Símbolo da capital paraense e parte da paisagem urbana, as mangueiras têm assustado neste período chuvoso. Só neste mês, foram pelo menos três quedas de árvores em Belém. Então, como conciliar arborização da cidade e preservar esse símbolo sem colocar a segurança das pessoas em perigo?. A engenheira agrônoma Heliana Brasil, doutora em Biologia Ambiental e professora da Universidade Federal Rural da Amazônia (Ufra), diz que são necessárias medidas preventivas e acompanhamento constante. 

P - Na sua opinião, o que tem causado a queda de árvores neste período de chuvas, em Belém? 

R - Nessa época do ano, isso ocorre justamente pelo excesso de água no solo, que o deixa mais frouxo, no coleto (parte entre a raiz e o tronco) e na copa, tornando-a mais pesada. Isso é o que, historicamente, aumenta a queda de árvores em Belém. Este ano, as chuvas estão sendo acompanhadas de ventanias muito fortes, o que acentua mais a instabilidade das plantas. 

P - É possível evitar essas quedas? O que fazer para prevenir acidentes?

R - As mangueiras que caíram no bairro de Nazaré, recentemente, estavam com a base apodrecida. Ou seja, o problema da depreciação vem ocorrendo ao longo do tempo. Por outro lado, a deformação das copas por podas indevidas e o peso acrescido das ervas-de-passarinho deixam a árvore muito mais vulnerável. Para evitar a queda, portanto, é necessária a manutenção frequente. O monitoramento constante da arborização seria um meio de prevenir a queda, com a substituição antecipada da árvore condenada. 

P - Belém tem mangueiras centenárias. É possível preservá-las ou elas devem ser substituídas? 

R - Inicialmente seria necessário diagnosticar cada árvore, para se determinar os passos seguintes. Quais os tratos a serem dispensados a algumas, quais as que estariam condenadas e deveriam ser substituídas imediatamente e quais aquelas que devem ser beneficiadas por obras de drenagem nas imediações. É um contrassenso achar que todas as mangueiras devem ser substituídas. Assim como não se pode continuar tratando as árvores como problema. Árvore não é problema para Belém. É solução para nossa cidade.

P - Belém não está entre as capitais mais arborizadas do País. O que fazer para mudar isso? 

R - Bastaria que a arborização voltasse a ser considerada um item da urbanização, como era até o início do século passado. Hoje, se a árvore está “atrapalhando”, ela deve sair e em áreas acrescidas ou reurbanizadas, se sobra espaço, aí cabe a árvore. Em suma: a arborização deve ser planejada junto e não vir a reboque de uma avenida, por exemplo. Quando se fala em manter a arborização está se incluindo a substituição das árvores senis ou irremediavelmente desequilibradas.

P - A senhora participou de um grupo que chegou a elaborar um plano de arborização para Belém. No que consistia esse plano? 

R - O Plano a que você se refere foi transformado em Lei Municipal e o Manual é um decreto. Ou seja, a lei existe, mas não está sendo de todo observada.

P - No que consiste esse plano de arborização?

R - De forma reduzida, estabelece como deve ser feito o planejamento e a implantação da arborização em áreas de expansão e o manejo, principalmente em vias públicas (calçadas, canteiros centrais e orlas). O plano, hoje uma lei, definiu o papel de cada órgão ou setor envolvido. Outro ponto relevante do plano é o estabelecimento de sanções administrativas a quem cometer infrações envolvendo as árvores. Para minorar os danos provocados pela população, foi incorporado um programa de educação ambiental, mas que ainda não foi concretizado.

(Rita Soares)

MAIS ACESSADAS