Um projeto colonial que fincou no País as raízes da violência, uma sucessão de governos incompetentes, uma política estatal de controle racista e, para a cereja do bolo, anos acumulados de administrações do PSDB no Pará. Mestre em ciência política pela Universidade Federal do Pará (UFPA), Rafael Fontes cita esses ingredientes como a base de um iceberg que ainda tem apenas sua ponta vista e malmente tratada pelas autoridades. 

Prova disso é o fato de que, há pelo menos seis anos Belém, Ananindeua e o Estado estarem sob o comando do mesmo partido, o PSDB, e não existir uma parceria eficaz de combate à criminalidade. 

“Com o chegar das eleições, o debate político no Pará está deteriorado, e a tendência é que até piore. O Governo Estadual prefere desconversar ou não falar sobre o assunto. O fato é que, por terem se consolidado como uma dinastia política, e terem vencido muitas eleições aqui, o PSDB tem muita confiança - mesmo com péssimos governantes-, que podem vencer qualquer eleição, sempre na base do uso da máquina”, lamenta.

Rafael defende ainda a legalização das drogas como um abrir de novos rumos que poderiam impactar de forma decisiva no controle da criminalidade e com o qualitativo da atuação das próprias polícias. E é crítico ferrenho da manutenção das desigualdades que também contribuem para uma realidade violenta.

Carros do IML seguem para buscar mais corpos de vítimas de assassinatos (Foto: Maycon Nunes)

MACONHA

“Devemos pensar sobretudo em formas de redistribuir os recursos da sociedade e aperfeiçoar a condição econômica do povo”. O estudioso não vê a possibilidade de uma mudança real enquanto o Estado e a sociedade brasileira não se reconhecerem como racistas e se comprometerem a pôr em prática uma política antirracista. Se por um lado a legalização do uso e compra de entorpecentes pode soar polêmico, Rafael lembra que a cultura proibitiva já se mostrou falha não só no Brasil como em outros países. 

“O que financia o tráfico é a proibição, não são os usuários. Se a farmácia vendesse maconha de qualidade superior e mais barata, algum usuário ainda iria na boca-de-fumo? E se ele pudesse plantar sua maconha tranquilamente em casa?”, exemplifica, lembrando que há inúmeras drogas consideradas legais hoje no mercado com maior potencial de dependência. 

“Sem o dinheiro das drogas, inúmeras organizações criminosas no Brasil acabarão, e as que sobrarem e migrarem para outras atividades, como roubo de carga e sequestros, serão combatidas com muito mais facilidade”, avalia, citando que, pela legalização, o dinheiro que sustenta o crime organizado poderia ser convertido em impostos e investimentos em educação, saúde etc.

(Carol Menezes/Diário do Pará)

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