O que era para ser apenas uma peça de teatro em uma tradicional escola de Belém, acabou se transformando em um debate sobre racismo nas redes sociais.
Após as imagens dos alunos caracterizados com negros – incluindo a pele pintada de preto – circularem na internet, muita gente criticou o trabalho.
Para a fanpage “Geek não é só para o seu namorado” a caracterização ilustra bem o “blackface”, que é o ato de se caracterizar com fenótipos negros para representá-los de forma teatral, normalmente como uma caricatura. “Essa prática é duramente condenada e combatida pelo Movimento Negro ao redor do mundo”, garante. “É um absurdo que, em pleno 2015, uma escola aceite que alunos façam blackface e apropriação cultural para representar negros em peças de teatros ou quaisquer outras situações! E é ainda mais absurdo que a escola tenha incentivado algo assim”.
A imagem dos alunos repercutiu nas redes sociais (Foto: reprodução)
RACISMO?
A postagem original já teve mais de 120 compartilhamentos, até a noite desta quinta-feira (30), e muita discussão. “É uma forma de manter o preconceito. De garotas negras sofrerem bullying na escola e ter de se esconder porque tem certos trejeitos, porque para a sociedade esses trejeitos é uma fantasia, é engraçado e exótico. Ja desenharam muito a minha boca no quadro, querendo me deslegitimar”, escreveu uma internauta.
“Se não tem alunos negros matriculados pra representar, o que já é uma expressão de racismo na escola em si, os brancos que representassem a história sem pintura, como brancos mesmo, ué. Qual a necessidade de se pintarem?”, questionou outro internauta.
NA TV, NO TEATRO..
Esse tipo de “fantasia” é presença garantida em festas de carnaval, programas televisivos e até mesmo em protestos políticos. O ator William H. West ficou famoso ao interpretar personagens negros no teatro.
O primeiro filme falado da história de Hoolywood procurou se utilizar deste artificio. Em “O Cantor de Jazz”, de 1927, o blackface ganha papel de destaque na caracterização do personagem principal da película. Para isso, o Ator Al Jolson, a fim de interpretar um jovem cantor negro chamado Jack Robin, atua em boa parte do filme, com o rosto pintado.
Na novela "A Cabana do Pai Tomás", o ator Sérgio Cardoso viveu o protagonista negro. Na cena, ele ao lado da atriz Ruth de Souza (Foto: reprodução)
Até a primeira novela brasileira protagonizada por um negro foi estrelada por um ator branco. Em “A Cabana do pai Tomás”, exibida pela TV Globo em 1969, Sérgio Cardoso tinha que pintar o corpo com uma tinta negra, usar peruca e rolhas no nariz.
Segundo o site Memória Globo, o ator Milton Gonçalves teria sido preterido ao papel, por exigência de uma patrocinadora das telenovelas à época.
Devido ao horário de fechamento da reportagem, a equipe do DOL não conseguiu localizar nenhum representante da escola para comentar o assunto.
(DOL)