinâmica de crescimento da cidade a partir de 1920 e 1930, a avenida Marechal Hermes exerceu papel importante no processo de estruturação de Belém. E ainda hoje guarda relação com a sua origem, na medida em que abriga o Terminal Hidroviário de Belém, de onde passageiros chegam e partem diariamente por via fluvial. “É uma rua que se prolonga ao longo dessa nossa organização portuária, com o Porto de Belém se consolidando e, não à toa, a gente tem aqui na Marechal Hermes, hoje, o terminal hidroviário. Então, ela tem essa relação direta com o porto de Belém e depois, já na década de 90 para os anos 2000, com a ideia do Complexo do Ver-o-Rio. São elementos que têm a ver já com uma dinâmica mais contemporânea”.

Seguindo caminho pela Marechal Hermes a partir do cruzamento com a avenida Presidente Vargas, chega-se ao que hoje a população de Belém conhece como Ver-o-Rio. O complexo turístico recebe visitantes interessados em contemplar a vista da Baía do Guajará e o Museu de Arte Urbana de Belém guarda, também, um resquício de um uso diferente dado ao local no passado: a rampa que fora utilizada no século 20 quando o local ainda abrigava um antigo hidroporto de Belém, onde pousavam hidroaviões.

Ainda que a memória de hidroporto nem passe pela cabeça da família da analista comercial Marluce Melo, 37 anos, é na rampa presente no Ver-o-Rio até hoje que ela, o esposo Ângelo melo, 50 anos, e a filha Ayla, de um ano e três meses, constroem novas memórias. “O meu esposo trabalha em Portugal e há quatro meses ele não via a nossa filha, então, hoje a gente decidiu vir aqui no Ver-o-Rio para aproveitar um pouco com ela”, contou. “É um local que a gente gosta de trazer ela porque tem esse contato com a natureza e é muito bonito”.

PARA ENTENDER

REGISTRO

Um registro do Álbum “Belém da Saudade” mostra a avenida Marechal Hermes ainda no século passado. De acordo com a publicação, o postal mostra uma “visão panorâmica da Avenida Marechal Hermes, surgida a partir das obras de aterramento para a construção do Cais do Porto. Anteriormente, as águas da Baía do Guajará chegavam às proximidades do Convento de Santo Antônio”.

Nome homenageia militar que presidiu a República do Brasil

Ainda que a avenida que recebeu o Porto de Belém tenha tido um papel fundamental no crescimento da capital paraense desde muito cedo, o atual nome da avenida veio tempos depois. O historiador e professor da Uepa Campus Belém, Diego Pereira Santos, explica que a Marechal Hermes homenageia um homem do final do século XIX e que foi um político e militar brasileiro respeitado pela sua posição e que foi lembrado como alguém que merecia ter uma memória resgatada e mantida até os dias de hoje. “O nome em si, Marechal Hermes, está ligado a um militar que também foi político e que chegou a ocupar a Presidência da República. O Marechal Hermes da Fonseca foi o oitavo presidente da República Federativa do Brasil e foi uma figura muito interessante na consolidação do Governo Republicano”, conta o professor. “Eu não canso de falar o quanto essa memória republicana salvaguarda indivíduos que tiveram uma ligação direta com o governo, como é o caso do Marechal Hermes, ou que de alguma maneira representaram esses ideais. O Marechal Hermes foi Presidente da República e teve uma ação direta no sentido da consolidação, inclusive, das oligarquias no Brasil”.