Milhares de moradores dos bairro Marco, Pedreira, Bastista Campos, Jurunas, entre outros, convivem com as consequências das fortes chuvas que têm caído sobre Belém. São crianças, adultos e idosos que precisam atravessar um verdadeiro aguaceiro para simplesmente entrar ou sair de suas próprias casas. É preciso pôr os pés dentro da água suja e cheia de lixo e dejetos de animais, sob o risco de contrair diversas doenças. Eles já estão cansados de viver o mesmo transtorno todos os anos, durante o inverno amazônico no Pará. Desde o último domingo (4), eles têm tido diversos prejuízos com os alagamentos que invadem com frequência suas próprias casas e comércios.

A autônoma Elaine Sousa, 30, caminha cinco quilômetros por dia para deixar e buscar o filho na escola, situada no bairro do Marco. Do fim da linha do ônibus Arsenal até a travessa Vileta, ela faz um percurso de trinta minutos, muitas vezes com o filho de apenas três anos no colo.

Veja fotos de outras áreas da cidade que foram afetadas.

SACRIFÍCIO

Ontem, mais uma vez, a jovem mãe precisou de muita força para enfrentar os alagamentos. “É um sacrifício que a gente faz todo dia, mesmo por baixo de chuva, para que ele estude e seja alguém na vida”, disse. Já o autônomo Jorge Lima, 54, joga pedras e aterro nos buracos da rua em troca de alimento e trocados para amenizar o caos com as poças de lama. “Isso aqui era obrigação do prefeito, mas, como não liga para a população, nós é que temos de fazer esse tipo de serviço”, critica.

A travessa Mauriti ficou inundada durantea a tarde. (Foto: Maycon Nunes/Diário do Pará)

Moradora da travessa Vileta há dez anos, a dona de casa Dulce Santos, 70, lamenta o estado em que o bairro fica quando chove. “É tão gostoso morar aqui, o que mata é que no verão é uma poeira sem fim e no inverno a chuva não dá trégua”, compara.

PREJUÍZOS

Comerciantes precisam adaptar seus imóveis para manter os negócios ativos. A aposentada Raimunda Lima Peixoto, 68, conta com ajuda de vizinhos e clientes para não ter um prejuízo maior. “Ontem, se não tivesse ninguém aqui no bar, teria perdido meu freezer”, conta a senhora.

Na casa da costureira Josina Amador, 54, “a TV e todas as coisas que podem ser danificadas ficam lá em cima para evitar que a gente perca tudo”, relata a moradora da passagem São Marcos. Ela conta que a água infiltra pelo banheiro que acaba sujo e sem uso.

Segundo a Secretaria Municipal de Saneamento (Sesan), todos os canais do bairro do Marco deságuam no Canal Tucunduba, onde o Governo do Estado já realiza obra de macrodrenagem e infraestrutura.

Elaine Souza enfrentou a chuva pra garantir que o filho não perdesse um dia de aula. (Foto: Wagner Santana/Diário do Pará)

LIMPAR A CASA TODOS OS DIAS JÁ É ROTINA PARA AS FAMÍLIAS BELENENSES

Depois de limpar a casa, que foi atingida pela chuva que caiu no último sábado (3), a comerciante Maria das Graças Dutra, 68, viu a água da rua invadir novamente seu imóvel, ontem. “A água que transborda do canal entra pelo saguão e infiltra por todos os cômodos. A gente fica sem ação porque já está acostumado a ver esse tipo de situação triste”, descreve. “No domingo, saí daqui (Vileta) com a água pelo meio das pernas”, complementa a irmã de Maria, a aposentada Laudulina Santos, 63, que mora na passagem União com Estrela, no Marco. 

“Quem tem comércio não tem condições de trabalhar nesse período. A água invade as casas. E a gente acaba perdendo vendas e produtos”, diz Orlando Moreira, 55, que trabalha em um depósito de água no bairro.

(Wal Sarges/Diário do Pará)

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