Pela primeira vez na fila, a aposentada Domingas Santos, de 60 anos, não conseguiu ficar surpresa diante da boa quantidade de pessoas que já aguardavam no local por volta de 4h, quando chegou. Ainda que nunca tivesse visto, a situação desumana enfrentada nas portas dos hospitais do Estado todos os dias não é novidade para ela.

“É a primeira vez que eu tô vindo, mas já tô acostumada com isso. Por onde a gente vai tem essas filas assim, tem que lutar pra conseguir uma consulta, um exame”, reconhece.

“Meu cunhado é que faz tratamento aqui há um bom tempo já, mas das outras vezes era sempre ele mesmo que vinha. Só que dia desses ele caiu da escada e tá machucado. Eu vim pra marcar pra ele”.

Sem a mesma sorte, o pedreiro Antônio Paixão, 59 anos, tentava, sozinho, sustentar o corpo cansado sob as pernas. Ainda que debilitado pela doença, a saída de Ananindeua durante a madrugada se fez obrigatória para que conseguisse dar continuidade ao tratamento já iniciado.

“Eu quero marcar o retorno. Tem que vir esse horário mesmo pra poder pegar a ficha pro urologista”, explicava, sem que encontrasse qualquer lugar disponível além do chão para sentar. “Pra mim isso aqui é um sacrifício. Venho mesmo porque não tenho ninguém por mim. Isso é uma falta de humanização”.

(Diário do Pará)

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