É no exercício com o olhar, no reconhecimento das cores e na experiência de observar formas e tocar texturas diferentes que Gabriel Óliver, de 8 anos, realiza as atividades diárias. Portador do “espectro autista” em grau leve, Gabriel começou a participar há um mês das atividades na Associação de Pais e Amigos de Autistas do Estado do Pará (Casa do Autista), na Marambaia, em Belém. 

A mãe do menino, a autônoma Érica Oliveira, 40, conta que já percebe muitos avanços em seu aprendizado. Ela observou que, quando ele tinha um ano de idade, Gabriel não apresentava alguns comportamentos considerados comuns para sua faixa etária, como imitar gestos e falar ‘mamãe’ e ‘papai’. E, somente aos três anos, o menino teve diagnóstico positivo para o transtorno. Após a conclusão médica, a mãe conta que não desistiu de procurar educação regular para o filho. Hoje, ele estuda em escola pública e tem aulas particulares de música em seu tempo livre.

Diferente de Érica, a pedagoga Angélica Miranda Gatti, de 36 anos, não conseguiu que o filho Samuel, também autista, fosse incluído na educação regular nas esferas privada e pública do Estado. Ela precisou sair do emprego para se dedicar exclusivamente a ele, desde que passou a apresentar sinais de agressividade há quatro anos. Angélica conta que o menino, hoje também com 8 anos, não apresentava nenhum sinal do transtorno: interagia com outras pessoas no ambiente familiar, falava e conseguia fazer atividades simples do cotidiano. Embora os sinais do transtorno não fossem claros, ela observou algumas mudanças comportamentais na criança. “Ele estava sorrindo, e de repente, aparecia outra criança, ele parava de sorrir e se fechava”, lembra. 

No entanto, para que o diagnóstico fosse confirmado, ela fez uma verdadeira peregrinação nacional. De Belém, ela foi para São Paulo e em seguida para Fortaleza, onde conseguiu finalmente o laudo médico. Samuel foi diagnosticado com o autismo clássico, quando o transtorno se manifesta de forma mais aguda. Angélica pediu demissão do antigo trabalho e passou a fazer parte da organização da Casa do Autista, junto com o marido, Dourivaldo Gatti. 

O casal e outros pais se uniram pela mesma causa: a de propor uma vida melhor aos filhos. No espaço alugado, 18 crianças na faixa etária de dois a 12 anos recebem acompanhamento de fonoaudiólogo, pedagogo, terapeuta ocupacional, psicólogo e uma nutricionista. O terapeuta ocupacional, Luiz de Oliveira, 27, disse que foi escolhido pela profissão. “Desde que participei de um estágio supervisionado para a formação acadêmica, me realizei trabalhando com crianças. Agora, depois de formado, sou apaixonado pelo que faço”, disse. 

COMUNICAÇÃO

Apesar de os sinais do transtorno variarem, há três comprometimentos que são considerados mais comuns. O primeiro é na interação social. Ou seja, no modo de se relacionar com outras crianças, adultos ou com o meio ambiente, segundo detalha a psicóloga Carolina Dourado, que atua na instituição. Outro sintoma recorrente é a dificuldade na comunicação: há crianças que não desenvolvem a fala e outras que têm ecolalia (fala repetitiva). Como terceiro sinal, há a questão comportamental: as ações podem ser estereotipadas, repetitivas. A psicóloga reforça que o diagnóstico deve ser feito por uma equipe multiprofissional.

(Wal Sarges/Diário do Pará)

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