Andar de moto sempre esteve associado ao conceito de liberdade. Sentir o vento bater em seu corpo e facilidades como a possibilidade de locomoção mais ágil pelos labirintos das cidades são apenas alguns dos motivos dos que se apaixonam pelas motos. Mas com o aumento do trânsito nos centros urbanos e a dificuldade de acesso ao transporte coletivo, andar de moto deixou de ser apenas uma opção para passeios de finais de semana. A vida sobre duas rodas vem se tornando cada vez mais uma forma acessível de ampliar possibilidades de locomoção para muitos.


Mas se as motos ajudam a chegar mais rápido, elas também expõem quem as usa a sério riscos, principalmente quando um item de segurança primordial, que salva vidas, é deixado de lado: o capacete.

Moendo gente

Apesar da eficácia da proteção do equipamento não ser nenhuma novidade, não é difícil encontrar pessoas sobre duas rodas nas ruas usando capacetes em cotovelos, na garupa de motos, ou até trafegando sem o assessório. E os dados retratam o que se vê todos os dias nas ruas. Andar sem capacete, que é uma infração de acordo com o Código Brasileiro de Trânsito, está em segundo lugar no ranking das faltas mais cometidas em Belém. Esse mau hábito fica atrás apenas do avanço do sinal vermelho, segundo a Superintendência Executiva de Mobilidade Urbana (Semob). 

Além disso, outra infração, conduzir passageiro sem capacetes em motos, também ocupa o quarto lugar dentre as infrações mais cometidas em Belém. Juntos, os dois tipos de desrespeito à vida somaram mais de 28,4 mil multas nas ruas de Belém só em 2013. 

No Brasil, o número de mortes causados por acidentes com motos aumentou 263,5% em dez anos, segundo dados do Sistema de Informações de Mortalidade (SIM), criado pelo Ministério da Saúde.

O médico traumatologista e ortopedista Cleubery Braga alerta: os riscos são maiores pelas facilidades de quedas. “A pessoa normalmente cai de cabeça. O capacete, o cérebro e os ossos do crânio, e sua proteção faz com que a gravidade do acidente seja bem menor”.

O médico esclarece: apenas usar o capacete não evita lesões no pescoço e coluna cervical. Mas a diminuição do impacto na cabeça já diminui a repercussão para o pescoço. “O capacete é importantíssimo para salvar vidas. Eu atendo em todo os meus plantões de três a quatro acidentes envolvendo motocicletas. As vítimas que usam capacete chegam com traumatismos minimizados”.

Não é tão recente o surgimento do capacete como item de segurança para atividades perigosas. Na Segunda Guerra Mundial, o exército britânico utilizou capacetes para os pilotos, que eram obrigados a utilizá-los. Para virar item obrigatório nas ruas, foi necessária a morte de um motociclista em 1935. Thomas Edward Lawrence sofreu um grave acidente. Estava sem capacete e sofreu lesões na cabeça, entrando em coma e falecendo seis dias depois. O médico que o tratou, Hugh William Bell Cairns, iniciou um estudo sobre pilotos de motocicletas que tiveram ferimentos na cabeça e sobre a eficácia do capacete - que após isso virou equipamento obrigatório na Inglaterra e depois ao redor do mundo.

(Diário do Pará)

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