Apenas nos quatro primeiros meses desse ano já foram registrados mais de 38 mil ocorrências de furto e roubo na região metropolitana de Belém, segundo a Secretaria de Estado de Segurança Pública e Defesa Social (Segup). Isso significa que a cada dia cerca de 320 pessoas são vítimas desses crimes. Além da perda material, fica o trauma psicológico e a sensação de medo e impunidade àqueles que já passaram por esse tipo de situação.

Nilson Cardoso, por exemplo, é proprietário do Tacacá do Nilson, um famoso ponto de comidas típicas na rua Roso Danin com Francisco Monteiro, bairro Canudos. Com 25 anos nesse empreendimento, ele coletou amizades, história e clientela fiel. O que ele nunca imaginava é que ali também sofreria com assalto. 

O caso foi na noite do último sábado (05), em horário de pico de movimento, às 20h. Pelo menos 30 clientes estavam no local quando quatro homens em duas motocicletas se aproximaram e anunciaram o assaltos, todos armados. Levaram celulares, dinheiro e carteiras de clientes, além de levar toda a quantia que havia no caixa do estabelecimento, e depois fugiram. 

Segundo o proprietário, uma viatura da Polícia Militar chegou a ir depois no local averiguar a situação, mas depois disso nunca mais teve retorno. O Tacacá do Nilson fica a apenas um quarteirão de um quartel da PM, mas isso não inibiu os criminosos nem garantiu que eles fossem pegos após o ocorrido.

“A gente não tem segurança nenhuma. Temos o quartel aqui perto e vemos viaturas passando, mas, mesmo assim, nada foi feito”, denuncia. E esse não foi a primeira vez que houve assalto por ali. 

Há aproximadamente um ano, a residência de Nilson, que fica quase ao lado do estabelecimento, também já foi assaltada. Pela madrugada, homens encapuzados cortaram os quatro cadeados do portão da casa e levaram 33 cadeiras de alumínio e 12 cadeiras de plástico. “Na época, perdi uns 2 dias resolvendo os procedimentos na delegacia para ver se recuperava algo, mas não deu em nada. Por isso, não tenho esperança de que desta vez vá resolver algo também”, disse, desanimado.

O autônomo Amilton Rodrigues, de 82 anos, está desesperançado com a situação de insegurança na Grande Belém, que obriga cidadãos de bem a viver por detrás de grades e cadeados, como prisioneiros da omissão das autoridades competentes. (Foto: Mauro Ângelo/Diário do Pará)

Agora, o sentimento é de medo. No domingo seguinte, ele e a família foram trabalhar com receio. Na segunda-feira, preferiram ficar de portas fechadas. “Não sei se os clientes vão voltar. É triste a situação em que Belém se encontra. A gente cumpre todas nossas obrigações, faz tudo direito, mas tem de estar o tempo todo sobressaltado”, lamenta Nilson Cardoso.

OUTRO CASO, EM PADARIA, CAUSOU PÂNICO EM MORADORES DE BAIRRO CONSIDERADO "NOBRE"

No mesmo dia, pela manhã, outro caso de assalto chocou. Desta vez, foi em frente à padaria Delicidade na avenida Gentil Bittencourt, esquina com a 14 de março, bairro Nazaré, local considerado privilegiado da capital. Um empresário Joel Bitar, presidente da Associação Libanesa Paraense, e um amigo foram abordados e roubados. Na manhã de segunda-feira (08), um agente da Polícia Federal teve a arma roubada por três bandidos, bem em frente da Superintendência do órgão no Pará. Ele estava chegando para trabalhar quando foi abordado.

Pelas ruas de Belém, as pessoas andam sobressaltadas. Mesmo dentro de casa ou no seu próprio comércio, o medo não passa. Tem de ficar o tempo todo atento e atrás de grades. Uma comerciante da rua Fernando Guilhon, bairro Cremação, já mora ali há quase 50 anos e recorda antes era mais tranquilo. “Piorou muito, agora é tanta violência por aqui que a gente tem até medo de falar sobre isso”, declarou. Ela se sente aliviada por nunca ter sofrido nenhum assalto no local, mas já ouviu diversos relatos de conhecidos por toda a capital.

O autônomo Amilton Rodrigues, 82 anos, se sente desacreditado em relação à insegurança na cidade. Ele lamenta a situação na qual Belém se encontra e cobra das autoridades uma resposta. “Nossos governantes não estão dando conta do recado. Os bandidos fazem o que querem. Lembro que antigamente a gente andava de noite tranquilo. Agora, não podemos nem ficar na porta de casa”, apontou.

(Alice Martins Morais/Diário do Pará)

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